As agências possuem informações sobre os suspeitos antes das ações, mas só conseguem juntar todas as peças do mistério após muitas vidas terem sido perdidas (Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2015 às 11h04.
SÃO PAULO - Os ataques desta semana na França, realizados por radicais islâmicos armados, mostraram os limites da espionagem e das agências antiterrorismo, que geralmente possuem informações sobre os suspeitos antes das ações, mas só conseguem juntar todas as peças do mistério após muitas vidas terem sido perdidas.
Os ataques de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, e uma série de ações na Europa e em outras regiões do mundo são exemplos de como o maior problema tem sido fazer as conexões necessárias a partir de intermináveis dados disponíveis.
“Quando algo muito ruim acontece, a primeira coisa que você faz é checar todas as bases de dados”, afirmou o general norte-americano aposentado Michael Hayden, ex-diretor da CIA e da NSA (National Security Agency). “Invariavelmente, você tem alguma coisa nas suas bases. É inevitável.”
Bruce Riedel, ex-analista da CIA, afirmou: “O problema para a inteligência e os serviços de segurança franceses é que há muitos cidadãos foram à Síria, ao Iraque ou a outros lugares para se juntar à jihad (guerra santa) e depois voltaram ao país. E não dá para monitorar todos 24 horas por dia”.
“Se eles não violarem lei alguma, os serviços de inteligência do mundo democrático não podem prendê-los oi segui-los constantemente somente porque você é um fanático islâmico”, afirmou Riedel.
“Na maioria dos casos, os serviços de inteligência não conseguem antever quando um fanático passa de um pensador radical a um violento terrorista”, acrescentou.
As agências de inteligência norte-americana e francesa classificaram Said e Cherif Kouachi há vários anos como prováveis terroristas de prioridade muito alta, disseram autoridades europeias e dos EUA. Os irmãos são os principais suspeitos do ataque à revista semanal satírica Charlie Hebdo, em Paris.
Os nomes de ambos estavam no TIDE, uma base de dados secreta com 1,2 milhões de pessoas que os EUA consideram suspeitos de terrorismo, e na menos ampla lista de restrição de voo, que os impedia de embarcar em aviões para os Estados Unidos ou dentro do país, disseram duas autoridades norte-americanas.
Eles foram classificados como alvos de vigilância de alta prioridade após Cherif ter se envolvido em um grupo que recruta franceses para um braço da Al Qaeda no Iraque. Já Said viajou para o Iêmen em 2011 para treinar com a Al Qaeda.
Mas as autoridades, que não quiseram se identificar, disseram que os franceses pararam de vigiar de perto os Kouachis após eles terem diminuído suas atividades militantes nos últimos anos.