Shigeru Ishiba, premiê do Japão, responde sobre as tarifas de Trump no Congresso do país, em Tóquio (Kazuhiro Nogi/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 7 de abril de 2025 às 12h58.
Última atualização em 7 de abril de 2025 às 13h06.
Cinco dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas contra quase todos os países do mundo, poucos governos confirmaram medidas de retaliação. Apenas China e Canadá o fizeram. A ampla maioria deles adotou a tática de negociar nos bastidores, dizer que estudam medidas e esperar os próximos passos.
A resposta mais dura veio da China, que anunciou tarifas de 34% sobre produtos americanos, na sexta-feira, 4. É o mesmo percentual de taxa que Trump anunciou na quarta, mas ainda abaixo do total de tarifas que ele passou a cobrar, pois antes os EUA haviam taxado a China em 20%. Isso fez o país ter uma tarifa somada de 54% sobre as exportações.
Nesta segunda, Trump retrucou e disse que se a China não recuar do seu plano de aumentar tarifas, ele colocará mais 50% de tarifas adicionais. Com isso, o país seria taxado em 104%.
O outro grande parceiro dos EUA que retaliou medidas foi o Canadá. Na quinta, 3, anunciou tarifas de 25% sobre carros e picapes fabricadas nos Estados Unidos e que não sejam contemplados pelo tratado USMCA.
Em 13 de março, o Canadá havia anunciado outra retaliação: uma tarifa de 25% sobre cerca de US$ 20,7 bilhões em produtos americanos, depois de ser alvo de tarifas de 25% impostas por Trump.
Entre outros grandes parceiros dos Estados Unidos, nenhum deles anunciou retaliações, mas todos dizem que ainda avaliam como responder. Trump disse ter conversado com vários líderes estrangeiros no fim de semana e destacou ter falado com o premiê do Japão.
Nesta segunda, Trump recebe o premiê de Israel, Benjamim Netanyahu, na Casa Branca, e as tarifas cobradas ao país, de 17%, estão na pauta das conversas.
O Brasil, taxado em 10%, até agora não anunciou nenhuma medida. Os dois países negociam formas de evitar as tarifas e melhorar as relações, incluindo a possibilidade de abrir mais mercados aos produtos americanos.
"Não é um cenário definitivo. A própria medida sinaliza o espaço para que essas tarifas possam tanto crescer ou reduzir, individualmente com cada país, a depender do resultado dos engajamentos dos Estados Unidos com esses países", disse Abrão Neto, CEO da Amcham (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos). "É um cenário que se movimenta em ritmo diário."
A Amcham tem sido uma das principais entidades que atuam junto ao governo brasileiro para ajudar nas negociações tarifárias com o governo americano. Abrão conta que, entre os temas negociados, estão minerais críticos, propriedade intelectual e comércio eletrônico.
O governo do Reino Unido, alvo de taxa de 10%, abriu uma consulta com empresas sobre possíveis medidas retaliatórias, para definir quais produtos deveriam ser incluídos nelas. A consulta será feita até 1º de maio. O ministro de Empresas e Comércio, Jonathan Reynolds, disse ver espaço para um acordo com os EUA, mas disse que o país poderá tomar medidas se isso não ocorrer.
A União Europeia, alvo de 20% de taxas, disse preparar uma resposta. "Estamos nos preparando para novas contramedidas para proteger os nossos interesses e os nossos negócios se as negociações falharem", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A Casa Branca tem descartado um adiamento de tarifas, mas ainda há tempo para mudanças. As tarifas recíprocas extras, acima de 10%, entrarão em vigor na quarta-feira, 9.
Em anúncios anteriores, Trump já agiu nas duas direções. Ele adiou medidas contra Canadá e México após os países se comprometerem com medidas como reforçar a segurança na fronteira. Em março, após a União Europeia ameaçar aumentar taxas sobre produtos americanos, como uísque, o republicano disse que taxaria vinhos e champanhes europeus em 200%. A medida foi suspensa após a UE recuar.