O prédio do Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Staff/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2015 às 20h12.
A maior associação de psicólogos dos Estados Unidos ajudou o Pentágono e a CIA a elaborar as diretrizes éticas que validaram os métodos de interrogatórios posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001, segundo um documento divulgado.
Alguns membros da American Psychological Association (APA), incluindo alguns diretores, queriam "ganhar favores" dos funcionários da Defesa, explica o relatório de 542 páginas encomendado pelo atual conselho diretor da APA.
Essas pessoas publicaram diretrizes ética que se alinharam com os métodos de interrogatório aprovados pelo governo depois de 11 de setembro de 2001, e denunciados como tortura, como o chamado submarino e a privação de sono.
A associação se uniu a vários organismos estatais, incluindo o Pentágono e a Agência Central de Inteligência (CIA), para elaborar diretrizes éticas para o programa de interrogatórios elaborado pela administração do ex-presidente George W. Bush, segundo o documento.
"As agências governamentais supostamente queriam diretrizes éticas de modo que seus psicólogos pudessem continuar participando nos severos e abusivos interrogatórios que essas agências realizavam após o 11/9", assegura o informe.
"O principal motivo da APA para agir desta maneira foi garantir favores do departamento de Defesa. Mas houve outros dois importantes motivos: criar uma boa resposta de relações públicas e manter o ilimitado crescimento da psicologia nesse âmbito".
As conclusões do relatório ocorrem depois que legisladores democratas da comissão de Inteligência do Senado difundiram em dezembro um texto recriminatório no qual são detalhados os métodos empregados nos interrogatórios, desconhecidos até então, que incluíam golpes e reidratação retal, usados pela CIA contra os suspeitos de pertencem à Al-Qaeda.
APA pede perdão
Segundo o relatório, o diretor da APA para questões éticas, Stephen Behnke, trabalhou com um psicólogo militar para elaborar os comunicados públicos sobre a política da organização e também assinou um contrato com o Pentágono para treinar os interrogadores.
O documento afirma que não comunicou ao conselho da APA que estava treinando equipes do departamento de Defesa.
Em resposta às conclusões do documento, a APA - a maior organização de psicólogos do país - disse na sexta-feira que revisará suas políticas e pediu que seus psicólogos sejam proibidos de participar diretamente em interrogatórios.
"O propósito da organização não foi permitir que fossem aplicados métodos abusivos de interrogatórios ou contribuir para violar os direitos humanos, mas estes foram os resultados", disse Nadine Kaslow, que preside a comissão investigadora independente à qual o informe foi encomendado.
"Lamentamos profundamente, e pedimos perdão pela conduta e as consequências que teve".
A investigação independente, que durou sete meses, foi conduzida pelo promotor David Hoffman do escritório jurídico Sidley Austin depois de ter sido solicitada pelo conselho de diretores da APA.
O documento afirma que em 2005 a APA formou uma equipe para revisar as diretrizes éticas da associação e determinar quando seus membros podiam participar de interrogatórios.
Um relatório posterior desta equipe concluiu que a participação de psicólogos no programa governamental de "interrogatórios severos" - que incluíam o chamado submarino, permanecer de pé por horas e a privação do sono - não violava o código de ética da organização.
Supostamente Behnke "colaborou discretamente com a equipe que elaborou o informe", afirma a investigação.
Outros críticos citados na investigação sustentam que as decisões da APA "foram intencionalmente tomadas para ajudar o governo a torturar".
A investigação conclui que as diretrizes étnicas "priorizaram a proteção dos psicólogos - inclusive daqueles que podem ter tido condutas não éticas - em detrimento da proteção do público".
Também sustenta que dois ex-presidentes da APA integraram comissões assessoras da CIA, e que um deles declarou à agência de inteligência que não pensava que a privação do sono constituísse uma forma de tortura.