Bashar al-Assad, presidente da Síria, substiuiu o pai no comando do país (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2011 às 19h44.
Damasco - A Síria, onde o partido Baath está no poder há cerca de 50 anos, pode ser tocada pelo movimento de contestação social e político sem precedentes que agita o mundo árabe, estima Riad Qahwaji, do Instituto de análises militares do Oriente Médio e do Golfo (Inegma).
"Nenhum país árabe está ao abrigo dos movimentos de protesto, com suas reivindicações. Na verdade, a oposição se sente lesada diante de poderes absolutos e da falta de democracia".
"Os movimentos populares ganham força através de novos meios de comunicação como a internet (...) inspirando-se nos países vizinhos", informou à AFP.
O partido Baath está no poder na Síria desde 1963, quando foi decretado o estado de emergência, ainda em vigor. Após a morte, em 2000, de Hafez al-Assad, que dirigia o país desde 1970, seu filho Bachar foi eleito presidente.
A Síria está confrontada a "desafios consideráveis", admitiu recentemente um funcionário de alto escalão.
A pobreza atinge 14% dos 22 milhões de sírios e o desemprego, 20% da população ativa.
Em janeiro, o governo anunciou a criação de um "Fundo nacional para a ajuda social" num montante de 250 milhões de dólares, destinado a 420.000 famílias.
Nos últimos dias, a convocação para um protesto, na sexta-feira, contra a "monocracia, a corrupção e a tirania" na Síria foi convocada pelo site de relacionamentos Facebook, censurado pelas autoridades sírias, num momento em que importantes manifestações no Egito pedem a renúncia do presidente Hosni Mubarak.
Uma comunidade do Facebook lançou um chamado à manifestação pela "Revolução Síria 2011".
Jovens sírios foram convocados a protestar na sexta-feira, após as orações nas mesquitas, na "primeira jornada da ira do povo sírio e de rebelião civil em todas as cidades sírias".
"Vocês se parecem com os jovens de Tunísia e Egito. Não queremos uma revolução violenta, mas um levante pacífico (...) Ergam a voz de forma pacífica e civilizada, pois expressar as opiniões é garantido pela Constituição", informou o grupo em um comunicado publicado no site.
"Não se deve aceitar a injustiça", ressaltou.
"Não somos contra ti, mas contra a monocracia, a corrupção e a tirania e o fato de que a tua família e teus próximos tenham monopolizado as riquezas", acrescentou o texto, em alusão ao presidente sírio, Bashar al Asad.
O Facebook é bloqueado pelas autoridades sírias desde o início de janeiro, mas os internautas, graças a alguns programas, conseguem evitar a censura.
Milhares de pessoas já expressaram seu apoio ao apelo.
Pour Bourhane Ghalioune, diretor do Centro de Estudos árabes na Sorbonne, em Paris, "o que aconteceu na Tunísia e no Egito (...) é um cataclismo que vai carregar tudo, e a Síria não está ao abrigo".
Em entrevista no Wall Street Journal durante a semana, o presidente Assad afirmou que seu país era "estável" e protegido das perturbações sociais que fizeram cair o presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali e abalaram a ditadura do presidente egípcio Hosni Moubarak.
Afirmou, no entanto, que os dirigentes da região devem empreender reformas.
Para Ghalioune, a organização de "eleições regulares, livres e honestas" e "o fim dos regimes baseados nos moukhabarat" (serviços de segurança) que reprimem" o povo, são reformas essenciais.
"Nenhum governo tem o direito de monopolizar o poder e impedir o povo de decidir seu destino", estima.
Domingo, personalidades da sociedade civil, como o opositor Michel Kilo ou o cineasta Omar Amiralay, afirmaram em comunicado - o primeiro do gênero desde 2006, que o povo sírio aspirava, também, "à justiça, à liberdade".
Entre os 39 signatários do documento estão líderes que passaram longos anos na prisão, como o economista Aref Dalila, o poeta Faraj Beirakdar, os escritores Yassine Haj Saleh, Michel Kilo e Fayez Sara.
"A situação permanece imprevisível. Há um mal-estar geral na região, trata-se de pessoas preocupadas com o futuro da própria nação, é tempo de tirar lições", advertiu por sua vez Peter Harling do Instituto de pesquisa International Crisis Group (ICG).