Alemanha e Reino Unido são dois poucos países que não esperam queda nas vendas (Oli Scarff/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2010 às 15h47.
Paris - As medidas de austeridade, tomadas para combater a crise econômica, têm levado os europeus, afetados diretamente no bolso e preocupados com o emprego, a assumir prudência na hora de comprar seus presentes de Natal.
Este efeito é particularmente espetacular em países como Grécia, Irlanda e Portugal, os mais suscetíveis à pressão pelos mercados inquietos pelo nível de suas dívidas. Mas a austeridade afeta a maior parte da União Europeia, da Espanha ao Reino Unido, passando pela França.
A redução de salários, os cortes nos serviços sociais e as perdas de emprego estão corroendo o poder aquisitivo dos consumidores.
"Sentimos, de fato, uma certa insegurança por parte dos consumidores. São mais prudentes em suas compras. As pessoas esperam, em geral, ter um pagamento extra (na época de Natal) para fazer suas compras", constata Nuno Camilo, presidente da associação de comerciantes de O Porto (Portugal).
Na Grécia, a Confederação Nacional de Comerciantes (ESEE) destaca o risco de "uma queda brutal do volume de negócios durante as festas de Natal", que representa na maioria entre 20% e 25% das vendas anuais.
"Para estas festas, só tenho um extra de 400 euros no meu salário contra os 1.800 euros que recebi no ano passado", explicou Nikos P., funcionário de uma empresa pública.
Na Irlanda, a confederação patronal IBEC espera também "uma baixa das vendas de Natal".
Neste país, com grande tradição natalina, "as pessoas estão preparadas, gastarão um pouco menos, mas conservarão o essencial", disse Torlach Denihan, presidente da organização patronal "Retail Ireland".
"É também uma ocasião para esquecer um pouco as preocupações", acrescentou. Os irlandeses continuarão "comprando bombons para o Natal, porém mais baratos".
Na Espanha, que tem o índice de desemprego mais elevado da zona do euro (20%), as despesas no Natal cairão 7,4%, segundo estudo da Federação de Usuários-Consumidores Independentes (FUCI).
"Durante os três últimos anos, o consumo caiu 24%. Isto mostra o estrago que a crise provoca em muitas famílias que têm que reduzir ainda mais suas despesas durante as festas para chegarem ao fim do mês", disse a presidente da FUCI, Agustina Laguna.
A austeridade afeta também a tradicional loteria de Natal, cujas vendas de boletos caíram 9%.
Os italianos também se mostram prudentes, marcados pela incerteza econômica e pelo medo de perder o trabalho, segundo uma pesquisa publicada pela associação patronal Confesercenti. No Natal, os italianos vão gastar 5,84 bilhões de euros, procedentes de pagamentos extras, ou seja, 373 milhões a menos que no ano passado.
Na França, as despesas com as festas diminuirão 4%, segundo as previsões do gabinete Deloitte.
Alguns países europeus vivem, no entanto, uma certa melhora: na Alemanha, estima-se que os gastos natalinos vão aumentar 2,5% segundo a federação do comércio HDE.
Na Grã-Bretanha, a temporada se anuncia melhor este ano, segundo dois terços dos comerciantes entrevistados pela confederação patronal CBI. As medidas de austeridade paradoxalmente favorecem as compras, antes da alta do IVA no começo de janeiro.