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Autores de atentados na Espanha preparavam ataque maior

A polícia admitiu que o massacre que deixou 14 mortos, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), poderia ter sido muito pior

Barcelona: a Polícia identificou os corpos de três dos cinco mortos na operação de Cambrils (Stringer/Reuters)

Barcelona: a Polícia identificou os corpos de três dos cinco mortos na operação de Cambrils (Stringer/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de agosto de 2017 às 19h42.

Os supostos autores dos ataques na Catalunha (nordeste da Espanha), preparavam atentados de maior envergadura, mas tiveram que optar pelos atropelamentos maciços que deixaram 14 mortos e 120 feridos, informou nesta sexta-feira a Polícia catalã, que identificou os corpos de três jovens marroquinos abatidos em Cambrils.

Ao anunciar os resultados das investigações, o delegado-chefe da polícia regional da Catalunha, Josep Lluis Trapero, afirmou que o principal suspeito, o motorista que jogou a van contra uma multidão em Barcelona, pode estar entre os cinco supostos terroristas mortos pelas forças de segurança na madrugada desta sexta em Cambrils, 120 km a sudoeste de Barcelona.

A Polícia identificou os corpos de três dos cinco mortos na operação de Cambrils. São Moussa Oukabir, Said Aallaa e Mohamed Hychami, respectivamente de 17, 18 e 24 anos, todos marroquinos e moradores de Ripoll, no norte da região.

Um quarto suspeito, Younes Abouyaaqoub, de 22 anos, ainda está sendo procurado.

Trapero declarou em entrevista à regional TV3 que entre os doze suspeitos de envolvimento nos ataques estão os cinco mortos em Cambrils e quatro pessoas detidas.

Os quatro detidos, um em Alcanar e o restante em Ripoll, são três marroquinos e um espanhol nascido no enclave de Melilla, com idades entre 21 e 34 anos, todos sem antecedentes relacionados com o terrorismo.

Os outros três suspeitos foram identificados, mas não detidos. A Polícia suspeita que dois podem ter morrido na explosão em uma casa em Alcanar, 200 km ao sul de Barcelona, onde supostamente o grupo preparava bombas. Ainda não há informações sobre a terceira pessoa.

Os dois atentados seguiram o mesmo modus operandi, com motoristas que jogaram deliberadamente seus veículos contra os pedestres, no último ataque desse tipo na Europa, duramente condenado pelos líderes mundiais.

Menos de 24 horas depois dos ataques, um país consternado viu uma manifestação excepcional: o rei Felipe VI, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e seu contraparte catalão, Carles Puigdemont, junto a milhares de cidadãos, observaram ao meio-dia desta sexta um minuto de silêncio em Barcelona, em homenagem às vítimas, seguido de um longo aplauso aos gritos de "no tinc por" ("não tenho medo" em catalão).

A avenida Las Ramblas, uma concorrida via de pedestres onde ocorreu o atropelamento, ficou colorida em memória das vítimas, com altares improvisados com flores e velas e cartazes com dizeres como "Las Ramblas choram, mas estão vivas".

"Barcelona e Las Ramblas devem continuar sendo um símbolo de paz e de acolhida", disse à AFP Cristina Olivé, uma enfermeira barcelonesa.

O clima comemorativo ficou tenso brevemente na tarde desta sexta, quando cerca de 20 manifestantes de extrema direita tentaram protestar nas Ramblas aos gritos de "chega de mesquitas", mas foram vaiados pelos presentes com gritos de "fora fascistas".

Massacre maior

O massacre, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), poderia ter sido muito pior, admitiu a Polícia.

"A tese com que estamos trabalhando é que já estavam se preparando há algum tempo nos arredores do domicílio de Alcanar", um município 200 km ao sul de Barcelona onde, na noite de quarta, ocorreu uma explosão, afirmou o comissário-chefe da Polícia catalã.

A explosão na casa onde supostamente eram preparados explosivos evitou atentados de maior envergadura, afirmou Trapero.

Foram retirados do local vários botijões de gás, que possivelmente serviriam para a fabricação de bombas.

Os terroristas precisaram agir "de forma mais rudimentar, seguindo a marca dos outros atentados em cidades europeias", prosseguiu.

Desta forma, atacaram primeiro na quinta-feira em Barcelona, em um horário da tarde em que a avenida Las Ramblas estava cheia de turistas, usando uma van branca que cruzou à toda velocidade atropelando dezenas de pedestres, e matando 13 pessoas.

O motorista abandonou o veículo e saiu correndo. Seu paradeiro ainda é oficialmente desconhecido.

Horas mais tarde, passada a meia-noite local, um Audi A3 atropelou várias pessoas no calçadão marítimo de Cambrils. O carro se chocou contra uma patrulha da polícia regional, que disparou contra os suspeitos.

A Polícia acredita que os dois ataques sejam obra de um grupo de pessoas, vinculadas com a descoberta de quatro veículos e as quatro localidades catalãs no centro das investigações: Barcelona, Cambrils, Alcanar e Ripoll.

Segundo a imprensa espanhola, dos quatro suspeitos procurados três são de Ripoll, uma cidadezinha aprazível no norte da Catalunha.

Pedindo unidade, o chefe de Governo Mariano Rajoy expressou, em Barcelona, que "é muito importante que sejamos capazes de trabalhar juntos, como uma equipe", em uma mensagem velada ao governo separatistas catalão, que anseia separar-se da Espanha.

Histórias trágicas

Enquanto isso, continuavam aparecendo nesta sexta-feira histórias trágicas de famílias atingidas pelos ataques, que deixaram vítimas de pelo menos 35 nacionalidades.

"Desaparecido em Barcelona", diz um post no Facebook de Tony Cadman, que procura seu neto de 7 anos que desapareceu no ataque de Las Ramblas.

Debaixo do texto, a foto mostra um menino sorridente, identificado como Julian Alessandro Cadman, usando um blusão de moletom verde e com o nome de sua creche.

"Encontramos Jom (minha nora) e seu estado é grave, mas estável no hospital, mas o menino ainda não apareceu", continua o post.

Segundo o último boletim, dos 126 feridos nos dois ataques, 61 receberam alta, mas 17 continuam em estado crítico.

Experiência em terrorismo

A Espanha, o terceiro destino turístico mais popular do mundo, tinha estado até então à margem dos recentes ataques extremistas que o EI realizou em França, Bélgica, Alemanha e Reino Unido.

Mas, em 11 de março de 2004, o país foi cenário dos piores atentados extremistas cometidos na Europa, quando várias bombas explodiram em trens na região de Madri e deixaram 191 mortos. Os ataques foram reivindicados pela Al-Qaeda.

A Catalunha tem a maior concentração de islâmicos radicalizados no país, junto a Madri e às cidades de Ceuta e Melilla, enclaves espanhóis no norte do Marrocos.

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