Eleições na Bolívia: Arce foi o arquiteto do "milagre econômico" do governo de Morales como ministro das Finanças (RONALDO SCHEMIDT/AFP)
AFP
Publicado em 23 de outubro de 2020 às 13h28.
Última atualização em 23 de outubro de 2020 às 16h01.
A Bolívia concluiu, nesta sexta-feira, 23, a lenta contagem de votos da eleição de domingo passado, na qual o esquerdista Luis Arce venceu surpreendentemente no primeiro turno, com o dobro de votos de seu principal oponente, Carlos Mesa.
Após a contagem oficial de 100% dos votos, o apoiador do ex-presidente Evo Morales obteve 55,10% dos votos válidos, ante 28,83% do centrista Mesa. Em terceiro lugar, ficou o direitista Luis Fernando Camacho com 14,0%.
O resultado final coincide, com pequenas variações, com as projeções feitas na noite de domingo pelo canal de televisão Unitel e pela fundação católica Jubileo, 7 horas após o fechamento da votação, que permitiram acabar com a incerteza pela falta de resultados preliminares oficiais.
As duas pesquisas previram uma vantagem de 22 pontos de Arce sobre Mesa, mas o resultado final foi muito maior: 26,27 pontos.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) apresentará os resultados nesta sexta-feira, às 18 horas locais (19 horas em Brasília), e proclamará a vitória de Arce. Isso marca o retorno ao poder do Movimento ao Socialismo (MAS), 11 meses após a queda de Morales em meio a protestos e denúncias de fraude eleitoral.
O presidente do TSE, Salvador Romero, adiantou que Arce e o novo Congresso — renovado na íntegra no domingo —, assumirão suas funções "no decorrer da primeira quinzena de novembro", mas não forneceu uma data exata.
Arce, de 57 anos, foi o arquiteto do "milagre econômico" do governo de Morales (2006-2019) como ministro das Finanças.
Ele conquistou o apoio em massa dos bolivianos, graças ao capital político de Morales e às esperanças de um retorno à prosperidade perdida, em meio a um país em colapso pelo coronavírus e pela crise econômica.
O TSE demorou cinco dias na contagem dos votos, algo que em outros países latino-americanos leva poucas horas. Desta vez, usou-se um processo manual, depois do cancelamento de última hora do sistema de contagem rápida digital em prol da confiabilidade dos dados.
Abalados com a surpreendente decisão das urnas não antecipada por nenhuma pesquisa, setores da direita saíram às ruas para protestar, denunciando uma suposta "fraude".
Missões de observação eleitoral internacionais afirmaram, porém, que o processo foi limpo e deu "legitimidade" ao novo governo de esquerda, que substituirá o da presidente interina de direita, Jeanine Áñez.
No domingo, 6.483.893 dos cidadãos habilitados foram às urnas, uma participação recorde de 88,42% dos 7,3 milhões de inscritos, segundo os dados finais do TSE.
A União Europeia parabenizou, nesta sexta-feira, a vitória de Arce nas urnas e expressou seu desejo de começar a trabalhar em breve com as novas autoridades eleitas.
Uma nota assinada pelo alto comissário da UE para as Relações Exteriores, o espanhol Joseph Borrell, também elogiou a participação eleitoral em massa, apesar das restrições pela pandemia de coronavírus.
De acordo com Borrell, a UE "continua ao lado da Bolívia e espera poder trabalhar com as novas autoridades pela consolidação da prosperidade e da estabilidade no país, com espírito de reconciliação, unidade e inclusão".