O presidente francês, François Hollande: multiplicam-se as vozes que pedem que o chefe do Estado solicite autorização do legislativo para uma intervenção (Kenzo Tribouillard/Pool/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2013 às 09h58.
Paris - A crescente rejeição da opinião pública francesa e da oposição a uma intervenção militar na Síria colocou em xeque a decisão do presidente François Hollande de não levar a questão a voto no Parlamento, como ocorreu no Reino Unido e foi proposto nos Estados Unidos.
A dois dias dos parlamentares franceses analisarem em uma sessão extraordinária a postura do país na Síria, que não será submetida à aprovação, multiplicam-se as vozes que pedem que o chefe do Estado solicite autorização do legislativo para uma intervenção.
A Constituição não obriga o Executivo a requerer autorização para envolver o país em uma guerra, mas o exemplo britânico, e a decisão do presidente americano, Barack Obama de buscar o apoio do Legislativo, deixou Hollande, segundo indicou hoje a imprensa francesa, em uma situação "incômoda".
"Seguindo o que fez David Cameron (primeiro-ministro do Reino Unido) e o que propôs Obama, é evidente que deve permitir esse voto. Perante um tema tão grave como uma intervenção armada na Síria é uma necessidade absoluta", disse hoje ao "Le Parisien" o líder no Senado do grupo Europa Ecologia Os Verdes (EELV), Jean-Vincent Placé.
Nos preparativos para o que deverá ser uma sessão tensa, Hollande reuniu ontem seus ministros da Defesa, Jean-Yves Le Drian, das Relações Exteriores, Laurent Fabius, do Interior, Manuel Valls, e das Relações com o Parlamento, Alain Vidalies.
Hoje, o primeiro- ministro, Jean-Marc Ayrault, receberá os líderes dos grupos da maioria e da oposição nas duas casas do Parlamento para defender uma intervenção, que segundo o governo deverá ser "firme e proporcional" e com caráter punitivo e dissuasório.
Nestas reuniões está previsto que se apresentem as provas que incriminam o regime de Bashar al-Assad pelo ataque com armas químicas perpetrado nos arredores de Damasco em 21 de agosto.
Os serviços franceses de inteligência, segundo publicou neste domingo o "Le Journal du Dimanche", têm provas de que o regime sírio possui 1.000 toneladas de armas químicas e agentes tóxicos como gás sarin, mostarda e VX e que usou esse tipo de arsenal no ataque.
Para Hollande, não se trata de "libertar" s Síria ou derrubar Assad, mas de "pôr freio a um regime que comete o irreparável contra sua população" e de "punir uma violação monstruosa dos direitos humanos".
No entanto, o pedido de uma aprovação no Parlamento, ou a consideração de que isto seria aconselhável, chegou da maioria das forças políticas, que segundo a imprensa francesa se veem reforçadas pelo fato de que 64% dos cidadãos se mostram contrários a uma intervenção.
"Tem o direito de não votar, mas está em uma situação tão incerta que dá a impressão de que não há outra opção. Sua fraqueza o obriga a consultar o Parlamento", disse hoje à emissora "BFM TV" a ex-ministra de Ecologia e candidata da União por um Movimento Popular (UMP) à prefeitura de Paris, Nathalie Koscuisko-Morizet.
Oficialmente, a decisão de Obama de solicitar a autorização do Congresso não mudou a determinação do governo francês, mas a imprensa coincidiu hoje de que o presidente americano "montou uma armadilha" e que apesar das várias consultas bilaterais pegou Hollande de surpresa.
E entre o aumento da pressão para que não faça prevalecer sozinho seu poder de chefe de Estado, as dúvidas sobre o direito de intervir chegam inclusive de seu próprio partido.
"Se o Congresso americano se opõe a uma intervenção, a França não vai se comprometer sozinha", afirmou hoje a deputada socialista e presidente da comissão de Defesa da Assembleia Nacional, Patricia Adam.