Julia Gillard: segundo a premiê, o governo do país destinará US$ 5,2 milhões ao atendimento das vítimas para permitir o acesso aos registros de adoção (©AFP / Bay Ismoyo)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 10h31.
Sydney - A primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, pediu desculpas nesta quinta-feira pelas adoções forçadas que foram realizadas entre as décadas de 50 e 70, quando as mães solteiras eram pressionadas a entregar seus filhos à adoção.
"Hoje este Parlamento, em nome do povo australiano, assume a responsabilidade e pede desculpas pelas políticas e práticas que forçaram uma separação entre as mães e seus bebês, fato que deixou um legado de toda uma vida de dor e sofrimento", afirmou Julia.
Diante da emoção de algumas das 800 vítimas que participaram do ato em Canberra, a primeira-ministra australiana lamentou o que essas mães não tenham tido acesso à informação necessária sobre seus direitos, o que possibilitaria que essa decisão fosse tomada de forma consciente.
"Deram-lhes falsas garantias, foram forçadas a suportar a coerção e a brutalidade de umas práticas desonestas, sem ética e, em muitos casos, ilegais", completou Julia.
Aproximadamente 150 mil recém-nascidos foram separados de suas mães - a maioria solteira - por hospitais, agências de adoção e organizações religiosas por uma prática adotada pelas autoridades e pelo puritanismo de uma época que estigmatizou estas mulheres.
Muitas delas foram dopadas, atadas às camas de hospital e forçadas a assinar os papéis de adoção sem poder ver seus filhos, que eram entregues a outros pais e, em muitos casos, sem documentos.
"Estas desculpas são feitas de boa fé e com profunda humildade", declarou a primeira-ministra da Austrália, que qualificou o gesto como um "profundo ato moral de uma nação que mexe em sua consciência" e tem a coragem de pedir perdão pela atitude "soberba" de uma sociedade que ostentava saber o que era melhor para essas mulheres e seus bebês.
A primeira-ministra australiana também pediu desculpas às pessoas que foram entregues à adoção e que sofreram abusos sexuais no seio de suas famílias adotivas ou orfanatos.
Segundo Julia, o governo do país destinará US$ 5,2 milhões ao atendimento das vítimas para permitir o acesso aos registros de adoção, além de US$ 1,6 milhão para uma exposição nos Arquivos Especiais.
O líder da oposição conservadora, Tony Abbott, também discursou para se desculpar antes que a moção fosse aprovada pelas duas câmaras legislativas, mas acabou ofendendo vários presentes no ato ao utilizar o termo "pais biológicos".
"Honramos os pais biológicos, incluindo os pais que sempre amaram seus filhos", afirmou Abbott, que também reconheceu os esforços dos "pais adotivos" em meio a uma grande vaia do público.
Pouco antes do ato, a diretora da Aliança pelas Desculpas, Christine Cole, que foi obrigada a entregar seu deu à adoção em 1969, afirmou que "hoje é um dia histórico" para ela e para todas aquelas que trabalharam por décadas para obter tal reconhecimento.
O pedido de desculpa oficial vem à tona depois que uma investigação do Senado australiano revelasse que entre 1951 e 1975 foram realizadas mais de 150 mil adoções, embora se desconheça com exatidão quantos bebês foram vítimas de adoções forçada.
Este reconhecimento do dano causado à chamada "geração branca roubada" ocorre depois que, em 2008, o então primeiro-ministro, Kevin Rudd, pedisse desculpas à "geração roubada", na qual 100 mil crianças aborígines foram separados de suas famílias entre 1910 e 1970. EFE