Alemanha: a tragédia, que a chanceler alemã Angela Merkel classificou de "atentado terrorista", fez 12 mortos e 48 feridos (Getty Images)
AFP
Publicado em 20 de dezembro de 2016 às 13h14.
A polícia de Berlim indicou nesta terça-feira que não tem certeza do fato de que o único detido pelo atentado de segunda-feira contra uma feira de Natal, um requerente de asilo paquistanês, seja o autor do ataque sangrento.
"Na verdade não é certo que se trate do motorista", reconheceu à imprensa Klaus Kandt, sugerindo que o verdadeiro responsável poderia estar foragido.
"O suspeito nega os fato", tuitou paralelamente a polícia, pedindo para que a população permaneça vigilante.
A tragédia, que a chanceler alemã Angela Merkel classificou de "atentado terrorista" e que fez 12 mortos e 48 feridos, traumatizando o país e aumentando a polêmica sobre sua política de imigração, lembra, pelas circunstâncias, o ataque com caminhão em 14 de julho na cidade costeira francesa de Nice (86 mortos).
O suspeito é "a priori paquistanês. Ele chegou na Alemanha, em Saint Sylvestre, em 31 de dezembro de 2015, e foi registrado antes de ir para Berlim em fevereiro", havia afirmado durante a tarde o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière.
"Ele nega o crime. A investigação continua", acrescentou o ministro, indicando que o ataque ainda não foi reivindicado.
Mas uma fonte anônima na polícia de Berlim assegurou ao jornal Die Welt: "Temos o homem errado".
"O verdadeiro atacante ainda está foragido e armado e pode causar mais danos", acrescentou a fonte.
Segundo a polícia, uma testemunha do atentado teria ajudado na prisão do suspeito paquistanês perto de um parque. O homem teria corrido cerca de dois quilômetros atrás do suposto atacante, mantendo uma distância segura do mesmo. Durante a perseguição, ele manteve contato por telefone com a polícia, indicando a localização do suspeito até a avenida que leva ao Portão de Brandeburgo.
Enquanto a investigação foi confiada à procuradoria de combate ao terrorismo, a polícia realizou buscas nesta terça-feira em um dos principais centros de refugiados de Berlim, no antigo aeroporto de Tempelhof, informou vários meios de comunicação alemães.
Antes de surgirem as dúvidas da polícia, Angela Merkel considerou "que para nós seria particularmente difícil de suportar se for confirmado que este ato foi cometido por uma pessoa que pediu proteção e asilo na Alemanha".
Logo após o ataque, Angela Merkel recebeu uma enxurrada de críticas sobre sua política de imigração generosa.
"Estes são os mortos de Merkel", denunciou em sua conta no Twitter um dos líderes do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AFD), Marcus Pretzell. "A Alemanha não é mais segura" face "ao terrorismo do Islã radical", acrescentou outro membro da AFD, Frauke Petry, questionando a decisão do chanceler de abrir as portas do país em 2015 para quase 900.000 refugiados que fugiam da guerra e da pobreza, originários principalmente do mundo muçulmano. Aproximadamente 300.000 chegaram em 2016.
A tragédia ocorreu perto da Igreja Memorial, monumento da capital alemã com seu campanário destruído pelos bombardeios na Segunda Guerra Mundial. O caminhão foi evacuado na terça de manhã.
"Eu só vi este enorme caminhão preto que cruzou o mercado e atropelou muitas pessoas, então todas as luzes se apagaram e tudo estava destruído", relatou uma turista australiana, Trisha O'Neill.
"Havia sangue e corpos por toda parte", incluindo de crianças e idosos, acrescentou.
"Nós vimos pessoas sendo transportadas em ambulâncias, uma e outra vez, e parecia não ter fim", declarou outra turista, Sabrina Glinz, ao canal britânico Sky News.
O balanço preliminar do drama era de pelo menos 12 mortos e 48 pessoas hospitalizadas, algumas em estado crítico. Nenhuma indicação foi dada sobre a identidade das vítimas.
Um deles, encontrado na cabine do caminhão, foi "morto com um tiro", e poderia ser o verdadeiro motorista do caminhão de quem o atacante teria roubado, de acordo com um porta-voz do ministério regional do Interior.
As reações de solidariedade se multiplicaram, da França aos Estados Unidos, enquanto a Europa tem sido alvo frequente de ataques reivindicados por grupos extremistas islâmicos.
O presidente russo, Vladimir Putin, se disse "chocado" com a "brutalidade e o cinismo" do ataque.
O uso de veículos, especialmente caminhões, para atropelar multidões de "infiéis" e fazer o máximo possível de vítimas é uma tática defendida pelos grupos extremistas.
Em sua revista online Inspire, em setembro de 2014, o grupo da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) escreveu: "A ideia é usar um veículo grande. Você pode usar uma pick-up, a maior e melhor possível. Para causar o máximo dano, você deve dirigir tão rápido quanto possível, mantendo o controle do veículo para obter o máximo de inércia e poder atropelar tantas pessoas quanto possível".
A Alemanha havia sido até agora poupada de ataques jihadistas de grande magnitude, mas vários ataques islâmicos foram recentemente cometidos por indivíduos isolados.
O EI reivindicou dois ataques em julho, que deixaram vários feridos, um com bomba e outro com uma faca, cometidos por um sírio de 27 anos e por um requerente de asilo de 17 anos, provavelmente afegão.