Cristina Kirchner após a segunda sessão de trabalho da reunião do BRICS (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2014 às 22h01.
Brasília - A presidente Dilma Rousseff aproveitou seu discurso de encerramento da reunião do BRICS com os países da América do Sul para pedir um discurso unificado contra o precedente criado pelo Judiciário dos Estados Unidos, que obrigou o pagamento integral da dívida argentina aos chamados fundos holdouts, a ser levado na próxima reunião do G-20, em novembro, na Austrália.
O grupo reúne as 20 maiores economias emergentes do mundo.
Em apoio à presidente argentina, Cristina Kirchner, Dilma fez um apelo aos demais presidentes por um "caminho conjunto entre nós" para mostrar que a decisão da Justiça dos EUA poderá ser muito dura para países em desenvolvimento e que as economias mais frágeis vão sofrer muito com procedimentos desse tipo.
Dilma passou o recado durante almoço com os chefes de Estado reunidos em Brasília. O Palácio do Planalto, no entanto, não divulgou o conteúdo do discurso da presidente Dilma. Mas o objetivo de um discurso comum na reunião do G-20 foi confirmado por Cristina.
"Não é um tema apenas da Argentina, mas que pode afetar todos os países, como afetou o Brasil durante 20 anos", declarou, ao fim do encontro desta quarta-feira, 16.
Cristina disse que os países presentes na reunião concordaram que a Argentina foi muita prejudicada na renegociação, "em função dos fundos abutres que querem derrubar a reestruturação da dívida argentina".
"Queremos pagar 100% da dívida da Argentina com justiça. Em seis anos, esses fundos tiveram valorização excessiva de 300%", criticou.
Pilhagem
Surpreendida por um grupo de simpatizantes de partidos políticos brasileiros de esquerda ao deixar o hotel pela manhã, Cristina fez um discurso improvisado agradecendo o apoio no momento em que, segundo ela, a Argentina sofre uma tentativa de "pilhagem internacional em matéria financeira".
"Quero agradecer porque sei que não é que vocês apoiem Cristina, mas as políticas que temos adotado na Argentina. Acreditamos numa Pátria Grande e, além disso, acreditamos que devemos acabar com esse tipo de pilhagem internacional em matéria financeira como hoje pretendem fazer contra a Argentina e como vão querer fazer contra outros países do planeta."
BRICS
A presidente argentina disse que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, a instituição de fomento do BRICS, foi um passo importante, a exemplo do que fizeram os países da Unasul, quando criaram o Banco do Sul.
"E vão surgindo cada vez mais instituições que questionam exatamente esse funcionamento dos organismos multilaterais que, em vez de dar soluções, não fazem mais do que complicar a vida dos povos."
Para ela, a união entre BRICS e Unasul é uma aposta em um "mundo multipolar" e serve como contraponto ao "fracasso dos organismos multilaterais".
"Essa reunião marca, sem a menor dúvida, o fracasso que estamos tendo nos organismos multilaterais, sobretudo em dar um ordenamento global e financeiro que inclua crescimento, criação de empregos, combate ao abandono social que os sul-americanos têm vivido durante tantas décadas."
O presidente do Uruguai, José Mujica, mostrou-se reticente sobre o início da atuação do banco do BRICS. "Os bancos são uma vaca que come muito até começar a dar leite. Pode ser que em 2016, 2017 tenha algo, mas é bom."
Quando questionado se a nova instituição financeira seria uma alternativa ao Banco Mundial, Mujica disse considerar a atuação das duas instituições complementares.
Sobre a reestruturação da dívida argentina, ele afirmou que é preciso criar outro mecanismo para tratar do assunto.
"Querem comer um pedaço de uma vaca morta", afirmou, completando que sabia de cor o discurso que Cristina Kirchner fez no encontro de hoje. "Já ouvi três ou quatro vezes."(Colaborou Nivaldo Souza)