Macron: o presidente-eleito sabe que muitos eleitores votaram nele sem entusiasmo, apenas para frear a extrema-direita (Christian Hartmann/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de maio de 2017 às 10h51.
Última atualização em 8 de maio de 2017 às 10h52.
O presidente eleito da França, Emmanuel Macron, um centrista com pouca experiência e sem maquinaria de partido, enfrenta a partir desta segunda-feira seu primeiro grande desafio: formar um governo para travar a incerta batalha das eleições legislativas de junho em um país profundamente dividido.
Emmanuel Macron, de 39 anos e apenas dois de experiência ministerial, venceu no domingo no segundo turno das eleições presidenciais francesas a ultradireitista Marine Le Pen, com 66,1% dos votos contra 33,9%.
No entanto, sua ampla vitória ficou manchada por uma taxa de abstenção recorde (25,44%), a mais alta desde 1969. A isto se somam os votos brancos e nulos, que chegam a 9%, outro máximo.
"Lutarei com todas as minhas forças contra as divisões que nos atormentam", prometeu no domingo Macron, que herda um país fraturado no qual mais da metade de seus compatriotas apostaram nos extremos no primeiro turno.
Diante de milhares de partidários que celebraram a vitória deste europeísta até altas horas da madrugada na esplanada do Museu do Louvre, o centrista disse ser consciente de que muitos dos que votaram não deram "um cheque em branco".
Emmanuel Macron sabe que muitos eleitores votaram nele sem entusiasmo, apenas para frear a extrema-direita. Estes votos "por eliminação" em vez de por "convicção" não estão conquistados de antemão para as legislativas.
Macron, que confia na coerência dos franceses, pediu aos eleitores que lhe concedam em junho uma "maioria de mudança". Sua margem de manobra à frente da presidência dependerá do resultado obtido nestas eleições por seu partido fundado há apenas um ano, "Em Marcha!", e das possíveis alianças com outras formações.
Segundo uma pesquisa, seu movimento colheria entre 24% e 26% das intenções de voto, à frente do partido conservador Os Republicanos (22%), da extrema-direita da Frente Nacional (21% a 22%), da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon (13%-15%) e do Partido Socialista (8%-9%).
Em seu primeiro dia como presidente eleito, Macron participou com o ainda chefe de Estado François Hollande, de quem foi ministro da Economia (2014-2016), da comemoração da capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial na Champs Élysées.
A transferência de comando será realizada no próximo domingo, o dia em que expira o mandato de Hollande que, afundado nas pesquisas, desistiu de se candidatar à reeleição.
A partir deste momento se espera que anuncie o nome de seu primeiro-ministro, que diz conhecer, mas que até agora se negou a revelar.
Longe do derrotismo, a extrema-direita de Marine Le Pen, que celebrou o resultado "histórico e maciço" de seu partido, prometeu continuar a batalha e ter sua revanche esperando se posicionar como a principal força de oposição.
Com mais de 10 milhões de votos, a Frente Nacional superou o recorde histórico do partido. Na mesma eleição, há 15 anos, seu pai conquistou apenas 700.000 votos contra o conservador Jacques Chirac.
A líder ultradireitista planeja "propor uma transformação profunda" da Frente Nacional, com o "objetivo de constituir uma nova força política que muitos franceses exigem".
Para as legislativas, Le Pen selou um acordo com o candidato soberanista Nicolas Dupont-Aignan, que obteve menos de 5% dos votos no primeiro turno destas presidenciais.
"Liderarei este combate" eleitoral, anunciou Le Pen, que pode se apresentar novamente em seu reduto operário de Hénin-Beaumont, onde perdeu por pouco em 2012.
Junto às legislativas, outro dos grandes desafios de Macron será a economia e, em particular, a luta contra o desemprego, considerado um dos grandes fracassos do presidente em fim de mandato.
A França, segunda economia da Eurozona, tem uma taxa de desemprego de 10%, muito acima da registrada na Alemanha (3,9%) e da média da União Europeia (8%).
No entanto, o futuro presidente se beneficiará de uma conjuntura econômica favorável.
Este político inexperiente também terá que assumir o papel de chefe das Forças Armadas em um país em estado de emergência diante de uma ameaça terrorista latente.