Repressão ao ativista de direitos humanos é similar ao que o artista Ai Weiwei sofreu no país (David Gray/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2011 às 06h58.
Pequim - O ativista de direitos humanos Hu Jia, que foi libertado neste domingo após cumprir três anos e meio de prisão por "subversão", anunciou à imprensa de Hong Kong que pretende continuar sua militância política crítica ao regime chinês.
"Meus pais me disseram: 'viva uma vida normal, não enfrente o regime, porque este regime é muito cruel e viola de forma arbitrária a dignidade de seus cidadãos', mas a única coisa que pude lhes dizer é que terei cuidado", afirmou Hu, de 37 anos, à emissora local "Cable TV".
Hu Jia foi libertado após cumprir a totalidade de sua pena, mas sofre restrição de seus movimentos e do direito à livre expressão, assim como outros dissidentes políticos, como o artista Ai Weiwei, libertado na quarta-feira passada após passar quase três meses preso.
Diante dessas limitações, o ativista lamentou a falta de liberdades na China em declarações à "Cable TV". "Às vezes é difícil ser piedoso e leal. Ou seja, ser leal à moralidade, leal aos direitos dos cidadãos, leal à consciência", afirmou Hu, agraciado em 2008 com o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento.
Os pais do dissidente, formados em universidades de elite chinesas, foram enviados a campos de reeducação laboral em 1957, acusados de serem "direitistas", da mesma forma que outros milhares de intelectuais que criticaram então o Governo de Mao Tsé-tung, explicara o próprio Hu Jia em 2007, antes de ser detido.
O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, expressou nesta segunda-feira sua satisfação com a libertação do preso político, que foi detido em dezembro de 2007 por ter participado - mediante videoconferência - de uma reunião da entidade na qual falou sobre a situação dos direitos humanos na China.
"Com um pouco de sorte, esperamos receber em pessoa Hu Jia no Parlamento Europeu para que recolha seu prêmio Sakharov", destacou Buzek em comunicado publicado nesta segunda-feira, após expressar seus temores de que tanto o ativista quanto sua esposa, a blogueira e também ativista Zeng Jinyan, sejam presos por seu ativismo.
Candidato ao Prêmio Nobel da Paz em 2008, Hu Jia ganhou fama, simpatizantes e inimigos por organizar campanhas de ajuda aos camponeses pobres que contraíram Aids na China vendendo sangue nos anos 1990 - escândalo até hoje não reconhecido pelo Governo - e por acusar as autoridades de ocultarem o assunto.
O dissidente sofre de hepatite B, doença agravada durante o período na prisão.
O representante do Parlamento Europeu pediu a Pequim que permita a Hu "seguir sua vida sem maiores obstáculos" e que possa receber a medicação necessária para recuperar a saúde, sem esquecer "os muitos ativistas políticos e defensores de direitos humanos que continuam injustamente presos na China, entre eles Liu Xiaobo (Prêmio Nobel da Paz de 2010)".
Hu Jia saiu da prisão em Pequim na madrugada de domingo (horário local) e se encontra em casa, na capital chinesa.
Segundo a Agência Efe pôde comprovar, a residência de Hu, paradoxalmente denominada "BoBo Cidade da Liberdade", está cercada pela Polícia, que impede os jornalistas de se aproximarem não só da entrada principal da casa, mas também de um posto de vigilância instalado a um quilômetro do local, no único caminho que leva ao domicílio.