Barcos com barreiras de contenção ajudam no controle da mancha de óleo no campo de Frade (Divulgação/Chevron Brasil Petróleo)
Vanessa Barbosa
Publicado em 22 de novembro de 2011 às 18h20.
São Paulo – Erro de cálculo, desencontro de informações, falta de transparência, omissão, demora para agir. Expressões como essas rechearam o noticiário sobre o acidente no Campo de Frade, operado pela petrolífera americana Chevron, nas duas últimas semanas. A maré negra na Bacia de Campos virou até caso de polícia, o que rendeu mais um adjetivo ao ocorrido, de “criminoso”.
O vazamento, que começou no dia 8 e só foi controlado ontem, após a cimentação da rachadura no poço, ainda deixa perguntas importantes sem respostas e algum espaço para especulações – a plataforma usada na perfuração pertence à empresa Transocean, contratada pela Chevron para fazer a perfuração no Campo de Frade. Trata-se da mesma companhia contratada pela British Petroleum (BP) para perfurar os poços no Golfo do México no ano passado, quando houve o maior derramamento de petróleo da história americana.
Recentemente, a subsidiária brasileira da Chevron assumiu responsabilidade total pelo vazamento, eximindo a terceirizada. Ainda assim, a situação de ambas as companhias está sendo avaliada pelo governo, que cogita bani-las das explorações no Pré-sal, de águas ultra-profundas. Outras questões ainda pouco esclarecidas sobre o acidente também persistem.
Qual o tamanho do estrago?
Há divergências sobre a quantidade de óleo que escapou e poluiu o mar. As primeiras informações da empresa sobre o volume de petróleo que jorrava no mar falavam de 400 e 650 barris por dia. Mas, após analisar imagens divulgadas pela Nasa, a ONG SkyTruth, especializada em interpretação de imagens de satélite, disse que o derrame era 10 vezes a estimativa oficial. Em comunicado divulgado nesta terça, a ANP afirmou que, em função das medidas de contenção adotadas pelas operadora, a mancha de óleo reduziu-se à 2km² de área. No entanto, segundo a agência, essa medida diz respeito ao que se vê sobre a superfície do mar.
É desconhecido o volume do óleo que desceu para o fundo e que ainda pode retornar à superfície. O impacto ambiental também não está claro. Apesar de ter ocorrido em alto mar, que tem menos concentração de vida marinha, a região afetada é rota migratória de golfinhos e baleias, nesta época do ano, além de várias espécies marinhas.
O que causou o vazamento?
Num primeiro momento, a Chevron declarou que o vazamento de óleo resultava de uma falha natural na superfície do fundo do mar, sem relação com sua operação no campo de Frade. Depois, a companhia admitiu um erro de cálculo, dizendo que havia subestimado a pressão do reservatório de petróleo e superestimou a solidez da formação rochosa no fundo do mar.
E que por esse motivo teria feito uma injeção de lama pesada no reservatório para elevar a produção do óleo. A Polícia Federal, no entanto, também vai investigar se a empresa perfurou mais do que 500 metros do que o permitido, com o intuito de tentar alcançar a camada de pré-sal, hipótese que é negada pela Chevron.
Omissão ou incapacidade de identificar e sanar o problema?
A emergência teve início no dia 8, quando a Chevron realizava trabalhos de perfuração perto do Campo Frade, 370 km a nordeste da costa do Rio de Janeiro. Mas as primeiras informações sobre o ocorrido só vieram à tona dois dias depois. O fato de não ter comunicado o vazamento de forma imediata ao governo federal foi considerado um ato de “negligência” pela ANP. Além da ocultação de informações, a empresa está sendo multada pela falta de equipamentos adequados para estancar o vazamento. O aparelho necessário teria que ser trazido de fora.
Além disso, segundo a PF, a primeira tentativa da empresa de conter a dispersão do óleo agredia o meio ambiente. Para conter a maré negra no litoral fluminense, a Chevron teria adotado a técnica de jateamento de areia sobre a mancha de óleo. De acordo com o titular da Delegacia do Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF, Fábio Scliar, esse procedimento de empurrar o óleo para o fundo do mar é considerado crime ambiental. A técnica também mascara a real dimensão do problema.