Hospital do Texas, nos Estados Unidos, onde a enfermeira Nina Pham está internada com ebola (Mike Stone/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2014 às 17h08.
Washington - Autoridades de Saúde americanas enfrentaram, nesta quinta-feira, o duro questionamento de congressistas furiosos com a resposta acidentada à epidemia de ebola, enquanto o governo Obama tem demonstrado dificuldades em conter a disseminação da doença.
O diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs), Thomas Frieden, tornou-se o alvo mais proeminente das críticas, que subiram de tom depois que veio à tona a notícia de que uma segunda trabalhadora de Saúde no Texas, infectada com a doença, foi liberada para embarcar em um voo comercial, apesar de ter reportado febre baixa.
Alguns legisladores pediram a renúncia de Frieden, e outros acusaram o presidente Obama de falta de liderança.
Enquanto isso, líderes do Congresso reivindicam que se proíba a viagem aos Estados Unidos de todos os cidadãos de países do oeste da África, mais afetados pela epidemia: Guiné, Libéria e Serra Leoa.
"Os riscos nesta batalha não poderiam ser maiores", disse Tim Murphy, que preside o Subcomitê da Câmara de Representantes para a Supervisão de Comércio e Energia, a uma audiência lotada, na qual estavam Frieden e especialistas em Saúde.
"A confiança e a credibilidade da administração e do governo estão minguando à medida que o público americano perde confiança a cada dia, com as falhas demonstradas na estratégia atual", acrescentou.
Repetindo as palavras de outros legisladores de alto perfil, como o presidente da Câmara, John Boehner, e o senador Marco Rubio, Murphy disse ter a "preocupação contínua de que autoridades da administração ainda se recusem a considerar quaisquer restrições a viagens" de pessoas do oeste da África ingressando nos Estados Unidos.
Alguns especialistas e legisladores alertaram que isolar o oeste da África poderia pressionar ainda mais seus recursos sanitários.
Frieden e outras autoridades admitiram não saber ainda como as enfermeiras de Dallas, que trataram de um paciente liberiano infectado com o vírus, contaminaram-se, chamando atenção para a falta de habilidade do governo em evitar sua disseminação.
Mas Frieden insistiu em que autoridades podem manter o vírus sob controle no país.
"Permanecemos confiantes em que o ebola não é uma ameaça significativa à saúde nos Estados Unidos", declarou ao painel.
"A doença não é facilmente transmitida e não se dissemina a partir de pessoas que não estão doentes", continuou.
- 'As pessoas estão em pânico' -
Mas o documento não deu muito conforto aos preocupados congressistas.
"As pessoas estão em pânico. Precisamos dos esforços de todos. Precisamos de uma estratégia", alertou o presidente do Comitê de Comércio e Energia do Congresso, Fred Upton.
"As vidas das pessoas estão em risco, e a resposta até agora tem sido inaceitável", continuou.
Alguns advertiram, no entanto, para os perigos de se despertar histeria no público.
"Precisamos colocar tudo isso em perspectiva, e não entrar em pânico", disse ao painel o congressista democrata Henry Waxman.
A Casa Branca reforçou que Obama, que cancelou eventos políticos na quarta e na quinta-feira a fim de coordenar a resposta ao ebola, mantém a confiança em Frieden.
A atual epidemia de ebola já matou quase 4.500 pessoas, sobretudo, na África Ocidental, embora Frieden tenha alertado que essa número "pode estar substancialmente subnotificado".
Enquanto os legisladores insistiam em que não há espaço para equívocos, erros na gestão do ebola pipocam nos Estados Unidos desde que o liberiano Thomas Eric Duncan foi tratado no Texas.
"Infelizmente, cometemos erros em nosso tratamento inicial ao senhor Duncan, apesar das nossas melhores intenções e da equipe médica altamente experiente", admitiu Daniel Varga, diretor clínico dos Serviços de Saúde do Texas, que administram o hospital onde Duncan deu entrada.
'Nunca se falou sobre ebola' no hospital
Uma enfermeira que tratou de um dos missionários doentes acusou o Hospital Presbiteriano do Texas de falhar em preparar adequadamente sua equipe para lidar com casos de ebola antes da chegada de Duncan.
"Nós nunca falamos sobre ebola e, provavelmente, deveríamos tê-lo feito", declarou a enfermeira Brianna Aguirre ao programa "Today", da emissora NBC.
"Eles ofereceram um seminário opcional. Informação apenas, nada de mãos à obra", acrescentou. "Nunca nos disseram o que devíamos procurar", prosseguiu.
Para aumentar as inquietações, os CDCs permitiram que uma trabalhadora sanitária que foi exposta a um paciente com ebola viajasse em um avião comercial, depois de apresentar febre baixa.
Agora, o governo estuda uma proibição de viagens em casos como esse, declarou uma fonte à AFP.
Autoridades americanas começaram nesta quinta-feira a fazer triagem para o ebola no aeroporto Dulles, em Washington; O'Hare, em Chicago; e nos aeroportos de Newark e Atlanta, seguindo o exemplo do JFK, em Nova York, que iniciou as triagens na semana passada.
Juntos, os aeroportos recebem 94% dos viajantes de países afetados pelo ebola.
Frieden afirmou que as duas contaminações em solo americano demonstram a necessidade de se "reforçar os procedimentos para protocolos de controle da infecção".
"É como combater um incêndio florestal: deixe para trás uma brasa incandescente, um caso indetectado, e a epidemia poderá reiniciar", comparou.
O diretor do Instituto Nacional de Doenças Alérgicas e Infecciosas, Anthony Fauci, disse que a primeira pessoa a contrair ebola nos Estados Unidos, Nina Pham, encontra-se em condição "estável" e será transferida para os Institutos Nacionais de Saúde, em Maryland, para receber tratamento.