Julian Assange, fundador do WikiLeaks: "a decisão de tornar público os arquivos diplomáticos foi exclusiva do The Guardian. Em nenhum momento, eles nos consultaram" (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2011 às 12h18.
Berlim - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, culpou nesta terça-feira o jornal britânico The Guardian pela divulgação dos arquivos diplomáticos americanos sem edição, eximindo sua organização de qualquer responsabilidade.
Em sua primeira aparição pública desde a publicação dos documentos, o ativista fez questão de acusar o jornal britânico de "negligência". Apesar de ter colaborado com o jornal no passado, Assange não concordou com a divulgação dos documentos que estavam nas mãos do WikiLeaks.
Segundo Assange, o fato fez com que dezenas de documentos, até então não divulgados e sem edição, fossem todos expostos através da internet. "A decisão de tornar público os arquivos diplomáticos foi exclusiva do The Guardian".
"Em nenhum momento, eles nos consultaram", explicou Assange em teleconferência transmitida de sua casa no Reino Unido, onde cumpre prisão domiciliar. O discurso fez parte de um congresso sobre a imprensa e tecnologias realizada nesta semana em Berlim.
Mesmo sem citar nomes de outros veículos de imprensa, Assange ainda continuou suas críticas aos meios de comunicação. "Essas organizações possuem interesses próprios e quem diz que seu único objetivo é divulgar notícias, não está dizendo a verdade".
O jornalista australiano declarou ainda que alguns grandes veículos possuem agendas ocultas, interesses econômicos e, de forma paralela, conservam uma "falsa moralidade".
Para Assange, o importante é que a difusão dos arquivos secretos está provocando uma "grande reforma", implicando na queda de ministros e diplomatas no mundo todo.
"Descobrimos uma série de casos de corrupção e violência", destacou o ativista. "O medo das publicações não deve fazer parte de uma clara administração pública".
Além disso, Assange indicou que muitos governos temem a ação do WikiLeaks. É a "expressão do medo" dessas administrações à transparência.
Para exemplificar essa relação, Assange ressaltou o bloqueio econômico "extrajudicial" que sua organização sofre por parte de entidades como Visa, MasterCard e Paypal, que eliminou 90% de seu financiamento por conta da pressão dos Estados Unidos sobre essas empresas.
"Ter um cartão Visa no bolso é o mesmo que ter uma arma de Washington no bolso. Você pode fazer doação ao Ku Klux Klan com Visa e MasterCard, porém, você não apoiar uma organização que luta a favor da liberdade de expressão".
"Temos uma trajetória da qual estamos muitos orgulhosos. Nunca publicamos nada falso e nunca nenhuma de nossas fontes foram expostas. Nenhum indivíduo sofreu consequências físicas pelo que nós publicamos", afirmou.
Assim, Assange reivindicou o novo papel dos meios de comunicação: divulgar a informação em mãos de especialistas e no contexto adequado. "Isso é o que nós estamos fazendo nos últimos quatro anos e meio", acrescentou.
Por último, Assange rotulou de "ciumentos" aqueles que querem antecipar o fim do WikiLeaks e reiterou que é preciso "fazer com que o poder se responsabilize por seus atos".