As novas autoridades líbias também anunciaram que entregarão o corpo de Kadhafi a seus parentes (Mahmud Turkia/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2011 às 11h57.
Misrata - O corpo do ex-dirigente líbio Muamar Kadafi, morto na quinta-feira em Sirte, em circunstâncias ainda confusas, foi submetido a uma necropsia neste domingo, anunciou Fathi Bashaga, porta-voz do Conselho Militar de Misrata.
"A necropsia foi realizada esta manhã. Não estava previsto. Mas Trípoli pediu e quisemos fazer as coisas corretamente", declarou Bashaga à AFP.
"A autópsia foi concluída, mas o relatório ainda não foi informado por escrito, por isso ainda não foi informado sobre a causa da morte", acrescentou.
Segundo vazamentos, os legistas teriam determinado que um disparo matou Kadafi quando ele tentava fugir na quinta-feira de sua cidade natal de Sirte.
Uma necropsia também foi realizada no sábado no o corpo de Muatassim Kadafi, um dos filhos do ex-líder, capturado junto ao pai.
Segundo um jornalista da AFP presente no local, era possível identificar pontos cirúrgicos no corpo de Muatassim, mas não sinais de ter sido submetido a uma necropsia.
A captura e morte de Kadafi têm sido alvo de questionamentos, mas o Conselho Nacional de Transição (CNT) nega as suspeitas de que ele teria sido executado e assegura que ele foi vítima do fogo cruzado com as forças líbias.
Anteriormente, as novas autoridades líbias anunciaram que entregarão o corpo de Kadafi a seus parentes no local de seu enterro.
"Foi tomada a decisão de entregá-lo aos parentes, já que nenhum membro de sua família próxima está presente neste momento", informou Ahmed Jibril, conselheiro do CNT.
"O CNT está em consulta com a família Kadafi. Depende da família decidir onde Kadafi vai ser enterrado", acrescentou.
Jibril, que é conselheiro do novo regime interino do premiê Mahmud Jibril, não quis revelar quando a transferência será realizada.
Desde quinta-feira Kadafi teve seu corpo exposto num frigorífico do mercado de Misrata, onde atraiu multidões com uma disposição mórbida de ver seu ex-líder morto.
Um jornal revelou neste domingo que mercenários sul-africanos foram recrutados para ajudar Kadafi a fugir de Sirte, mas o plano falhou quando seu comboio foi atacado.
Cerca de 20 mercenários deviam acompanhar Kadafi até o Níger, segundo o jornal Rapport, que assegura ter conversado com um deles.
Esse mercenário se chamaria Deon Odendaal, que, segundo Rapport, conseguiu fugir e se encontra atualmente internado num hospital do norte da África. Odendaal classificou a tentativa de tirar Kadafi de Sirte de "fracasso total".
Quando o comboio foi atacado por aviões da Otan, Kadafi e alguns de seus guardas se esconderam em tubulações próximas, enquanto que os mercenários fugiam em todas as direções, segundo seu relato.
"Foi algo horrível, horrível", recordou.
Sobre os últimos momentos de Kadafi, depois de ser encontrado na tubulação, contou: "Ele gritava como um porco".
Apesar de ao menos dois sul-africanos terem sido mortos na operação, asseguro que a maioria de seus companheiros conseguir se salvar porque os soldados líbios afirmaram que não podiam disparar contra estrangeiros. E, inclusive, os ajudaram a fugir.
O ministério sul-africano das Relações Exteriores não quis comentar estas informações.
"São rumores", limitou-se a comentar o porta-voz Clayson Monyela. "Além disso, os mercenários não teriam utilizado canais oficiais, de forma que não temos como verificar essas alegações de maneira independente", completou.
No aspecto política, as novas autoridades líbias vão proclamar neste domingo a "libertação total" do país, abrindo caminho para a formação de um governo encarregado de administrar a transição.
O anúncio será feito em Benghazi, antiga capital da rebelião iniciada em fevereiro.
O CNT esperava a tomada de Sirte, último reduto pró-Khadafi, para declarar a libertação total do país, condição sine qua non para o início das negociações para formar um governo de transição.
Segundo o mapa do caminho publicado em setembro, o CNT prevê a formação de um governo de transição um mês depois, no máximo, do anúncio da libertação.
O governo prevê organizar em oito meses a eleição de uma Assembleia Nacional que designará um comitê encarregado de redigir uma nova Constituição, e organizará eleições num prazo máximo de um ano.
As múltiplas disputas dentro do CNT podem complicar as negociações para formar um novo governo. No grupo convivem liberais e islamitas, com tensões regionais, rivalidades tribais, ambições individuais e pelo controle do petróleo.