Mundo

Autoridades ajudam a abafar episódio da advogada infiltrada no governo

Procurador-geral da República e ministro da Justiça não fazem o que se espera deles: investigar por que a história não é devidamente esclarecida

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tranquilizou ministro Dias Toffoli sobre o conteúdo do depoimento  (Antônio Cruz/ABr)

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tranquilizou ministro Dias Toffoli sobre o conteúdo do depoimento (Antônio Cruz/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2012 às 11h23.

Há duas semanas, VEJA revelou que os ministros Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, e Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, agiram em sintonia com a máfia que desviou mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos. Em depoimentos prestados ao Ministério Público e à Polícia Federal, a advogada Christiane Araújo de Oliveira contou que, durante anos, manteve relações estreitas com ambos e usou essa intimidade para conseguir levar à frente ações de interesse da quadrilha para a qual trabalhava.

Apesar da gravidade das acusações, registradas há mais de um ano em um arquivo de vídeo e outro de áudio, na ocasião nenhum procedimento de investigação formal foi aberto para apurar a denúncia. Pior que isso: uma parte do material -- o áudio original no qual a advogada narra aos policiais os detalhes de seus encontros com as autoridades do governo e as atividades paralelas derivadas desses encontros -- pode ter sido propositalmente escondida para evitar constrangimentos ao governo.

No áudio até agora desaparecido, Christiane conta detalhes, muitos deles sórdidos, a respeito do período em que conseguiu se infiltrar no governo a pedido da máfia. Entre muitas histórias impressionantes, a advogada confirma que, em 2009, entregou ao então advogado-geral da União, Dias Toffoli, material gravado clandestinamente que incriminava opositores do governo -- versão confirmada em depoimento prestado recentemente à Polícia Federal por Durval Barbosa, o chefe da quadrilha, que fez um acordo de delação premiada com a Justiça.

Dias Toffoli nega que tenha recebido qualquer documento das mãos da advogada. Em conversas com colegas do STF, o ministro relatou que está sendo vítima de calúnia e que teria recebido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a garantia de que não há nada nos depoimentos que o comprometa. Não é um comportamento apropriado para quem deveria zelar pelo interesse público: melhor seria se o procurador se empenhasse em descobrir por que as revelações da advogada ficaram escondidas por tanto tempo.

Na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, voltou a afirmar que “a suposta gravação informal (áudio) não consta de nenhum procedimento instaurado pela PF”. O ministro não esclarece coisa alguma. O áudio desaparecido tem seis horas de conversa e existem algumas cópias dele guardadas, inclusive com pessoas da própria polícia. O ministério daria uma boa contribuição à Justiça se ajudasse a esclarecer por que o depoimento da advogada foi -- e permanece -- escondido na Diretoria de Inteligência da Polícia Federal.

Mas, ao que parece, não é esse o objetivo. Na mesma nota, o ministro negou que tivesse recebido e visto o vídeo no qual a advogada explica suas relações com Gilberto Carvalho. Cardozo, inclusive, chegou a relatar o conteúdo do material a um assessor da presidente Dilma Rousseff, segundo fontes do Palácio do Planalto. Estranho o comportamento do procurador-geral da República. Estranho o comportamento do ministro da Justiça.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCorrupçãoDados de BrasilEscândalosFraudes

Mais de Mundo

Torre Eiffel é evacuada devido a incêndio e curto-circuito em sistema de elevadores; veja vídeo

Novas autoridades sírias anunciam acordo para dissolução dos grupos armados

Porto de Xangai atinge marca histórica de 50 milhões de TEUs movimentados em 2024

American Airlines retoma voos nos EUA após paralisação nacional causada por problema técnico