Para a realização dessa obra, Ban contou com profissionais e mais de 200 voluntários, que, em menos de três meses, criaram todo um bairro (Reprodução/shigerubanarchitects.com)
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2011 às 09h38.
Tóquio - Na localidade japonesa de Onagawa, arrasada pelo grande tsunami que atingiu o nordeste do Japão em março, um antigo campo de beisebol abriga agora um bairro construído em tempo recorde pelo arquiteto Shigeru Ban, que usou contêineres de navio para dar teto a quase 500 desabrigados pela tragédia.
Cerca de mil habitantes de Onagawa, quase 10% da população, perderam a vida quando a grande massa de água - precedida por um terremoto de magnitude 9 graus na escala Richter - atingiu esta localidade litorânea e arrastou mais de 3 mil casas.
Nos meses seguintes, muitos sobreviventes acabaram se mudando para o interior, enquanto outros encontraram refúgio provisório no grande ginásio situado em uma das colinas que rodeiam o povoado, totalmente transformado após a tragédia.
Com experiência em catástrofes, como a do terremoto do Haiti (2010) e o de Sichuan, na China (2008), o estudo de Shigeru Ban - reconhecido como um dos mais inovadores do mundo - começou a ser aplicado imediatamente depois do incidente.
O arquiteto, com a ajuda de voluntários, primeiro montou os centros de emergência usando telas e canos de papelão, material usado em muitas de suas obras.
A obra foi um sucesso e Ban apresentou às autoridades de Onagawa um projeto de casas provisórias construídas com contêiner de navios, estruturas sólidas, baratas e fáceis de montar. As poucas áreas planas e altas nessa zona montanhosa já eram ocupadas por campos esportivos. A Prefeitura decidiu mantê-los com a esperança de que a população possa voltar a usá-los no futuro.
Com a falta de regiões apropriadas, só restou a Shigeru Ban a opção de construir sobre um antigo estádio de beisebol, o que obrigou o arquiteto a aproveitar o terreno ao máximo. As casas temporárias acabaram então se transformando em prédios de até três andares, fabricados com contêineres de 6 metros por 2,5 metros.
'Meu ideal era fazer com que os desabrigados que foram obrigados a morar em casas provisórias não queiram sair delas', declarou Ban, responsável pela construção de edifícios como o Centro Pompidou-Metz (França), em recente entrevista à rádio 'Tokyo FM'.
Para a realização dessa obra, Ban contou com profissionais e mais de 200 voluntários, que, em menos de três meses, criaram todo um bairro. Inaugurado neste mês, o projeto possui três blocos de dois andares e seis com três, abrigando um total de 189 apartamentos.
'Agora estamos construindo um mercado de 400 metros quadrados, uma sala de reuniões e uma oficina', explica à Agência Efe Reiji Watabe, da ONG Voluntary Architect's Network ('www.shigerubanarchitects.com'), criada por Ban.
Apesar da falta de espaço, o interior dos apartamentos é surpreendentemente acolhedor, ao contrário de outras casas provisórias da região, que se encontram amontoadas com eletrodomésticos doados pela Cruz Vermelha e móveis fornecidos pela ONG More Trees, do músico e compositor Ryuichi Sakamoto.
Nas semanas anteriores à inauguração do bairro, os jovens voluntários elaboraram um revezamento para montar e pintar os imóveis provisórios.
Cada uma delas está construída de modo a reduzir o barulho das unidades inferiores e superiores, e todas estão preparadas para enfrentar novos terremotos, já que podem ser desmontadas facilmente quando cumprirem sua função.
'Esperamos muito para nos mudar. O centro de evacuação tinha espaço limitado. Finalmente conseguimos', declarou Masaki Katsumata, de 45 anos, pouco antes de se mudar para um apartamento com quatro familiares.
Em princípio, os desabrigados vão viver nessas casas durante dois anos, tempo limite estabelecido por lei. Depois, o município de Onagawa planeja reutilizar essas habitações como albergues ou unidades de aluguel.
O bairro de Shigeru Ban é só uma pequena parte da nova Onagawa, onde, segundo um porta-voz municipal, foram erguidas 1.294 casas temporárias para atender a mais de 3.201 desabrigados. EFE