Baby Doc, ex-ditador do Haiti: 4 cidadãos já entraram com processo contra Duvalier (Allison Shelley/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 08h58.
Porto Príncipe - O ex-ditador Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier (1971-1986) planeja permanecer no Haiti, onde espera ser eleito presidente, após regressar a Porto Príncipe há três dias depois de 25 anos no exílio, em um momento em que o país está mergulhado em uma crise política e humanitária.
"Precisamos agitar as coisas de maneira que as eleições sejam anuladas e novas eleições organizadas para que Duvalier possa concorrer", afirmou à AFP Henry Robert Sterlin, um ex-embaixador haitiano na França.
Depois, "bingo!", será reeleito, acrescentou Sterlin, que se apresentou como porta-voz de Duvalier.
"Ficará no Haiti para sempre, em seu país. E participará da política. É seu direito. Um político nunca morre", garantiu à AFP, por sua vez, Reynold Georges, um dos advogados de Duvalier.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) disse que o primeiro turno das eleições para eleger o sucessor do presidente René Préval, realizado no dia 28 de novembro, foi minado por irregularidades e fraudes.
A OEA recomendou em um relatório enviado às autoridades haitianas que o candidato governista Jude Célestin se retire da corrida presidencial em benefício de Michel Martelly, para que ele dispute o segundo turno com a ex-primeira-dama Mirlande Manigat.
Se as eleições não forem canceladas para permitir a candidatura de Duvalier, o ex-embaixador Sterlin apresentou um segundo cenário, sugerindo que Martelly poderia ser eleito.
"Se Préval mantiver Célestin no segundo turno, o país entrará em chamas", advertiu Sterlin. Por isso, Préval se verá obrigado a "aceitar a volta de Martelly ao processo eleitoral".
"Se houver um segundo turno, então Martelly poderia assumir o poder", antecipou o ex-embaixador, acrescentando que o grupo de Duvalier "não teria problemas com o senhor Martelly".
O regresso de "Baby Doc" ao Haiti causou uma grande surpresa, após 25 anos de exílio na França, quando o país tenta recuperar-se do terremoto de janeiro de 2010, que deixou mais de 225 mil mortos e está afundado em uma crise política desencadeada após o primeiro turno das eleições.
Na terça-feira, Duvalier foi levado à justiça haitiana, onde foi indiciado por corrupção e desvio de fundos públicos durante seu governo. "Baby Doc" assumiu o poder com 19 anos, em 1971, após a morte de seu pai, François "Papa Doc" Duvalier. "Papa Doc" foi eleito presidente em 1957, e em 1964 inaugurou uma ditadura.
Como seu herdeiro, "Baby Doc" se desfez da oposição, ordenou medidas drásticas contra os dissidentes e embolsou parte dos fundos do Estado mais pobre da América.
A polícia secreta leal à família Duvalier, conhecida como os "Tonton Macoutes", é acusada de ter sequestrado, torturado e executado mais de 30 mil opositores durante as décadas de 1960 e 1970.
Georges acusou Préval de ser o responsável pelas acusações de corrupção contra seu cliente.
"Os fatos prescreveram. Não podemos voltar a estas coisas, está defendido pela lei. Isto é perseguição", afirmou o advogado.
Nesta quarta-feira, quatro haitianos entraram com quatro processos contra o ex-ditador por suposta tortura, exílio forçado e prisões arbitrárias, cometidos durante os 15 anos que passou à frente do poder, disse uma ex-porta-voz da ONU.
A jornalista Michèle Montas, ativista e ex-porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, informou que apresentaram queixas formais contra "Baby Doc" por "detenção arbitrária, exílio forçado, destruição de propriedade privada, tortura e violação moral dos direitos civis e políticos".
Duvalier é considerado por organizações de defesa dos direitos humanos culpado pela morte de milhares de opositores.
No entanto, apesar destas acusações, o ex-ditador tem a intenção de permanecer no Haiti "para sempre", onde sua antiga casa está sendo reformada para uma mudança iminente da família Duvalier.
Desde seu regresso a Porto Príncipe, Duvalier limitou-se a dizer que voltou "para ajudar" os haitianos após o terremoto que devastou o país há um ano.
Segundo Georges, o ex-ditador tem um passaporte vigente do Haiti e não está proibido de sair do país.