EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2010 às 15h46.
Buenos Aires- Um dos três acessos fronteiriços entre Argentina e Uruguai foi aberto hoje depois bloqueio mantido por ativistas argentinos desde novembro de 2006, em protesto contra a instalação de uma fábrica de celulose de capital finlandês em território uruguaio.
A Assembleia Ambiental da cidade de Gualeguaychú qualificou como "contribuição" o levantamento do bloqueio por 60 dias, enquanto espera que os Governos de Argentina e Uruguai avancem nas negociações sobre o controle ambiental conjunto da fábrica finlandesa UPM (ex-Botnia). No entanto, o grupo advertiu que o protesto "segue de pé".
O levantamento foi estabelecido por uma proclamação lida por ambientalistas no meio da estrada argentina que bloquearam durante quase quatro anos e que leva à ponte San Martín, na fronteira com a cidade uruguaia de Fray Bentos, onde fica a gigantesca fábrica à beira do rio Uruguai, de administração compartilhada.
"Esta trégua não apagará a chama da luta. Nos manteremos ao lado da estrada. Mas queremos confiar no Governo e evitar que, por nossa teimosia, como disse o chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, não se possa avançar nos controles", afirmou à Agência Efe o membro da assembleia José Pouler.
Escoltados por bandeiras de ambos os países e cartazes contra a fábrica de celulose, os ecologistas insistiram em que a central deve ser instalada em outro lugar, que os controles também devem ser feitos "dentro" da UPM e pediram que o Uruguai permita sua entrada no país para divulgar sua posição.
O presidente do Uruguai, "José Mujica, tem a possibilidade de deixar a passagem aberta. (Pedimos) que trabalhe com a presidente Cristina Fernández de Kirchner para assumir um compromisso sério de cuidar do meio ambiente", disseram.
Os ativistas também pediram às autoridades que sejam debatidas as medidas para controlar a passagem de caminhões com produtos para fábrica de celulose, além da divulgação de estudos de universidades argentinas que supostamente mostram que "há poluição" na região por causa da central.
Após cantar o hino argentino e ler o texto, os participantes da assembleia levantaram a barreira que impedia há quase quatro anos a passagem de veículos para o país vizinho.
Os turistas Daniel e Miriam estavam no momento, um casal que viajou de Avellaneda, província de Buenos Aires, para ter "o privilégio histórico" de estarem entre os primeiros a atravessar para Fray Bentos na frente das câmaras de televisão, disseram à agência "Télam".
Logo em seguida, os primeiro carros começaram a passar lentamente pelo acesso, enquanto os ativistas se deslocaram para o lado da estrada.
Na quarta-feira, a assembleia decidiu, por maioria, levantar por 60 dias o bloqueio no acesso a Fray Bentos por causa da fábrica, considerada poluente.
A decisão de levantar o bloqueio voltará a ser revisada no dia 19 de agosto, no final dos 60 dias. A medida foi tomada em meio à pressão exercida pelo processo penal apresentado pelo Governo de Cristina contra os participantes da assembleia por graves crimes, como perturbação da ordem pública, instigação à violência, intimidação pública e interrupção do transporte.
A instalação da fábrica foi motivo do pior conflito em décadas entre os Governos de Buenos Aires e Montevidéu, que nos últimos meses buscaram melhorar a relação bilateral e determinar regras para o controle conjunto do rio Uruguai, como é estabelecido pelo tratado assinado em 1975 pelos dois países.
Cristina e Mujica tentam deixar para trás o conflito depois que, no dia 20 de abril, o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, determinou que não está comprovado que a fábrica polua o meio ambiente, culpou Montevidéu de violar o acordo de administração do rio ao autorizar sua instalação e pediu que as partes façam controles ambientais conjuntos.
No entanto, os ambientalistas disseram hoje que "a decisão não satisfaz".
No marco das negociações, Mujica entrou em contato com o Brasil para que participe do controle ambiental do rio Uruguai, enquanto a Argentina admitiu a possibilidade de que o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva se some aos procedimentos.
Mas, para Pouler, o convite ao Brasil "dilata" o início dos controles, em um assunto que têm que ser resolvido por Argentina e Uruguai, como ordena a decisão" de Haia, acrescentou seu companheiro Raúl Almeyda. EFE