Estacionamento do prédio onde morava o procurador Alberto Nisman, em Buenos Aires (Alejandro Pagni/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2015 às 15h36.
Buenos Aires - Depoimentos, revisão de horas e horas de gravações de vídeo e intimações, a justiça argentina corre contra o relógio para tentar esclarecer a morte do promotor Alberto Nisman, que investigava o atentado antissemita de 1994 e que acusou a presidente Cristina Kirchner de ter envolvimento no caso.
A juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-esposa de Nisman e mãe de suas duas filhas de 7 e 15 anos, depôs nesta sexta-feira ante a promotora Vivian Fein, que investiga a morte de seu colega, qualificada de "suspeita".
Nisman foi encontrado morto no domingo, um dia antes de explicar para o Congresso a acusação que apresentou contra a presidente Cristina Kirchner e seu chanceler, Héctor Timerman.
"Ninguém mais do que eu e a presidente queríamos que Nisman vivesse para responder às perguntas (dos deputados)", escreveu nesta sexta-feira o chanceler em seu Twitter, após quatro dias de silêncio.
Nisman, que acusou há uma semana Kirchner e Timerman de acobertar o Irã no caso do atentado contra Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que deixou 85 mortos em 1994, em Buenos Aires, foi encontrado morto com um tiro na têmpora que não deixou vestígios de pólvora na mão.
Dois dos dez assessores a serviço de Nisman foram convocados a depor para explicar por que não alertaram imediatamente às autoridades que o promotor não respondia às suas ligações.
Vizinhos do luxuoso edifício do bairro Puerto Madero onde vivia Nisman também foram citados para testemunhar. A promotoria também analisa as imagens das câmeras de segurança.
A Argentina acusa ex-altos funcionários iranianos de participar do maior atentado de sua história. Mas em 2013 os dois países assinaram um Memorando de Entendimento, rejeitado pela comunidade judaica, para permitir o interrogatório dos acusados no Irã.
O texto completo da denúncia de Nisman foi divulgado pela justiça na terça-feira.
Na denúncia, Nisman afirmou que Kirchner emitiu uma ordem expressa para aplicar um plano de acobertamento que desvinculasse os acusados iranianos do atentado da AMIA, garantindo-lhes impunidade.
Nisman acusou ainda o governo argentino de combinar com o Irã a reativação do comércio de petróleo em troca da desistência dos pedidos de prisão à Interpol que ainda pesam sobre cinco iranianos suspeitos de participar do atentado, que há 20 anos deixou 85 mortos e 300 feridos em Buenos Aires.
Ainda segundo o promotor, "o plano elaborado por Cristina Fernández incluía o fim dos alertas vermelhos da Interpol - um plano frustrado inesperadamente pela ação firme do secretário-geral Ronald K. Noble".
Desde o início, a promotora Fein caracterizou a morte como "suspeita", apesar de os primeiros resultados da necrópsia indicarem a possibilidade de suicídio.
A arma calibre 22 de onde partiu o tiro que matou o promotor e que estava sob seu corpo havia sido levada no dia anterior por um colaborador próximo, segundo o mesmo relatou à promotora.