Equador: Assange instalava câmeras na embaixada sem autorização e publicava fotos pessoais da família do presidente, afirmou Moreno (Paul Marotta/Getty Images)
EFE
Publicado em 17 de abril de 2019 às 10h58.
Londres — O presidente do Equador, Lenín Moreno, qualificou o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, de "terrorista cibernético", que selecionava as informações de acordo com "suas conveniências" e intervinha em assuntos de outros países.
Moreno fez essa afirmação em entrevista à emissora "BBC" divulgada nesta quarta-feira, depois que Assange foi detido na quinta-feira da semana passada na embaixada do Equador em Londres após o país sul-americano revogar o asilo político que havia concedido ao jornalista australiano em 2012.
Segundo o presidente equatoriano, Assange selecionava as informações de acordo com seus "compromissos ideológicos" e intervinha em assuntos de outros países amigos, como nas eleições dos Estados Unidos (2016) e na questão da Catalunha (Espanha), algo que não podia fazer por sua condição de asilado.
Ao ser questionado sobre se Assange é um agente russo, Moreno se limitou a dizer que, seja por omissão ou por ação, "parece que sim".
O chefe de Estado equatoriano afirmou que o jornalista tratava "bastante mal" o pessoal da embaixada, "de maneira despótica" e, inclusive, chegou a agredir alguns guardas, "algo que definitivamente não podia ser tolerado e que, volto a ressaltar, acabou com a nossa paciência", disse.
Entre outras coisas, Moreno assinalou que Assange instalava câmeras e tomava suas próprias decisões sem consultar os funcionários do governo equatoriano da embaixada e publicava fotos da intimidade da família do presidente.
Moreno ressaltou que uma pesquisa revelou que quase 80% dos equatorianos queriam que Assange saísse do edifício diplomático e lembrou que seu país o acolheu e o alimentou durante os anos em que permaneceu refugiado na embaixada.
Assange segue em uma prisão do Reino Unido após ter sido detido na embaixada do Equador por descumprimento das condições de liberdade condicional em 2012, relacionadas com um pedido de extradição da Suécia por supostos crimes sexuais, e por um pedido de extradição remetido pelas autoridades dos Estados Unidos.
O Ministério Público da Suécia deixou as portas abertas para que o caso contra o jornalista e ativista por supostos crimes sexuais seja retomado.
A investigação original, pela qual Estocolmo pedia a extradição de Assange, foi arquivada em 2017, diante da impossibilidade de fazê-la avançar com o ativista refugiado na embaixada do Equador.
No entanto, as autoridades suecas ressaltaram que o suposto crime de estupro pelo qual Assange estava sendo investigado prescreve em agosto de 2020, por isso o caso pode ser reaberto.
O pedido de asilo ao Equador em 2012 aconteceu ao término de um longo processo de extradição à Suécia na Justiça britânica e deu início a um caso de difícil solução, pois o Reino Unido se negou reiteradamente a oferecer um salvo-conduto ao ativista que lhe permitiria seguir rumo ao país sul-americano.