Na última reunião do G8, em 2010, os emergentes foram convidados (Scott Olson/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2011 às 17h23.
Deauville, França - A aristocracia mundial, integrada pelos países do G8, celebrará nesta quinta e sexta-feira, em Deauville, sua cúpula anual, para a qual não foram convidados os emergentes, "os novos ricos", que parecem longe do longo caminho rumo a uma nova governança mundial.
"O maior temor da aristocracia mundial é que tirem dela os grandes assuntos políticos", avaliou Bertrand Badie, professor de Relações Internacionais no Instituto de Estudos Políticos de Paris.
"É algo grave para eles, pois em sua mente, o 'emergente' é um conceito unicamente econômico, quando na verdade superou amplamente este limite, sobretudo com os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)", ressaltou este especialista.
Há três anos, Estados Unidos, Canadá, Rússia, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Japão, que se reunirão quinta e sexta-feira em Deauville (noroeste), mostraram-se abertos às estrelas ascendentes no firmamento: Brasil, China, Índia, Turquia, Índia, África do Sul e Nigéria.
Estimulados por esta recepção, os "recém-chegados" desenvolveram uma ampla rede diplomática - por exemplo, a Turquia na África ou no Brasil com os Estados Unidos no caso iraniano - falam com todo mundo e se ocupam tanto de economia quanto de política.
As potências industriais históricas já não são capazes de exercer esta "bem sucedida diplomacia de amplo alcance", segundo Badie. Com frequência, estão em conflito com os países do sul como pôs em evidência sua guerra na Líbia.
Para alguns especialistas, o G8 mantém, no entanto, sua legitimidade inicial.
"A composição do G8 o transforma em um instrumento possivelmente mais bem preparado para intervir em determinados âmbitos, problemas ou com determinados sócios que o G20", que reúne também às economias emergentes, entre elas Brasil, China, Índia, Argentina, México e África do Sul, disse Daniel Schwanen, do Centro para a Inovação na Governança Internacional com sede no Canadá.
A reforma da governança mundial "não tem sido posta de lado, muito pelo contrário", defendem fontes francesas antes de destacar que o assunto será analisado mais profundamente na Cúpula do G20 de novembro próximo em Cannes (sul).
No entanto, a forma como acaba de se estabelecer a nomeação do sucessor de Dominique Strauss Kahn à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI) é revelador de um estado de ânimo pouco inclinado a favor dos emergentes.
Desde 1945, este cargo é ocupado por um europeu e o Banco Mundial é chefiado por um americano. Mas alguns países, sobretudo emergentes e alguns europeus, consideram que esta distribuição está amplamente superada.
Em plena crise na Zona do Euro, a Europa acelerou rapidamente seu posicionamento, negando-se a abandonar este privilégio e apoiando a candidatura da ministra francesa da Economia, Christine Lagarde.
"Não se entende muito bem porque a direção do FMI deveria ficar nas mãos de um país, uma região ou um continente. Tampouco está claro porque, tendo dado sua opinião sobre tantos outros assuntos, a Europa não poderia aproveitar para resolver suas dificuldades financeiras com a experiência de não europeus", avaliou Schwanen.
"Sempre é a mesma história", sentenciou. "Diz-se que é absolutamente necessário conceder um lugar aos emergentes, mas quando é preciso tomar decisões concretas, fecha-se" o caminho, acrescentou Badie.
Em sua opinião, este "grande medo" da aristocracia das grandes potências também se explica no impasse no qual se encontra a reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Embora em menor escala, das 50 ONGs presentes em Deauville só um punhado provêm da África e nenhuma na América Latina. A Presidência francesa se negou a credenciá-las, afirmando que esta cúpula não abordará assuntos relacionados com a região, informaram fontes de CCFD Terre Solidaire, que se queixou, ainda, de estar alojados a 45 km de Deauville.
Paris disse aos latino-americanos que poderão assistir à Cúpula do G20, em Cannes.