Se antes da revolução só os artistas ligados ao regime de Assad desfrutavam de certos privilégios, agora até as galerias independentes estão fechadas (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2012 às 06h39.
Cairo - Criatividade contra a violência é a premissa de um grupo de artistas sírios, que encontram em suas obras a melhor arma para lidar com o conflito em seu país e expressar o apoio à revolução, uma declaração de princípios que agora é exposta no Cairo.
Se o regime de Bashar al-Assad tentou calar as vozes dissidentes através da repressão, esta estratégia artística acabou provocando o efeito inverso em grande parte da população, que agora apresenta um grande compromisso político.
'Os artistas sírios, como o resto do povo, estão rompendo o muro do medo', afirmou à Agência Efe o designer gráfico Munir al Shaarani, que esteve 25 anos no exílio.
Segundo Shaarani, desde o início da revolta houve uma 'importante mudança' na atitude dos artistas, que cada vez mais estão envolvidos no cotidiano político do país.
As obras expostas na galeria Mashrabia podem comprovar o compromisso dos artistas de distintas gerações, que se impregnaram com os valores do 'espírito da revolução' para retratar os horrores do conflito.
Um homem estirado no chão e rodeado por uma poça de sangue - a dramática obra de Youssef Abdelke - e a caligrafia geométrica de Shaarani, com suas mensagens a favor da democracia e contra a opressão, são exemplos vivos da rejeição deste grupo à violência do regime de Damasco.
O compromisso político de alguns vinha de longe, como os próprios Shaarani e Abdelke, que sofreram no exílio e o segundo inclusive na prisão, enquanto gerações mais jovens também se implicaram com o início da revolta diante da magnitude da repressão.
Apesar da detenção e da tortura de vários artistas, como o caricaturista Ali Farzat, Shaarani considera que é necessário 'lutar pela mudança dentro da Síria' e também advoga por um ativismo pacífico.
'O regime não acredita que a arte possa derrubá-los, mas procura assustar os artistas', ressaltou o designer gráfico, que apontou que a maioria dos ataques contra este coletivo estão mais relacionados com o envolvimento dos mesmos nos protestos do que com o caráter reivindicativo de suas obras.
Se antes da revolução só os artistas ligados ao regime de Assad desfrutavam de certos privilégios, agora até as galerias independentes estão fechadas.
Além disso, alguns artistas tiveram que abandonar seus trabalhos por estarem situados em pontos de conflito.
Porém, em vez de acabar com o movimento, as dificuldades e a falta de um lugar onde expor aguçaram a engenhosidade dos artistas, que desenvolveram iniciativas na rede e na rua para trocar ideias e aproximar a criatividade revolucionária de seus cidadãos.
Entre estes projetos destaca-se o grupo de Facebook 'Arte e Liberdade', onde os artistas postam fotografias de suas obras para expressar seu apoio à revolta e sua solidariedade com os detidos.
'A revolução é uma paternidade roubada', de Mustafa Yacub, mostra uma criança perguntando em um cartaz escrito 'Quem vai devolver meu pai vivo?'; 'Esperanza', de Emad Obeid, um acrílico que representa uma cidade destruída e uma pomba da paz; e 'Papel Branco', de Rus Aisa, um jogo de armas feitas em origami, são algumas das obras expostas neste mês.
A página da 'Arte e Liberdade', um manifesto assinado por cerca de 200 artistas, sugere a formação de 'um agrupamento profissional independente para defender opções intelectuais e criativas nesta etapa crucial' e convoca todos os integrantes para vivenciar 'uma mudança total sem internacionalizar a crise e nem cair na violência sectária'.
Os artistas deste grupo também querem elaborar uma exposição na Síria, mas somente com cópias das obras, já que ainda existe a possibilidades destas mesmas serem totalmente destruídas pelas forças de segurança, relata Shaarani, que acrescenta: 'É tudo o que podemos fazer como movimento civil contra um regime que obriga à população a pegar em armas'.