(Ford Williams/Courtesy U.S. Navy)
Gabriela Ruic
Publicado em 7 de abril de 2017 às 13h00.
Última atualização em 7 de abril de 2017 às 18h00.
São Paulo – Os Estados Unidos realizaram a sua primeira ofensiva militar contra o exército da Síria na noite desta quinta-feira ao bombardear a base aérea de Al-Shayrat, província de Homs. O movimento foi uma resposta ao suposto ataque químico conduzido pelo regime de Bashar Al-Assad no início da semana em Khan Sheikhun, em Idlib, e que matou ao menos 86 pessoas.
O ataque americano aconteceu na base de onde os aviões em tese responsáveis pelo massacre químico teriam decolado. Segundo o Pentágono, essa base é, ainda, o local no qual o governo sírio estaria armazenando essas armas. 59 mísseis foram lançados pelos EUA do Mar Mediterrâneo às 21h40 (horário de Brasília).
A confirmação dessa ação foi feita ontem pelo presidente americano Donald Trump. De sua residência na Flórida, disse que os EUA são “sinônimo de justiça” e convocou as “nações civilizadas” para que se unam contra “o massacre” na Síria. Desde 2011, o país vive uma guerra que já deixou mais de 300 mil mortos e gerou um fluxo de mais de 4 milhões de refugiados.
Na manhã desta sexta-feira, as repercussões dessa ação militar começam a se delinear e a ONU convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança nesta tarde para debater o episódio. Veja abaixo como se posicionaram os atores envolvidos nesse conflito, a comunidade internacional e organizações de direitos humanos.
Internamente, a ação de Trump recebeu o apoio de parlamentares democratas e republicanos. Muitos, contudo, cobraram do presidente que consulte o Congresso americano antes de tomar quaisquer medidas contra a Síria, especialmente as ações militares.
O comando do exército da Síria rechaçou a ação militar americana contra a sua base aérea e segue afirmando não ter tido qualquer responsabilidade sobre o uso de armas químicas contra civis. Ao todo, o ataque deixou 9 mortos e dezenas de feridos.
Para as autoridades sírias, ao bombardear o regime de Assad, os EUA fortaleceram o grupo extremista Estado Islâmico, que tenta estabelecer um califado na Síria e Iraque, e o Frente de Conquista do Levante (ex-Frente Al-Nusra que já foi ligado à rede Al Qaeda).
Agora, o governo promete realizar “a maior ofensiva” contra os rebeldes e disse que os americanos foram convencidos a agir depois de terem sido “inocentemente convencidos por uma campanha falsa de propaganda”.
Moscou também condenou o ataque, o classificando como uma agressão a um Estado soberano e violação de direito internacional, e anunciou nesta manhã a suspensão de um acordo firmado com os EUA no qual os países coordenavam suas ações militares na Síria.
Acusa, ainda, o governo Trump de usar o episódio para desviar a atenção da situação em Mosul (Iraque), onde o exército americano lidera uma ofensiva contra o EI e tenta retomar o controle da cidade.
Aliado de Assad, o país também nega que o regime sírio disponha de armas químicas.
O Irã, por sua vez, “condena energicamente” o bombardeio.
Um dos principais grupos rebeldes que tentam derrubar Assad emitiu um comunicado no qual celebrou o ataque americano. “A responsabilidade ainda é grande e não termina com essa operação”, pontuou. Teme, contudo, que a resposta de Assad seja direcionada aos civis.
O gabinete do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, se manifestou nessa manhã em apoio ao governo Trump e reforçou a sua posição por “esforços diplomáticos” para resolver a crise no país. “O ataque em Idlib nesta semana e o sofrimento dos sírios são crimes de guerra inaceitáveis”, pontuou sobre o suposto uso de armas químicas pelo regime Assad.
No Oriente Médio, Jordânia e Arábia Saudita, aliadas de longa data dos EUA, também apoiaram a ação. A Jordânia classificou a ação do país como “necessária e apropriada”, enquanto os sauditas elogiaram o que chamaram de “decisão corajosa” de Trump.
O governo da conservadora Theresa May apoiou os EUA completamente e classificou o ato como “resposta apropriada ao ataque bárbaro com armas químicas cometido pelo regime sírio”.
Angela Merkel e François Holland divulgaram um comunicado conjunto no qual atribuíram ao governo Assad “plena responsabilidade” pela resposta americana.
Aliada dos rebeldes que lutam contra Assad, a Turquia enxergou o ataque como positivo e nota que Assad tem de ser punido “no plano internacional”. Além disso, o país cobrou a criação de uma zona de exclusão aérea na Síria que possa proteger a população de novos bombardeios.
Uma das organizações humanitárias mais ativas na Síria, a Cruz Vermelha classificou o conflito no país como “conflito armado internacional”. Sem se posicionar exatamente sobre a ação militar, a entidade lembrou que, à luz do Direito Humanitário Internacional, todo conflito, interno ou externo, deve observar a proteção de civis e instalações médicas.