Bombardeio da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra rebeldes huthi na cidade iemenita de Sanaa (AFP/ Mohammed Huwais)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2015 às 16h06.
Sana - A Arábia Saudita anunciou nesta sexta-feira um cessar-fogo de cinco dias que entrará em vigor em 12 de maio no Iêmen, poucas horas após bombardear o principal reduto dos rebeldes xiitas huthis em resposta a um ataque contra uma zona próxima a sua fronteira.
"Decidimos que o cessar-fogo no Iêmen iniciará na terça-feira, 12 de maio, às 23H00 locais e durará cinco dias, podendo ser renovável se respeitado", declarou o ministro das Relações Exteriores saudita Adel al-Jubeir em coletiva de imprensa conjunta com o secretário de Estado americano, John Kerry, ao fim de um encontro, em Paris, entre ele e representantes de monarquias do Golfo.
O chefe da diplomacia saudita já havia evocado na quinta-feira uma possível trégua temporária para a distribuição de ajuda humanitária à população iemenita, atingida por uma grave escassez de alimento e combustível.
Riad lidera há seis semanas uma coalizão árabe que realiza bombardeios aéreos para apoiar o presidente no exílio Abd Rabo Mansur Hadi e impedir os huthis de tomar o controle de todo o país.
A guerra no Iêmen já deixou mais de 1.400 mortos e cerca de 6.000 feridos, a maioria civis.
No Irã, rival xiita do reino sunita saudita e que apoia os rebeldes iemenitas, milhares de pessoas manifestaram nesta sexta-feira para denunciar os ataques da coalizão, aos gritos de "Morte à família (real) saudita".
Após seis semanas de guerra, a situação no Iêmen é vista como "catastrófica" por ONGs e a ONU. Um porta-voz das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou nesta sexta que se as restrições às importações forem mantidas, "causarão mais mortes do que as balas e bombas nos próximos meses".
Para o Unicef, se o combustível e os alimentos continuarem a escassear, a desnutrição aguda ameaçará diretamente mais de 120 mil crianças nos próximos três meses, além dos 160 mil menores que já sofrem deste tipo de desnutrição.
Famílias em fuga
Segundo a agência saudita SPA, os bombardeios da coalizão se dirigiram na quinta-feira contra dois centros de controle, um centro de comunicação e uma fábrica de minas dos rebeldes na província de Sada, na fronteira com a Arábia Saudita.
Nos últimos dias, os rebeldes xiitas huthis realizaram bombardeios contra o sul do território saudita, matando dez civis. Até a data só haviam direcionado seus ataques contra militares.
A Arábia Saudita avisou na quinta-feira que os huthis, apoiados pelo Irã, haviam cruzado uma linha vermelha.
"A equação mudou, o conflito mudou e vão pagar caro", ameaçou o porta-voz da coalizão, o general Ahmed al-Assiri, ante a imprensa, indicando que Sada estava entre os alvos da coalizão.
Riad acusou reiteradamente o Irã de fornecer armas e fundos aos huthis, algo que Teerã negou novamente nesta sexta-feira, quando uma porta-voz do ministério das Relações Exteriores iraniano denunciou "esforços para culpar os outros".
Testemunhas em Sada afirmaram que os aviões da coalizão lançaram panfletos convocando os moradores a deixar a província e um correspondente da AFP na capital iemenita, Sanaa, informou que muitas famílias haviam começado a chegar nesta sexta-feira.
Os bombardeios não conseguiram frear os huthis e os combatentes aliados do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, e as preocupações crescem diante do aumento das mortes de civis.
Além de Sada, a coalizão dirigiu bombardeios contra posições rebeldes em Áden, a capital do sul, palco de combates entre insurgentes e partidários do presidente Hadi.
Doze combatentes morreram nos bombardeios, enquanto três civis e três combatentes pró-Hadi faleceram nos combates, segundo autoridades.
Morte de comandante da Al-Qaeda
Na quinta-feira, o braço do grupo jihadista Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) afirmou que o exército dos Estados Unidos havia abatido um de seus comandantes, Naser bin Ali al Ansi, em um bombardeio aéreo em abril, informou o centro SITE de vigilância de sites islamitas.
Ansi aparecia em um vídeo da AQPA reivindicando a responsabilidade pelo ataque de janeiro contra o semanário francês Charlie Hebdo para vingar as caricaturas do profeta Maomé.
Os Estados Unidos, o único país que opera com drones no Iêmen, não quis confirmar a morte de Ansi.