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Autor de relatório questiona decisão sobre sedes de Copas

A Fifa encerrou avaliação de suspeitas de corrupção da escolha das sedes das duas próximas Copas do Mundo, mas o próprio autor da investigação questiona medida


	Fifa: "pretendo recorrer desta decisão", disse Michael Garcia
 (Fabrice Coffrini/AFP)

Fifa: "pretendo recorrer desta decisão", disse Michael Garcia (Fabrice Coffrini/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2014 às 13h23.

Pris - A Fifa deu por encerrada nesta quinta-feira a avaliação das suspeitas de corrupção na escolha das sedes das Copas do Mundo da Rússia-2018 e do Catar-2022 ao divulgar as conclusões sobre o relatório Garcia, mas o próprio autor da investigação considerou a apresentação equivocada.

"A decisão do presidente da Câmara de Julgamento contém várias apresentações incompletas e equivocadas dos fatos e das conclusões detalhadas no relatório", denunciou Michael Garcia num comunicado.

"Pretendo recorrer desta decisão diante do Comitê de Apelação da Fifa", acrescentou o advogado americano, que já foi procurador federal em Nova York.

Mais cedo, o presidente da Câmara de Julgamento da Comissão de Ética da Fifa, Hans-Joachim Eckert, afirmou que o relatório não comprovava corrupção, apesar de apontar atos irregulares, que considerou "de alcance limitado", e "longe de alcançar um nível que implique retornar ao processo, ainda menos reabri-lo".

De acordo com o dirigente, a investigação revelou "alguns fatos que poderiam atentar contra a integridade do processo de atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022", mas não suficientemente graves para colocar em dúvida a atribuição das sedes a Rússia e Catar.

Para Eckert e o Comitê de Ética, "a avaliação do processo de escolha das sedes dos Mundias de 2018 e 2022 está, portanto, concluído", decisão que deixou Garcia inconformado.

Conduta duvidosa

A respeito da escolha do Catar, o relatório Garcia apontou "a conduta duvidosa de duas pessoas" na candidatura, além de lembrar que o país patrocinou a organização do congresso da Confederação Africana (CAF) em janeiro de 2010, no ano da escolha da sede, uma prática que não é proibida pelo regulamento.

"Estávamos confiantes no fato de que uma investigação neutra iria mostrar que o nosso projeto era sólido e não era manchado por nenhuma irregularidade", disse à AFP Hassan Thawadi, presidente do comitê organizador da Copa-2022.

A investigação também abordou o caso do catariano Mohammed Bin Hamman, ex-membro do comitê executivo da Fifa, banido para sempre da entidade em 2012. De acordo com o relatório, os subornos a altos dirigentes da CAF eram relacionados à candidatura de Bin Hamman à presidência da Fifa, em 2011, e não à escolha da sede do Mundial.

No caso da Rússia, a investigação não apontou "nenhuma irregularidade notória", embora o relatório tenha ressaltado que "o comitê de candidatura entregou apenas uma quantidade reduzida de documentos, alegando que os computadores usados na época eram alugados e foram devolvidos ao proprietário, que informou tê-los destruído".

"A campanha fez uma campanha honesta, então não estamos surpresos", afirmou o ministro dos esportes da Rússia, Vitali Mutko, citado pela agência pública Ria Novosti.

Alfinetada

Ex-procurador federal em Nova York, Michael Garcia fez a investigação a pedido da Fifa e entregou o relatório em setembro.

A Câmara de Investigação do Comitê de Ética informou a intenção de abrir procedimentos de investigação contra algumas pessoas.

O texto explica que os investigadores detectaram casos de possíveis violações do Código de Ética, mas não constataram ainda se as violações aconteceram realmente.

No seu comentário, Eckert ressaltou que o relatório Garcia apontou práticas contestáveis em quase todas as candidaturas para sediar as Copas, inclusive a da Inglaterra, um dos países que mais criticou a escolha do Catar para a edição de 2022.

O relatório apontou relações entre o comitê de candidatura inglês e Jack Warner, que foi vice-presidente da Fifa e renunciou ao cargo após ser acusado de corrupção.

"Fizemos uma candidatura transparente e não aceitamos nenhuma crítica sobre a nossa integridade", reagiu a Federação Inglesa no seu site, lembrando sua "plena cooperação" com as investigações.

Presentes

Apenas a candidatura conjunta de Holanda e Bélgica seria isenta de qualquer irregularidade.

A investigação apontou que o Japão, por exemplo, distribuiu a membros do Comitê executivo da Fifa e às suas esposas presentes cujo valor foi avaliado de 700 a 2.000 dólares.

O relatório nunca foi publicado, apesar dos pedidos do próprio Garcia, que estranhou a falta de transparência da Fifa no dia 24 de setembro.

Para justificar o fato, o presidente da entidade, Joseph Blatter, alegou que a publicação poderia comprometer a confidencialidade de testemunhas.

Já Eckert disse em outubro que "publicar este relatório na íntegra colocaria a comissão de ética da Fifa e a Fifa como um todo numa situação jurídica muito delicada".

Muitos dirigentes do futebol mundial haviam pedido a publicação do relatório, como o presidente da Uefa, Michel Platini, ou o jordaniano Ali Bin Al Hussein, vice-presidente da Fifa.

Além de suspeitas sobre o processo da escolha da sede, numa eleição conturbada organizada em 2010, a Copa do Mundo de 2022 continua gerando muita polêmica por causa das altas temperaturas no Catar, que podem chegar a 50 graus nos meses de junho em julho, em que a competição costuma ser organizada.

Para 'driblar' este problema, a Fifa deu a entender várias vezes que pretendia levar a realização do torneio para o inverno, em novembro-dezembro ou janeiro-fevereiro, em que a temperatura é mais amena.

O Catar também precisa responder as denúncias de trabalho escravo na construção dos estádios da Copa.

"Independente do relatório, ainda restam alguns questionamentos continuam em aberto, em termo de clima, de programação e de condições de trabalho no Catar", lembrou Wolfgang Niersbach, presidente da federação alemã.

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