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Após 27 mortos em protestos, Nicarágua revoga reforma da Previdência

Segundo o presidente do país, foi decido pela desistência das duas resoluções que serviram como "estopim para que se iniciasse esta situação"

Nicarágua: os protestos envolveram também saques em lojas e supermercados (Oswaldo Rivas/Reuters)

Nicarágua: os protestos envolveram também saques em lojas e supermercados (Oswaldo Rivas/Reuters)

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EFE

Publicado em 23 de abril de 2018 às 06h42.

O governo da Nicarágua decidiu revogar neste domingo as reformas propostas para a previdência social que causaram protestos populares que deixaram ao menos 27 mortos desde a última quarta-feira, segundo dados de organizações de defesa dos direitos humanos no país, além de mais de 100 feridos e danos a estabelecimentos comerciais e outros imóveis.

O Conselho Diretor do Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS) concordou em revogar as duas resoluções que serviram como "estopim para que se iniciasse esta situação", disse o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em mensagem à população.

"Estamos revogando, ou seja, cancelando e deixando de lado, as resoluções anteriores que serviam de estopim para que se iniciasse esta situação", ressaltou o presidente.

Através de duas resoluções, o Conselho Diretor do INSS tinha estabelecido na última terça-feira um aumento nas alíquotas de contribuição à previdência dos trabalhadores e das empresas, e que os aposentados teriam que arcar com 5% do valor de suas pensões em conceito de cobertura de doenças, entre outras modificações.

Em seu discurso, Ortega reconheceu que essa proposta não teve "viabilidade" e foi revogada para facilitar o diálogo com o setor privado e com os representantes dos trabalhadores.

O presidente disse que a reforma da previdência social "criou está situação dramática", em alusão aos protestos populares, que, em muitos casos, derivaram em episódios de violência e vandalismo.

Além disso, Ortega convidou o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes e os bispos para que sejam os mediadores de um diálogo entre o Executivo, o setor privado e os trabalhadores.

Os protestos contra Ortega começaram na última quarta-feira, em rejeição às propostas de reforma da previdência social.

A população, no entanto, também protesta contra as supostas fraudes eleitorais, os aumentos contínuos no preço dos combustíveis, a impunidade das forças policiais, as mortes sem explicação de camponeses que se opuseram ao governo, e o discurso oficial de "paz e reconciliação" que, supostamente, não reflete a realidade do país.

Ontem, em seu primeiro comparecimento público desde que a crise começou, Ortega culpou "pequenos grupos da oposição", cujos nomes não especificou, de serem os responsáveis pelos atos de violência e vandalismo.

Os manifestantes utilizaram as redes sociais para denunciar a repressão exercida por parte da polícia e o apoio dos agentes às forças de choque vinculadas ao governo, a quem responsabilizam pelos saques aos estabelecimentos comerciais.

Soldados do exército da Nicarágua estão mobilizados em várias cidades pelo segundo dia, após uma noite de enfrentamentos e vandalismo, uma situação que se agravou nas últimas horas.

Os incidentes violentos resultaram na morte de pelos menos 27 pessoas, entre elas um jornalista que morreu ao ser atingido por um disparo fulminante enquanto noticiava os protestos, um adolescente e um policial, segundo organizações humanitárias. O governo, no entanto, informou que os mortos são dez, um dado divulgado na última sexta-feira e que não foi atualizado.

Além disso, mais de 100 pessoas ficaram feridas e o número de detidos é desconhecido.

Hoje, o comércio entrou em colapso no país e a escassez de produtos começou a ficar evidente na capital Manágua e em várias cidades do litoral do Pacífico

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