Theresa May: a premier reconheceu no domingo em entrevista que a economia britânica passará por "momentos difíceis" (Getty Images/Pool)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2016 às 19h07.
As pressões para que o governo britânico defina sua intenções e sua estratégia sobre o Brexit se multiplicaram nesta segunda-feira na cúpula do G20 e em Bruxelas, ante a falta de concreção sobre o processo que deverá ser seguido para abandonar a União Europeia (UE), mais de dois meses depois do referendo.
Em Hangzhou, na China, o otimismo transmitido pela primeira-ministra conservadora, Theresa May, sobre as grandes possibilidades abertas pelo Brexit contrastou com uma acolhida fria por parte dos seus sócios.
Ao mesmo tempo, em Londres, seu ministro encarregado de materializar a saída do Reino Unido da UE foi vaiado pela oposição no parlamento.
May reconheceu no domingo em entrevista à rede de televisão BBC que a economia britânica passará por "momentos difíceis" - e a cúpula do G20 antecipou alguns desses obstáculos que o país deverá enfrentar.
O presidente americano, Barack Obama, propôs a assinatura de um acordo econômico com o Reino Unido até que sejam concluídas as discussões sobre o tratado transatlântico de livre comércio com a UE (TTIP).
Já o Japão advertiu que as suas empresas poderiam abandonar o território britânico no caso de mudanças drásticas, urgindo a Londres que apresente o quanto antes "um quadro completo do processo do Brexit".
Embora a primeira-ministra britânica, que quer transformar o seu país em um "líder mundial do livre comércio", tenha antecipado na segunda-feira uma série de possíveis acordos comerciais, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, advertiu, na véspera, que o país não tem direito a negociar esse tipo de acordos enquanto faça parte da UE.
Terreno desconhecido
O governo britânico quer se orientar para um acordo "específico", diferente dos modelos existentes entre a UE e países como Noruega, Suíça ou Canadá, afirmou May ante seus ministros na semana passada.
Mas, por esse motivo, os futuros sócios de Londres se moverão em terreno desconhecido durante um período que facilmente durará dois anos, o tempo máximo estabelecido para as negociações de saída da UE.
Essa incerteza pesará sobre a economia britânica, mesmo que, em um primeiro momento, o golpe do referendo tenha sido digerido melhor do que o previsto.
A data do início das negociações continua sendo desconhecida - "não antes do final do ano", é a única coisa que May garante cada vez que é perguntada sobre o assunto.
A única certeza se refere à imigração: acabou o livre trânsito de cidadãos europeus. Os eleitores britânicos "querem que sejamos capazes de controlar a circulação de pessoas provenientes da UE", afirmou a primeira-ministra, que anteriormente ocupou o cargo de ministra do Interior.
Mas ainda não se sabe como isso será feito. A caminho do G20, May descartou o uso de um sistema de imigração baseado em pontos, como o utilizado na Austrália, apoiado pelo secretário de Relações Exteriores e defensor do Bexit Boris Johnson, por considerá-lo pouco eficaz.
A UE fez da livre circulação de pessoas uma condição para dar acesso ao seu mercado único, de modo que, logicamente, o Reino Unido será excluído e deverá negociar um novo tipo de acordo comercial com o bloco.
Quando é questionada sobre esse tema, May evita se comprometer, assim como o seu ministro do Brexit, David Davis, ante o parlamento britânico.
Davis apresentou um futuro cor-de-rosa pós-Brexit, afirmando que a UE tem o maior interesse em manter "uma relação comercial o mais livre possível" com o Reino Unido - o que lhe rendeu vaias dos deputados da oposição e críticas ao governo por sua incapacidade para definir uma estratégia de negociação.
Dezenas de partidários do Brexit se manifestaram diante de Westminster para pedir que o governo aja.
O parlamento também deveria debater uma petição on-line assinada por quatro milhões de partidários da permanência na UE pedindo um segundo referendo, embora o debate não possa reverter em nenhum caso o processo do Brexit.