Soldados malinenses: os especialistas alertam contra a disseminação do perigo jihadista na região. (Fred Dufour/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2013 às 13h42.
Bamako - Os islamitas armados, que perderam em 48 horas dois de seus três redutos no norte do Mali, reconquistados pelos soldados franceses e malinenses, reagrupam suas forças no extremo nordeste do país, onde ainda representam perigo, segundo especialistas.
Gao, cidade mais importante do norte do Mali, no sábado, Timbuktu, cidade mítica mutilada pelos jihadistas, na segunda-feira: as duas cidades mais populosas da região e símbolos da destruição cometida pelos grupos islâmicos armados foram retomadas com facilidade.
Os islamitas preferiram evitar o combate direto frente ao poderio das forças francesas e malinenses, que contaram com paraquedistas perto de Timbuktu, forças especiais na tomada do aeroporto de Gao e colunas de soldados no campo, além de ataques aéreos nos depósitos de armas e de combustível.
"É provável que eles comecem a utilizar táticas mais clássicas de guerrilha, com ataques pontuais, sequestros e atentados", disse Alain Antil, membro do Instituo francês de Relações Internacionais (Ifri).
As cidades retomadas e nas quais a proteção levaria tempo e mobilizaria um número importante de soldados poderão ser os novos alvos.
"Após a libertação das cidades, é preciso manter o controle. Isso significa postos de controle, revistas, e também significa o risco de atentados suicidas", afirmou Dominique Thomas, do Instituto de Estudos do Islã e das Sociedades do Mundo Muçulmano.
Diversos testemunhos falam de uma retirada dos chefes mais conhecidos como Iyad Ag Ghaly, da Ansar Dine, e do argelino Abu Zedi, da Al-Qaeda, ao Magrebe islamita, nas montanhas de Kidal, 1.500 km ao nordeste de Bamaco, perto da fronteira com a Argélia.
"Eles estão se disseminando no norte, nas regiões montanhosas de difícil acesso. Entramos numa estratégia de conflitos assimétricos, em duas frentes: no Mali e no exterior", disse jean-Charles Brisbard, consultor independente sobre terrorismo
Brisbard julga que atentados em território francês são possíveis, mas acredita que "por razões práticas, esses grupos lançarão represálias na África".
Os terroristas da Aqumi e seus aliados já provaram no passado sua capacidade de conduzir operações fortes na região, como a tomada do campo de exploração de gás de In Amenas, no Saara argelino, entre 16 e 19 de janeiro.
Centenas de pessoas foram ameaçadas e 38 foram mortas durante esta operação, conduzida por forças jihadistas composta de diversas nacionalidades (argelinos, canadenses, egípcios, malinenses, nigerianos).
"Ninguém está a salvo, não existe santuário. Percebam a composição das forças que atacaram, todas as nacionalidades representadas: não é preciso dizer mais nada", declarou Kader Abderrahim, pesquisador do Instituo de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), especialista em Argélia.
Os especialistas alertam contra a disseminação do perigo jihadista na região.
"Eles vão se reposicionar, na Líbia, na Argélia, até na Tunísia. É uma rede internacional. Vai haver uma hemorragia nos países fronteiriços", lamentou Souleimane Mangane, professor universitário malinense especialista em movimentos islâmicos.
Para Dominique Thomas, o mais importante é monitorar a evolução da zona, "em particular a capacidade da Líbia de se estruturar num Estado estável e seguro".