Líbia: o exército dos Estados Unidos realizou, pelo menos, dois ataques aéreos no país (Esam Omran Al-Fetori / Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2016 às 16h12.
Uma intervenção militar internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Líbia começa a se concretizar, apesar de a formação de um governo de união nacional naquele país ainda ser esperada por todos.
O general Donald Buluc, comandante das forças especiais dos Estados Unidos na África, surpreendeu esta semana os militares e político europeus ao reconhecer ao Wall Street Journal que havia sido criado em Roma um "centro de coordenação" de intervenção da coalizão.
"Estamos esperando a formação de um governo na Líbia, não se trara de uma 'sala de guerra'", reagiu o italiano Domenico Rossi, vice-ministro da Defesa em sua conta no Twitter.
No entanto, os preparativos já começaram e a Itália, antiga potência colonial, prepara-se para coordenar as ações.
"Estamos coordenando a formação das forças de segurança e a estabilização da Líbia, que vão operar quando um governo for formado na Líbia", indicou a ministra italiana da Defesa, Roberta Pinotti, em uma audiência na semana passada perante o Parlamento.
A operação está em andamento "há várias semanas", reconheceu o ministro das Relações Exteriores, Paolo Gentiloni, durante uma visita a Nova York esta semana.
"O planejamento e coordenação já avançaram bastante", assegurou.
Informações sobre o assunto têm-se multiplicado em Paris, Londres e Roma, confirmando que membros das forças especiais francesas, americanas e britânicas já se encontram na Líbia.
De acordo com fontes da imprensa destes países, os soldados não estão envolvidos em operações militares com as forças lideradas pelo general Khalifa Hafter, leal ao governo de Tobruk, ou Fajr Libia, a coalizão de milícias islâmicas que se tornou o braço armado do governo que não é reconhecido internacionalmente e que está baseado em Trípoli.
Sua missão é estabelecer contato com as forças no terreno, avaliar a situação, criar uma rede de inteligência e, talvez, armas e meios de comunicação.
Além dos numerosos voos de reconhecimento realizados até o momento, o exército dos Estados Unidos realizou, pelo menos, dois ataques aéreos na Líbia, incluindo um em 19 de fevereiro contra um acampamento do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), perto de Sabratha, que causou 50 mortes e que provavelmente matou um dos líderes da organização.
Forma urgente
Enquanto isso, o porta-aviões francês Charles de Gaulle se dirige para o Mediterrâneo, oficialmente para exercícios militares conjuntos com o exército egípcio.
Em Sabratha, um comandante do grupo leal à coalizão Fajr Libia assegurou que soldados britânicos chegaram em Misrata para fazer contato com as milícias.
De acordo com ele, está prestes a começar uma campanha militar para expulsar o grupo EI de Sirte.
A comunidade internacional está preocupada com a crescente presença de jihadistas em Sirte. O grupo conta com entre 3.000 e 5.000 combatentes, incluindo centenas de tunisianos, sudaneses e iemenitas, além de nigerianos do Boko Haram.
"É preciso atuar de forma urgente", admitiu Gentiloni em Nova York, recordando "os erros do passado", fazendo uma alusão à intervenção precitada francesa, americana e britânica na Líbia durante a rebelião de 2011.
O EI criou raízes na Líbia tirando proveito do caos que engole o país desde a revolta que depôs Muammar Khaddafi em 2011, com o apoio militar de países como França, Estados Unidos e Grã-Bretanha.
A Itália considera indispensável que a nova intervenção tenha a aprovação da ONU, e que seja feito um pedido ao governo internacionalmente reconhecido da Líbia.
"Nós precisamos de ter um aliado no terreno", explicou na quarta-feira à AFP um funcionário do ministério da Defesa dos Estados Unidos.
Por enquanto, o governo de Tobruk rejeita qualquer operação que não tenha o seu consentimento, enquanto Trípoli disse tratar toda a intervenção como uma "invasão estrangeira".
A única coisa clara é que ninguém quer enviar um grande número de tropas terrestres.
Uma intervenção para ocupar militarmente a Líbia "é impensável, absurda, não foi considerada e está excluída", garantiu Pinotti.
Para alguns observadores, os ataques aéreos "não são suficientes" e "é necessário" que tropas terrestres, nacionais ou internacionais, sejam envolvidas, conforme solicitado pelo embaixador da Líbia na França, Alshiabani Abuhamoud.