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Ataque aéreo atinge forças turcas na Síria

Segundo autoridades turcas, o exército turco sofreu baixas em massa em um ataque que pode mudar drasticamente o curso da guerra síria

Noroeste da Síria: Famílias sírias se abrigam em tendas de acampamento improvisado (Khalil Ashawi/Reuters)

Noroeste da Síria: Famílias sírias se abrigam em tendas de acampamento improvisado (Khalil Ashawi/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 21h05.

Extremistas e rebeldes recuperaram, nesta quinta-feira (27), uma cidade estratégica na província de Idlib, um revés para o governo de Bashar al-Assad em sua ofensiva contra a região do noroeste do país em guerra.

Apesar do contra-ataque de seus adversários, as forças do governo, auxiliadas pela Rússia, retomaram 20 cidades e vilarejos em outras partes da província, relata o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Segundo o NY Times, pelo menos 22 soldados turcos foram mortos, disse Rahmi Dogan, governador da província de Hatay, no sul, onde as vítimas turcas estavam chegando. As notícias que citam as mensagens nas redes sociais e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um grupo de monitoramento de guerra, elevam o número de mortos turcos a 34.

Sete civis, incluindo três crianças, também morreram em ataques sírios e russos na província.

Desde dezembro, mais de 400 civis faleceram, de acordo com o OSDH, e cerca de 950.000 pessoas - mais da metade delas crianças - foram deslocadas, conforme a ONU.

A Rússia, por seu lado, acusou a Turquia de violar um acordo de distensão em Idlib com o uso de artilharia e drones em apoio a grupos rebeldes.

"Em violação aos acordos de Sochi na zona de distensão de Idlib, o lado turco continua apoiando grupos armados ilegais com fogo de artilharia e o uso" de drones contra tropas sírias, informou o Ministério da Defesa russo.

Os confrontos são quase diários entre soldados turcos e forças sírias. Na quinta-feira, o Ministério da Defesa turco anunciou a morte de nove soldados em um ataque aéreo, seis a mais que o divulgado anteriormente. Já para o OSDH, o total de vítimas fatais entre as fileiras turcas seria de 34.

Por conta desta ação, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, convocou para esta quinta-feira um conselho de segurança local extraordinário sobre a situação no noroeste da Síria, segundo a imprensa turca.

Erdogan presidiu a reunião convocada tarde da noite, de acordo com as redes NTV e CNN-Türk.

Discussão no Conselho de Segurança

Membros ocidentais do Conselho de Segurança da ONU pediram nesta quinta-feira um "cessar-fogo" na região de Idlib, sem obter o apoio da Rússia, que insistia em sua disposição de "expulsar terroristas". do país".

"O deslocamento de cerca de um milhão de pessoas em apenas três meses, o assassinato de centenas de civis, o sofrimento diário de centenas de milhares de crianças devem cessar", disse o vice-primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, em comunicado conjunto.

"Um cessar-fogo é essencial", além de "acesso humanitário completo", acrescentaram os dois políticos, cujos países, membros não permanentes do Conselho de Segurança, são responsáveis pelo aspecto humanitário da guerra na Síria.

Os Estados Unidos, França, Reino Unido e Estônia pediram uma "cessação imediata das hostilidades", segundo as palavras do embaixador francês Nicolas de Rivière.

O embaixador russo na ONU, Vasili Nebenzia, considerou que o Conselho de Segurança dedica muitas reuniões à Síria, com os mesmos discursos ocidentais.

"A única solução a longo prazo é expulsar terroristas do país", afirmou.

"Terroristas e combatentes estrangeiros" são "grandes obstáculos" à paz na Síria, disse o vice-embaixador chinês Wu Haiteo, que defendeu "a eliminação de redutos terroristas".

Anteriormente, Ursula Mueller, vice-chefe do Departamento de Assuntos Humanitários da ONU, havia considerado que a situação "no noroeste da Síria excedia a imaginação".

"Humanamente, é intolerável", acrescentou.

Conquista de Saraqib 

Os rebeldes entraram esta manhã em Saraqib, uma cidade do leste de Idlib, de acordo com um correspondente da AFP que os acompanha. A cidade foi abandonada pelos habitantes, e a destruição é enorme.

Os insurgentes se espalharam pela cidade. Enquanto isso, explosões eram ouvidas da periferia, onde rebeldes e jihadistas enfrentavam as forças de Assad.

Saraqib, que havia sido reconquistada pelas tropas de Damasco em 8 de fevereiro, está no entroncamento de duas rodovias que o governo deseja controlar para consolidar seu domínio no norte do país.

Ao retomar a cidade, jihadistas e rebeldes bloqueara a rodovia M5 que une a capital à cidade de Aleppo (norte).

O OSDH informou que "jihadistas e rebeldes" recuperaram Saraqib e que a Rússia está lançando ataques aéreos nos arredores da cidade.

Em Damasco, a agência de notícias oficial Sana relatou "confrontos violentos" entre o Exército e "grupos terroristas no eixo de Saraqib".

Sana acusou as forças turcas que apoiam alguns rebeldes de ajudá-los militarmente, o que também foi relatado pelo OSDH.

Embora apoiem partes rivais, militares e diplomatas da Rússia e da Turquia planejam discutir em Ancara o conflito na Síria.

Mais da metade de Idlib e algumas áreas das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia estão sob o controle do grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-facção síria da Al-Qaeda), com a presença de alguns grupos rebeldes.

Em sua ofensiva, o regime reconquistou dezenas de cidades e vilarejos nesse reduto e, nesta quinta-feira, continuava seu avanço no sul de Idlib.

Batalha difícil 

Para alguns especialistas, porém, a batalha de Yisr al-Shughur pode ser difícil para Damasco, já que a cidade é dominada pelos jihadistas do Partido Islâmico do Turquestão (TIP), cujos membros pertencem principalmente à minoria muçulmana uigur da China.

Com o apoio da Rússia, do Irã e do Hezbollah libanês, o governo sírio multiplicou suas vitórias nos últimos anos e já controla mais de 70% do país.

Deflagrada em março de 2011 pela repressão às manifestações, a guerra na Síria se tornou mais complexa com a intervenção de atores regionais e internacionais, além de grupos extremistas. Desde então, deixou mais de 380.000 mortos.

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