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Ativistas e dissidentes responsabilizam Irã por ataque a Salman Rushdie

País nunca revogou fátua emitida pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1989, que pedia a morte do escritor britânico

Ataque acontece em um momento diplomático delicado para o Irã (AFP/AFP)

Ataque acontece em um momento diplomático delicado para o Irã (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 13 de agosto de 2022 às 16h40.

Defensores da liberdade de expressão e dissidentes acusaram, neste sábado (13), as autoridades iranianas de serem moralmente responsáveis pelo ataque contra Salman Rushdie, pois o Irã nunca revogou a fátua emitida pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1989, que pedia a morte do escritor britânico.

"Independentemente de que a tentativa de assassinato tenha sido ou não ordenada diretamente por Teerã, o que sim é quase certo é que isto é o resultado de 30 anos de incitação, por parte do regime, à violência contra este celebrado autor", disse a União Nacional pela Democracia no Irã (NUFDI, na sigla em inglês), um grupo opositor com sede em Washington.

Durante anos, o discurso político no Irã deixou de lado a fátua emitida por Khomeini em 1989 com base no livro "Os Versos Satânicos", um romance que rendeu a Rushdie a pecha de "apóstata" na República Islâmica.

Contudo, o sucessor de Khomeini, o líder supremo Ali Khamenei, deixou claro nos últimos anos que a ordem segue vigente.

Assim, uma resposta a uma pergunta formulada no site oficial do líder supremo, Khamenei.ir, afirmava, em fevereiro de 2017, que a fátua continuava sendo válida. "Resposta: o decreto se mantém tal como foi emitido pelo imã Khomeini", dizia a mensagem.

Além disso, a conta do líder supremo no Twitter, @khamenei_ir, indicou em 2019 que a fátua era "sólida e irrevogável".

Os defensores da liberdade de expressão acrescentam que também se mantém em vigor uma recompensa de mais de 3 milhões de dólares pela cabeça de Rushdie, oferecida pela Fundação iraniana 15 Khordad.

"Ali Khamenei e outros líderes do regime clerical sempre prometeram cumprir esta fátua anti-islâmica ao longo dos últimos 34 anos", comentou o Conselho Nacional de Resistência do Irã (NCRI, na sigla em inglês), outro grupo opositor proibido no Irã.

Simpatizante da Guarda Revolucionária do Irã

O esfaqueamento de Rushdie em um ato público no estado de Nova York acontece em um momento delicado a nível diplomático para o Irã, que está avaliando uma oferta de várias potências para ressuscitar o acordo de 2015 sobre seu programa nuclear. Tal cenário aliviaria as sanções que pesam sobre a economia iraniana.

A polícia do estado de Nova York prendeu e identificou o agressor como Hadi Matar, de 24 anos, e disse que o motivo do ataque ainda não foi esclarecido.

Uma fonte próxima da investigação disse à emissora NBC que Matar "simpatiza com o extremismo xiita e com a Guarda Revolucionária", sem que, por ora, haja provas concretas de uma relação entre o agressor e essa força iraniana.

Teerã, sob escrutínio dos EUA

As ações do Irã estão sendo acompanhadas de perto por Washington, que, nas últimas semanas, acusou Teerã de elaborar um plano para assassinar o ex-conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e também a dissidente iraniana Masih Alinejad, que vive nos Estados Unidos.

"Desde 1989, há uma fátua de Khomeini contra Salman Rushdie, e a República Islâmica do Irã nunca revogou essa fátua [...] Agora, os patrocinadores da República Islâmica estão louvando o assassinato e me ameaçam com o mesmo destino de Salman Rushdie", comentou a própria Alinejad.

Em seu artigo sobre o ataque, a agência oficial iraniana IRNA apresentou Rushdie como "o autor apóstata" de "Os Versos Satânicos", e lembrou a fátua emitida contra ele.

As autoridades iranianas, por sua vez, não fizeram comentários oficiais até agora. Mohammad Marandi, assessor da equipe negociadora do programa nuclear, escreveu no Twitter que, embora "não derrame lágrimas" por Rushdie, o ocorrido é "estranho" em tempos decisivos para a crise em torno do programa nuclear de Teerã.

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