Disputa será entre o conservador Mauricio Macri (foto) e o governista Daniel Scioli (REUTERS/Enrique Marcarian)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 05h37.
Buenos Aires - A Argentina definirá no dia 22 de novembro em um inédito segundo turno se quem governará durante os próximos quatro anos será o governista Daniel Scioli ou o conservador Mauricio Macri, depois que nenhum candidato obteve os votos suficientes para vencer no primeiro turno das eleições deste domingo no país.
O dado extraordinário destas eleições não foram as suspeitas de fraude, como alguns esperavam, mas a decisão do governo, a cargo da apuração provisória, de divulgar os primeiros resultados seis horas após fechados os colégios eleitorais e quando já tinha sido contado 67% das mesas de votação.
De madrugada, com 93,1% das mesas apuradas, Scioli, do governante Frente para a Vitória (FpV), somava 36,39% de votos, abaixo do resultado das primárias de agosto. Em seus calcanhares, Macri, postulante da frente conservador Mudemos, tinha 34.75%.
Com estes números, nenhum ia obter 45% dos votos ou pelo menos o 40% mais uma diferença de dez pontos sobre o segundo mais votado necessários para consagrar presidente na primeira votação, pelo que a Argentina realizará pela primeira vez em sua história uma segunda rodada eleitoral.
Enquanto os 32 milhões de argentinos que neste domingo foram às urnas ignoraram durante seis horas o resultado da votação, todos os candidatos se anteciparam a fazer seus discursos, dando por certo um segundo turno.
Acompanhado por sua mulher, a ex-modelo Karina Rabollini, o ex-campeão de motonáutica Scioli, que entrou na política nos anos 90 através do presidente Carlos Menem (1989-1999) e terminou como vice-presidente de Néstor Kirchner (2003-2007), convocou os indecisos e independentes para conseguir a vitória definitiva em novembro.
"Vou encarar esta nova etapa como o fiz sempre em minha vida: com mais fé e esperança do que nunca, vou continuar buscando os pontos de encontro necessários para conseguir definitivamente a vitória de todos os argentinos", disse Scioli para milhares de militantes no estádio Luna Park, de Buenos Aires, onde se destacaram os "laranjas" que seguem o candidato e quase estiveram ausentes os kirchneristas "puros".
Scioli, de 58 anos, agradeceu por "deixar um país normal, sem dívidas e com paz social" à presidente argentina, Cristina Kirchner, que na noite deste domingo esteve na sede do Executivo, mas não apareceu no Luna Park, a poucas quadras da Casa Rosada.
Em seu discurso, o candidato governista assinalou que "existem dois visões muito diferentes do presente e do futuro da Argentina que estão em jogo" e que "as mudanças têm que ser para frente e não para trás".
Macri e seus aliados comemoraram em um centro de convenções de Buenos Aires ter chegado a um segundo turno, cenário sem antecedentes na Argentina.
"Rumo ao dia 22 de novembro, como uma etapa para o 10 de dezembro, que cada um assuma o protagonismo para poder dizer no dia de amanhã a seus filhos 'eu em 2015 me comprometi'", disse Macri, que convocou todo o arco opositor, desde a esquerda até o peronismo dissidente.
Macri, prefeito da capital argentina desde 2007 e líder do Proposta Republicana (Pro), afirmou que "o que aconteceu hoje, muda a política deste país".
"Isto que está acontecendo aqui se estende por todo o país", afirmou Macri, de 56 anos, recebido com uma ovação pelos militantes ao grito de "Se sente, Mauricio presidente".
Parte do inesperado resultado obtido pelo Mudemos em nível nacional é atribuído pela própria força ao desempenho conseguido por sua candidata María Eugenia Vidal no pleito para o Governo da província de Buenos Aires, pelas mãos do peronismo desde 1987 e onde a coalizão opositora colheu este domingo 39,67% dos votos contra o 34,82% do governista Aníbal Fernández.
No terceiro lugar da corrida presidencial ficou Sergio Massa, da Unidos por uma Nova Alternativa (UNA, peronismo dissidente), com 21,27% dos votos, votos que serão decisivos para o segundo turno.
"Quero felicitar Daniel e Mauricio pela escolha que fizeram. Em três semanas seguramente os argentinos terão que escolher um caminho. Nós sabemos qual é nosso papel e nossa responsabilidade perante o futuro da Argentina", disse Massa, que foi chefe de Gabinete durante o primeiro mandato de Cristina Kirchner e depois passou para as fileiras opositoras.
Ele antecipou que nas próximas horas os dirigentes do Una se reunirão para escrever "um documento único que mostre aos argentinos que há outra forma de fazer política" e disse que não discutirão "cargos", mas "programas de governo" e que se transformará em "fiador" de uma "mudança" para "construir para um amanhã melhor". EFE