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Após escândalo da Oxfam, MSF também revela casos de assédio

A ONG Médicos sem Fronteiras revelou nesta quarta-feira, 14, ter registrado 24 casos de assédio e abusos sexuais em seu interior em 2017

MSF: quarenta casos foram identificados como "casos de abusos ou de assédio", sexual ou não (Spencer Platt/Getty Images)

MSF: quarenta casos foram identificados como "casos de abusos ou de assédio", sexual ou não (Spencer Platt/Getty Images)

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AFP

Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 10h06.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2018 às 10h07.

Paris - Em meio ao escândalo de acusações de estupros e uso de serviços de prostitutas por membros da ONG Oxfam, que abala todo o setor humanitário, outra ONG, a Médicos sem Fronteiras (MSF) revelou nesta quarta-feira ter registrado 24 casos de assédio e abusos sexuais em seu interior em 2017.

A ONG internacional, criada na França, mas que tem 40.000 funcionários permanentes no mundo, informou em um comunicado que sua direção recebeu 146 reclamações ou alertas.

Este registro é parcial, pois a ONG não inclui "os casos diretamente administrados pelas equipes no terreno e não apontados à sede" operacional de Paris.

"Embora as queixas de abusos aumentem com regularidade, a MSF é consciente de que os abusos que ocorreram em seu seio estão subavaliados", informou a ONG.

Quarenta casos foram identificados como "casos de abusos ou de assédio", sexual ou não, depois de uma investigação interna e, entre os 40 casos, 24 foram de assédio ou abuso "sexual", informou a MSF.

Dos 24 casos, 19 pessoas foram demitidas, acrescentou a organização. "Em outros casos, os funcionários foram sancionados com medidas disciplinares ou suspensões", acrescentou o comunicado.

A MSF fez estas revelações em meio ao escândalo da Oxfam e quando aumentam as acusações que implicam a ONG, especialmente a de não ter destacado o comportamento de um de seus quadros envolvidos.

Alvo de várias acusações, o belga Roland van Hauwermeiren, ex-diretor no Chade e no Haiti da Oxfam antes de renunciar, foi processado em 2004 por abuso sexual, quando estava destacado na Libéria pela ONG britânica Merlin. Depois da Oxfam, trabalhou na ONG francesa Action contra a fome em Bangladesh, que critica não ter sido informada.

Depois das revelações sobre o uso de serviços de prostitutas e potenciais abusos sexuais no Chade e no Haiti, Helen Evans, diretora de prevenção interna na Oxfam entre 2012 e 2015, denunciou na terça-feira a existência de uma "cultura de abusos sexuais em alguns escritórios" e se referiu a estupros ou tentativas de estupro no Sudão do Sul, ou de agressões a menores voluntários em lojas da ONG no Reino Unido.

A ONG também está afetada em outra frente: a detenção na terça-feira na Guatemala do presidente da Oxfam International, o ex-ministro das Finanças Juan Alberto Knight, no âmbito de um escândalo de corrupção relacionado com estes casos sexuais.

Os efeitos não demoraram a se sentir na Oxfam. Na segunda-feira, renunciou sua diretora-geral adjunta, Penny Lawrence.

Na terça-feira à noite, a atriz e cantora britânica Minnie Driver, indicada ao Oscar, anunciou sua renúncia ao papel de "embaixadora" da Oxfam.

Na quarta-feira, uma porta-voz da ONG informou que a organização humanitária registrou 1.270 anulações de doações por pagamento automático entre sábado e segunda-feira a uma média mensal de 600.

Na quinta-feira, representantes da ONG são convocados pelo ministério haitiano de Planejamento e Cooperação externa para dar explicações e o presidente Jovenel Moïse denunciou uma "violação muito grave da dignidade humana".

Depois destas acusações, a secretária de Estado de desenvolvimento internacional britânica, Penny Mordaunt, escreveu a todas as ONGs pedindo-lhes que reforcem seus procedimentos de controle.

"Queremos uma mudança de procedimento (...), que o pessoal preste contas de suas ações", declarou Mordaunt em um colóquio internacional em Estocolmo.

Para Mike Jennings, diretor de estudos sobre o desenvolvimento na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, as situações de urgência são um meio propício para os abusos.

"Há pessoas extremamente vulneráveis que, com frequência perderam tudo, e outras que têm acesso a muitos recursos, o que lhes dá poder", disse à AFP.

Em Londres, clientes habituais das lojas Oxfam não parecem ser muito rigorosos com a ONG. "É como um braço de uma rede de lojas, não é o todo", avalia Richard.

No entanto, os abusos sexuais são uma "prática corrente" no meio humanitário, denunciou na BBC Megan Nobert, uma jovem que foi drogada e violentada quando trabalhava para um programa da ONU no Sudão do Sul em 2015.

"A comunidade humanitária não é a última da lista", na linha do escândalo Weinstein ou a campanha #MeToo e "deve agora abordar publicamente este problema que tentava solucionar de forma discreta", acrescentou.

A Oxfam é uma poderosa confederação de umas vinte ONGs presentes em mais de 90 países.

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