Brexit: uma grande manifestação é planejada para o dia 20 de outubro em Londres (Toby Melville/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 15h46.
Muitos britânicos estavam evitando se envolver com política até agora, mas a perspectiva de seu país deixar a União Europeia em breve os mobilizou. Há algumas semanas, os britânicos pedem, nas ruas, um segundo referendo sobre o Brexit.
Em Solihull, cidade de 200 mil habitantes no centro da Inglaterra, uma dúzia de militantes dedicou seu último sábado para tentar convencer os habitantes da relevância de sua reivindicação.
"Há um pouco de apreensão porque todos não compartilham meu ponto de vista", reconhece Kevin McLaughlin. "Você tem que estar pronto para receber reações negativas", acrescenta ele.
Nesta área do país, o Brexit obteve 56% dos votos no referendo de 2016, quatro pontos a mais que a média nacional.
É a primeira vez que esse homem de 53 anos participa de uma campanha política. Isso acontece porque ele teme as potenciais repercussões econômicas do Brexit - mesmo que Londres e Bruxelas cheguem a um acordo.
A fabricante de automóveis Jaguar Land-Rover está implementada na cidade, e sua presença beneficia direta ou indiretamente a população local. Mas o grupo ameaçou reduzir seus investimentos no Reino Unido no caso de um Brexit duro, ampliando a preocupação.
A fábrica deve perder centenas de empregos em 2019, quando parte da produção for deslocada para a Eslováquia.
Contudo, apesar da incerteza, poucos transeuntes se interessaram pelos panfletos distribuídos por McLaughlin e seus companheiros. A maioria reage com indiferença, e alguns até com hostilidade.
"Houve uma votação há dois anos, 17,4 milhões de britânicos votaram a favor do Brexit, é o mandato democrático mais importante já dado ao governo", critica Todd Bonehill, de 21 anos, após conversar com um dos militantes.
"Ele me disse que as pessoas não tinham a menor ideia da razão que estavam votando a favor (sair da UE), e sei por que", afirma o jovem que trabalha em uma loja de materiais de construção.
Acostumado com este tipo de comentário, Mark Wheatley, engenheiro informático aposentado, está na resistência. O sexagenário já ia a manifestações antes do referendo de 2016 para defender a permanência na UE. Sua luta, diz ele, é "pelos jovens, que querem poder viajar para a Europa, trabalhar na Europa".
A campanha por um segundo referendo é coordenada, a nível nacional, pela plataforma "The People's Vote" (o voto do povo), que reúne vários coletivos e associações pró-Europa.
O ritmo se acelerou nas últimas semanas. Agora, dezenas de ações são organizadas a cada semana, tendo em vista a grande manifestação planejada em Londres no dia 20 de outubro, cinco meses antes da data marcada para o Brexit, em 29 de março de 2019.
Philip Beyer, integrante local da campanha, já comprou suas passagens de trem. "Na última vez (23 de junho deste ano) havia 100.000 pessoas, desta vez espero que existam pelo menos 250.000, o que poderia fazer as coisas se mexerem", diz ele, ciente de que o movimento deve continuar a crescer para ter peso político.
Um segundo referendo sobre o Brexit não aparece nas agendas dos principais partidos políticos do país.
Entre os conservadores, o núcleo que defende publicamente uma segunda consulta reúne apenas alguns deputados, e o Partido Trabalhista só considera esta possibilidade se uma rejeição eventual acordo parlamentar com Bruxelas não levar à convocação de eleições antecipadas.
Apenas o Partido Liberal-Democrata se posicionou claramente a favor de uma nova votação, mas é uma formação marginal no Parlamento de Westminster.
"Falta muito a fazer", reconhece Beyer. "Espero que, à medida que se aproxime a data (do Brexit), as pessoas reflitam reflexões sobre as consequências e mudem de opção", afirma.