Soldado de Nagorno-Karabakh carrega armas pela região, em 2016, um dos piores momentos do conflito (Vahan Stepanyan/AFP)
Fabiane Stefano
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 12h49.
Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 22h15.
Ao menos 60 pessoas morreram em 24 horas de combates no território Nagorno Karabakh, no Azerbaijão, de acordo com balanços anunciados nesta segunda-feira, 28, em meio aos temores da explosão de uma guerra aberta entre Baku e Yerevan.
A Turquia anunciou apoio total ao Azerbaijão, o que levou a Armênia, que apoia os separatistas, a acusar o país de interferência política e militar no conflito. O Azerbaijão perdeu o controle de Nagorno Karabakh após o colapso da União Soviética e depois de uma guerra que deixou 30.000 mortos, concluída com um cessar-fogo assinado em 1994.
Os combates que começaram no domingo, os mais violentos desde 2016, provocaram inquietação internacional e levaram ONU, Rússia, França e Estados Unidos a pedir um cessar-fogo imediato. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que a escalada de combates é "muito preocupante" e que "nenhuma interferência externa é aceitável".
O Ministério da Defesa de Nagorno Karabak, província separatista do Azerbaijão habitada em sua maioria por armênios, anunciou nesta segunda-feira a morte de 28 soldados, o que eleva a 59 o número de baixas militares da região desde o início das hostilidades.
Sete civis azeris e dois civis armênios de Karabakh também faleceram. Desde domingo, ao menos 68 pessoas morreram nos confrontos.
Até o momento, o Azerbaijão não anunciou eventuais baixas militares. Mas o balanço pode ser mais grave, já que os dois lados afirmam ter infligido centenas de baixas ao adversário, divulgando em particular imagens de blindados destruídos.
Baku afirma ter matado 550 soldados inimigos e Yerevan alega ter eliminado mais de 200. O Ministério da Defesa de Nagorno Karabakh anunciou que reconquistou posições perdidas no domingo. Ao mesmo tempo, o Azerbaijão afirmou que conquistou mais territórios.
As Forças Armadas "atacam as posições inimigas com foguetes, artilharia e aviação. Tomaram várias posições estratégicas nos arredores da localidade de Talych. O inimigo recua", afirmou o Ministério da Defesa do Azerbaijão. Nos últimos anos, o governo de Baku destinou parte importante da receita obtida com petróleo à compra de armamento.
Após várias semanas de retórica bélica, o Azerbaijão anunciou uma "contraofensiva" em resposta ao que chamou de "agressão" da Armênia. O país utiliza artilharia, blindados e aviões contra a província controlada pelos separatistas armênios.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o inimigo histórico de seu país de ter declarado "guerra ao povo armênio", enquanto o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu "vitória".
O presidente da autoproclamada República de Nagorno Karabakh, Arayik Harutyunyan, afirmou que a "Turquia, não o Azerbaijão" combate contra o território separatista. "Há helicópteros, F-16, tropas e mercenários de diferentes países", disse.
Moscou, que mantém relações cordiais com os dois beligerantes e é considerado um árbitro regional, tem mais proximidade com a Armênia, que integra a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar dominada pela Rússia.
Todos os esforços de mediação para solucionar o conflito fracassaram e os dois países travaram um combate na fronteira norte em julho, os atos mais violentos desde 2016 e que provocaram o temor de desestabilização na região.
Os dois estados decretaram lei marcial e a Armênia uma mobilização geral. O Azerbaijão impôs um toque de recolher em parte do país, incluindo a capital Baku.