A sala de concertos Crocus City Hall em chamas após um ataque, 22 de março de 2024 em Krasnogorsk, um subúrbio de Moscou. (AFP/AFP)
Redação Exame
Publicado em 23 de março de 2024 às 11h46.
Última atualização em 23 de março de 2024 às 14h12.
O grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou a autoria de um ataque a tiros em uma casa de shows de Moscou, na noite de ontem, 22, que deixou pelo menos 113 mortos.
O espaço, chamado Crocus City Hall, que tem capacidade para cerca de 7 mil espectadores, pegou fogo em meio ao ataque. Segundo um repórter da agência Ria Novosti, pessoas em uniformes táticos invadiram a casa de shows e abriram fogo antes de lançar uma granada ou uma bomba incendiária, provocando um incêndio.
"As pessoas que estavam na sala se jogaram no chão para se proteger dos disparos por 15 ou 20 minutos e muitos conseguiram sair rastejando", disse o repórter. O ataque ocorreu durante um show da banda de rock russa Piknik, cujos integrantes foram retirados do local a salvo.
O complexo Crocus City Hall é um dos principais espaços de lazer de Moscou. Inclui um shopping center, outra casa de shows, para 1,5 mil pessoas, hotéis, restaurantes e um supermercado. O local recebeu o concurso Miss Universo, em 2013, e é um dos principais espaços de espetáculos de Moscou. O espaço pertence à família Agalarov, que tem proximidade com o presidente Vladimir Putin.
O Estado Islâmico e a Rússia se consideram inimigas pois, o governo de Vladimir Putin é apoiador do ditador da Síria, Bashar Al-Assad. Há exatos cinco anos, o Estado Islâmico perdeu o seu último território na Síria, a vila de Al-Baghouz.
O ataque em Moscou foi feito pelo Estado Islâmico-K, braço afegão do grupo, e a autoria foi confirmada através do canal do Telegram. Este foi o pior atentado na Rússia em 20 anos.
Surgido em meados de 2014, o Estado Islâmico do Khorasan tem como base ex-integrantes de um grupo igualmente radical, o Tehrik-i-Taliban, “Movimento dos estudantes”, do Paquistão, presente em áreas de fronteira entre Paquistão e Afeganistão e que mantém uma relação marcada por altos e baixos com o Talibã.
O Estado Islâmico considera a Rússia como inimiga porque o governo de Vladimir Putin apoia o ditador sírio Bashar Al-Assad, que expulsou a organização terrorista da Síria.
A facção segue um modelo similar ao de outras células — chamadas de províncias — do Estado Islâmico pelo mundo: uma relativa independência da liderança do grupo, baseada na Síria e no Iraque, e levando em consideração fatores regionais. O K vem da província histórica de Khorasan, que abrange partes do que hoje são Irã, Afeganistão, Paquistão e de outras nações da Ásia Central.
O Isis-K sempre foi visto como prioritário para as lideranças do Estado Islâmico. Desde o início, recebeu apoio logístico, financeiro e até moral: são inúmeros os vídeos de combatentes do Estado Islâmico na Síria e Iraque saudando a criação do Isis-K.
Sua estratégia de recrutamento era igualmente agressiva, buscando adeptos em áreas rurais e urbanas, sempre com promessas de dinheiro — muitas vezes oferecendo maços de notas de dólar e euro — e um discurso contra o Talibã. Muitas das lideranças do Isis-K viam a milícia como “apóstata”, considerando que eles não aplicavam de forma correta os preceitos do Islã e que se mostravam abertos a conversas com os EUA . Por outro lado, muitos reclamavam da brutalidade do Estado Islâmico, que queimaram grandes áreas de cultivo de papoula, principal fonte de renda de muitos camponeses e do próprio Talibã.
A crise entre os extremistas explodiu em junho de 2015, quando comandantes do Talibã enviaram uma carta ao líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, exigindo que suspendesse a campanha de recrutamento no Afeganistão e alegando que só havia espaço para “uma bandeira” na luta para restabelecer um emirado islâmico.
Não houve acordo, e semanas depois o Isis-K passaria a controlar a província de Naranghar, no Leste afegão, e áreas em Helmand e Farah, agora com combatentes recrutados localmente e outros vindos de países da região, como o Uzbequistão. Mas essa fase expansionista duraria pouco, e o grupo foi parcialmente dizimado por bombardeios dos EUA, em 2016, recuando para posições isoladas e perdendo um grande número de integrantes, agora de volta às linhas do Talibã.
Além dos combates, o Isis-K realizou, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, centenas de ataques contra posições do governo afegão pró-Ocidente e contra civis, deixando um rastro de horror até mesmo na capital, Cabul.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse neste sábado, 23, que foram tomadas novas medidas de segurança em todo o país e insinuou que a Ucrânia teria relação com o ataque a uma casa de show nas periferias de Moscou. A principal agência estatal de investigação da Rússia afirma que o número de mortos no ataque já soma 133.
Putin disse que as quatro pessoas que participaram diretamente do ataque foram detidas e insinuou que estavam tratando, em sua fuga, de cruzar a fronteira com a Ucrânia. Não respaldou sua afirmação com provas.