O presidente sírio, Bashar al-Assad: Bashar al-Assad compara os rebeldes aos terroristas e os acusa de serem financiados e apoiados pelo exterior. (AFP)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2013 às 14h08.
Damasco - O presidente sírio Bashar al-Assad disse estar certo da vitória de suas tropas contra os rebeldes, em um momento em que Carla del Ponte, da Comissão de Investigação independente da ONU, pediu que a justiça internacional seja acionada para investigar os crimes de guerra.
Tão inflexível quanto no início da revolta contra o seu regime, Assad afirmou ter certeza de que pode vencer a guerra, em declarações feitas a políticos libaneses e reproduzidas nesta segunda-feira por um jornal pró-Síria de Beirute.
"Estamos convencidos de que o futuro pertence a nós. A Síria vai derrotar a conspiração", disse Assad, segundo o jornal As-Safir.
"Estamos confiantes na vitória", indicou, salientando as "façanhas políticas e militares" do regime. "Isso não significa que tudo está resolvido, ainda temos muito a fazer na política e na luta contra os grupos extremistas terroristas", acrescentou.
Bashar al-Assad compara os rebeldes aos terroristas e os acusa de serem financiados e apoiados pelo exterior, principalmente pela Arábia Saudita, Qatar e Turquia.
Em 23 meses, o conflito já custou 70 mil vidas, segundo a ONU.
O presidente sírio também afirmou que os "fieis a seu regime representam uma maioria absoluta dos sírios", argumentando que o corpo diplomático sírio se manteve firme durante dois anos, apesar de "milhões de dólares" oferecidos para embaixadores e cônsules. Quatro diplomatas, incluindo dois embaixadores, desertaram em 2012, assim como muitos políticos e militares, incluindo um ex-primeiro ministro.
No terreno, a batalha continua nos arredores dos aeroportos de Aleppo, no norte do país. Os rebeldes tomaram o controle nesta segunda-feira de um posto de controle militar na estrada que leva ao aeroporto internacional, de acordo com uma ONG síria, enquanto as tropas leais bombardeiam as zonas insurgentes na região.
Nesta segunda-feira, os rebeldes apreenderam um posto de controle militar na estrada para o Aeroporto Internacional de Aleppo, como parte da "grande batalha dos aeroportos" na região, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que conta com uma rede de ativistas e médicos de todo o país.
Já o Exército sírio afirmou que se prepara para "limpar" nas próximas 48 horas a área mantida pelos insurgentes, enquanto os combates prosseguem.
Em 12 de fevereiro, os rebeldes lançaram a "Batalha dos aeroportos", na região de Aleppo, na tentativa de neutralizar a principal vantagem do regime, seu poder de fogo aéreo.
--- Relatório devastador sobre crimes de guerra ----
Frente ao horror da violência que tirou a vida de 70.000 pessoas e levou ao êxodo milhares de refugiados, Carla Del Ponte declarou em Genebra que esta é a hora da justiça internacional agir a respeito dos crimes de guerra cometidos no país.
"Nós sugerimos o Tribunal Penal Internacional", disse, ao apresentar o novo relatório da comissão denunciando a escalada de crimes de guerra cometidos pelo regime e pelos rebeldes.
"É incrível que o Conselho de Segurança da ONU não tomou qualquer decisão" em dois anos, lamentou.
A ex-procuradora lembrou que a Comissão forneceu ao Conselho da ONU uma lista, mantida em segredo, com os nomes dos oficiais envolvidos em crimes de guerra na Síria.
De acordo com o novo relatório da Comissão de Investigação, criada em 2011 e que ainda não foi capaz de visitar a Síria, o conflito "também reduziu a zero toda a estrutura social complexa do país" e "põe em risco as gerações futuras e ameaça a paz e a segurança em toda a região".
O relatório condena os dois protagonistas do conflito por crimes de guerra, ressaltando que o governo é o principal responsável pelas atrocidades cometidas.
"As duas partes do conflito violaram as regras internacionais de direitos das crianças, utilizando-os como infantaria", prosseguiu.
Além disso, afirma que o impacto do conflito na Síria pode afetar várias gerações e ameaçar a segurança em todo o Oriente Médio.
"A profundidade da tragédia síria se reflete de maneira dolorosa no número de vítimas. As experiências atrozes relatadas pelos sobreviventes revelam violações dos direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade", afirma o relatório de 131 páginas da comissão de investigação internacional e independente da ONU.
"A dinâmica destruidora da guerra civil coloca em risco as futuras gerações e ameaça a paz e a segurança em toda a região", completa o documento.
A Comissão não viajou à Síria, onde o regime do presidente Bashar al-Assad enfrenta, desde março de 2011, uma rebelião que virou guerra civil e que já provocou 70.000 mortes, segundo estimativas da ONU.
Em um primeiro relatório, publicado em agosto de 2012, baseado em quase mil entrevistas com vítimas, a comissão acusou os dois lados por crimes de guerra, mas admitiu uma responsabilidade menor dos rebeldes.