Ariel Sharon governou o país entre 2001 e 2006. Um ano antes do derrame cerebral, criou um novo partido, o centro-direitista Kadima (David Silverman/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2013 às 06h08.
Jerusalém - O ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon completou nesta quinta-feira sete anos em coma e seu principal inimigo no partido Likud, Benjamin Netanyahu, está a ponto de ser escolhido para chefiar o país nas eleições de 22 de janeiro.
Ontem foi o sétimo aniversário do dia em que Sharon, que agora tem 84 anos, sofreu um AVC e desde então ele está na cama do hospital Tel Hashomer, perto de Tel Aviv. Todo esse tempo fez com que Sharon fosse perdendo progressivamente a atenção dos meios de comunicação e da população.
Seu estado de saúde é, oficialmente, o mesmo desde então. Um de seus filhos, Gilad, disse em entrevista em 2011 que "quando está acordado", seu pai olha e "movimenta os dedos" quando quer pedir algo.
"Ele está deitado na cama, dormindo tranquilamente. Grande, forte, seguro de si mesmo. Suas bochechas têm um tom vermelho. Quando está acordado, tem um olhar penetrante. Não perdeu um quilo sequer, ao contrário, ganhou alguns", diz um parágrafo do livro "Sharon: A vida de um líder", escrito por Gilad.
O derrame cerebral, causado pela medicação que tomou em 4 de janeiro de 2006 para tratar de uma trombose, motivou oito intervenções cirúrgicas (entre elas a extração de parte do intestino) no Hospital Hadassa de Ein Karem, próximo a Jerusalém.
Os atuais custos de hospitalização somam anualmente cerca de 300 mil euros, que são compartilhados entre o Estado e a família.
Ariel Sharon governou o país entre 2001 e 2006. Um ano antes do derrame cerebral, criou um novo partido, o centro-direitista Kadima, para defender a evacuação unilateral de colonos e soldados israelenses de Gaza contra a oposição interna no partido em que fundou, o Likud, hoje liderado por Netanyahu.
Sem Sharon - personagem polêmico mas respeitado por muitos israelenses - sem a ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, à frente agora de um novo partido (Hatunuá), e sem Ehud Olmert (afastado da primeira linha política), o Kadima corre risco de desaparecer.
Segundo as pesquisas, a formação, liderada por Shaul Mofaz, passaria de força mais votada nas eleições de 2009 (28 deputados, que Livni preferiu levar à oposição do que aceitar a chantagem econômica proposta pelo partido ultra-ortodoxo Shas em troca de seu apoio) à quase morte parlamentar, com apenas duas cadeiras.
Netanyahu, por outro lado, está a ponto de conquistar seu terceiro mandato graças a Likud Beiteinu, a lista conjunta do Likud com o ultra-nacionalista Yisrael Beiteinu, que - segundo as pesquisas- será a mais votada no pleito e articulará uma nova coalizão de governo com outras formações de direita, religiosas e talvez de centro.
O atual primeiro-ministro, que chegou a renunciar do Executivo de Sharon por sua oposição à retirada de Gaza, protagonizou em 2011 uma polêmica ao dá-lo como morto.
Em ato com o titular de Interior, Eli Yishai, o primeiro-ministro israelense disse que o único líder nos últimos 50 anos que tinha reformado o mercado da habitação era "Ariel Sharon, que descanse em paz".
Netanyahu se desculpou pelo seu erro e desejou vida longa a Sharon, enquanto alguns dos presentes riam e comentaram sobre a gafe.
Um ano antes, Gilad Sharon e seu irmão Omri tinham organizado a mudança de seu pai para a Fazenda Sicomoros, no deserto de Neguev (sul de Israel), mas apenas 48 horas depois Sharon foi internado novamente.
Nascido em 1928 em uma cooperativa agrícola judaica na então Palestina sob proteção britânica, "Arik Sharon", como é conhecido popularmente no país, acumula uma longa e controvertida trajetória político-militar na qual se transformou em símbolo de "líder forte", partidário de operações duras e com um ódio pessoal de longe data contra Yasser Arafat.
Seu nome é motivo de controvérsia no mundo todo, principalmente por seu papel indireto nos massacres de palestinos dos campos de refugiados de Sabra e Shatila em 1982.
Seu filho Gilad foi recentemente objeto de polêmica, ao dizer em um documento público que queria "esmagar toda Gaza", já que seus civis "não são inocentes" por terem eleito o Hamas no pleito de 2006 e têm agora que "viver com as consequências".
"Os americanos não pararam com Hiroshima. Os japoneses não se rendiam suficientemente rápido, portanto também atacaram Nagasaki", afirmou em coluna de opinião publicado no jornal "The Jerusalem Post" durante a operação Pilar Defensivo, em novembro.