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Argentina: o que se sabe sobre os saques a supermercados e comércios

Segundo autoridades, os episódios foram incitados pelas redes sociais, com o fim de provocar desestabilização no país a 60 dias das eleições presidenciais em outubro

Argentina: Os saques ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira (AFP/AFP)

Argentina: Os saques ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira (AFP/AFP)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 11h09.

A Argentina registrou na quarta-feira, 23, uma série de saques a supermercados e lojas em diferentes pontos da grande Buenos Aires. Segundo autoridades, os episódios foram incitados pelas redes sociais, com o fim de provocar desestabilização no país a 60 dias das eleições presidenciais em outubro. Quase 200 pessoas foram detidas em meio a uma inflação acima de 100% 

Quais cidades da Argentina tiveram saques?

Os saques ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira. Segundo as autoridades do país,  grupos convocados pelas redes sociais forçaram a entrada em supermercados e outros comércios. Eles teriam roubado itens e causado destruição nas províncias de Buenos Aires, Mendoza, Córdoba, Neuquén e Río Negro.

Uma loja na capital também foi alvo de um ataque. De acordo com relatórios oficiais divulgados em coletivas de imprensa, foram 150 tentativas de saques e 94 pessoas detidas em bairros da periferia da capital.

Em Mendoza, foram 66 presos. "São criminosos que agem de forma organizada, com a participação de menores de idade", segundo o comunicado do governo. O promotor de Córdoba, Ernesto de Aragón, informou que "foram presas 23 pessoas por diversos ataques a comércios". Também foram registradas mais de uma dezena de detenções em Neuquén e Río Negro.

Quem organizou os saques na Argentina?

Em entrevista ao canal TV Crónica, Raúl Castells, dirigente de movimentos sociais grevistas e pré-candidato presidencial, as pessoas estavam saindo de casa em busca de comida. "Eles estão saindo em busca de comida e se não encontrarem comida, nós, que somos os que estamos convocando isso (saques), estamos dizendo a eles que, sem roubar dinheiro ou quebrar nada, levem o que puderem para trocar por comida", explicou.

Embora isolados e menos violentos, os acontecimentos na última semana remetem aos saques violentos registrados durante os governos dos sociais-democratas Raúl Alfonsín, em 1989, e Fernando de la Rúa, em 2001.  Segundo o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, "moradores e moradoras não participaram em massa nisso", destacando que "muitos moradores tentaram impedir que os violentos realizassem essas ações".

O que o governo disse sobre os saques? Qual foi a posição de Milei?

O presidente Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, considerou os saques foram organizados e pediu para "cuidar da convivência democrática" e prometeu cuidar "dos problemas dos argentinos e suas rendas", mas lhes pediu "que preservem a paz social, por favor".

O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou que "o que aconteceu não pode ser atribuído a fulano ou sicrano". A porta-voz da presidência, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei (extrema direita) e Patricia Bullrich (direita) "constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize".

Milei, o candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto (30% dos votos), disse que é "trágico ver novamente depois de 20 anos as mesmas imagens de saques que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda", compartilhou nas redes sociais. Bullrich, que ficou em segundo lugar (27%), disse à rádio Rivadavia que o país precisa de "ordem e restauração da autoridade".

Em que contexto ocorrem os ataques?

Com uma das inflações mais altas do mundo - mais de 100% em comparação ao mesmo período no ano anterior -, a Argentina vê o índice de pobreza chegar a 40%. Segundo consultores, o custo de vida deve chegar aos dois dígitos em agosto e setembro.

Na sexta-feira, 18, o governo anunciou o congelamento dos preços dos combustíveis no país até 31 de outubro, um pouco antes do primeiro turno. No ano, os preços da gasolina e do diesel subiram em média 63%, em linha com a inflação acumulada até julho.

Com informações da AFP. 

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