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Após um mês de crise, Itália consegue formar nova coalizão sem Salvini

Na tentativa de favorecer a Liga, o ministro Matteo Salvini apostou suas fichas em novas eleições na Itália, mas acabou fora do novo governo

Itália: a Liga foi substituída pelo Partido Democrata na nova coalizão (Remo Casilli/Reuters)

Itália: a Liga foi substituída pelo Partido Democrata na nova coalizão (Remo Casilli/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 15h45.

Passado um mês de crise política na Itália, deflagrada pelo ex-ministro do Interior Matteo Salvini, o Partido Democrata (PD) e o Movimento 5 Estrelas (M5E) conseguiram formar um novo governo nesta quarta-feira (4).

Depois de ter-se reunido com o presidente italiano, Sergio Matarella, o primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou a composição de um Executivo, formado por sete mulheres e 14 homens. Conte permanece no cargo.

"Levando-se em conta um programa orientado para o futuro, dedicaremos nossas energias, competência e paixão para tornar a Itália melhor pelo interesse de todos os cidadãos", declarou Conte, na apresentação de sua equipe.

O novo governo de Conte começa a funcionar, oficialmente, nesta quinta-feira, depois de prestar juramento. A cerimônia está prevista para as 8h GMT (5h em Brasília), no palácio del Quirinal, sede da presidência da República.

Nos próximos dias, precisará passar pela votação de confiança de ambas as Câmaras do Parlamento.

Como previsto, os pesos pesados do PD (centro esquerda) e do M5E (antissistema) dividiram as principais pastas.

Com apenas 33 anos, o líder do M5E, Luigi Di Maio, será o ministro das Relações Exteriores mais jovem na história da Itália.

O outro posto sensível na situação atual, o Ministério da Economia e Finanças, ficará com o eurodeputado do PD Roberto Gualtieri, que terá de agir rapidamente para abordar o problema mais urgente da Itália: os orçamentos.

A pasta do Interior ficará com Luciana Lamorgese, ex-secretária de Segurança de Milão, sem partido.

Luciana substitui Salvini, que passou os 14 meses de seu mandato endurecendo a política migratória italiana a golpe de decretos, que proibiam os barcos humanitários que resgatam migrantes no Mediterrâneo de entrarem nas águas italianas. Também impunham multas às ONGs envolvidas nessas tarefas.

Líder da Liga, Salvini implodiu, em 8 de agosto, a coalizão no poder, baseado em uma maioria entre o M5E e a Liga, pelas reiteradas rejeições deste movimento à sua política.

Outro peso-pesado do PD, Lorenzo Guerini, ligado ao ex-chefe de governo Matteo Renzi, foi nomeado ministro da Defesa.

Para ampliar a base parlamentar do novo governo, Giuseppe Conte incluiu o nanico partido de esquerda Liberi e Uguali (LEU - Livres e Iguais). Um de seus líderes, Roberto Speranza, assumirá a pasta da Saúde.

Complicado

Conte se comprometeu a formar uma equipe que respeite o equilíbrio entre as duas forças políticas, que até agora se mantiveram em estado de confrontação quase permanente.

O jurista de 55 anos também designou Paola De Micheli para Infraestrutura e Transportes, e Nuncia Catalfo, para o Trabalho, no lugar de Di Maio.

Outro homem forte do PD, Dario Franceschini, ficará na cadeira da Cultura, que já havia ocupado entre 2014 e 2018, sob os governos de centro esquerda dirigidos por Matteo Renzi e, depois, por Paolo Gentiloni.

O M5E conserva alguns ministérios que já tinha no governo anterior, como Justiça, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico.

Os mercados italianos deram as boas-vindas ao novo governo, com a Bolsa de Milão ganhando cerca de 1,7% após o anúncio. O "spread" (diferença entre a taxa da dívida italiana para dez anos e a taxa alemã) retrocedia 146 pontos.

O caminho para um acordo foi difícil, com disputas sobre os cargos e o programa de governo. Os observadores políticos advertiram que a nascente coalizão pode não completar seu curso até 2023.

A Itália é conhecida por sua rápida rotação política. O novo governo de Conte será o 67º em apenas 73 anos.

"Governar será mais complicado do que acertar uma coalizão", analisou o economista de Berenberg, Florian Hense, em um artigo.

O primeiro desafio do governo será apresentar os orçamentos de 2020 ao Parlamento no final de setembro e, depois, a Bruxelas, em 15 de outubro.

Roma manteve relações difíceis com Bruxelas nos últimos meses. Os analistas esperam que a nova coalizão M5E-PD adote um tom mais conciliador e mais flexível.

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