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Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2012 às 16h47.
Nova York - Cento e cinquenta anos depois de Víctor Hugo ter escrito "Os Miseráveis", o musical inspirado nessa clássica obra chega aos cinemas com uma história ainda em vigor pelas mãos do oscarizado diretor Tom Hooper e com um elenco carregado de estrelas, como Hugh Jackman e Anne Hathaway.
""Os Miseráveis" é o grande hino dos despossuídos, tem essa mensagem de que podemos nos levantar unidos para melhorar as coisas. Acho que há algo inspirador nisso, principalmente no momento que estamos vivendo", declarou Hooper ("O Discurso do Rei") durante a apresentação do filme em Nova York.
Desde os protestos do movimento "Occupy" Wall Street na Grande Maça até os levantamentos populares no Oriente Médio, passando pelas maciças manifestações na Europa, o mundo atravessa um momento "de ira contra o sistema", o que torna essa história ainda mais atual, apontou o diretor.
Ambientado na França do século XIX, no centro de "Os Miseráveis" se encontra um grupo de estudantes revolucionários que se levanta em armas para lutar contra a corrupção do governo e a pobreza que castiga o povo em pleno coração de Paris.
O filme, que se estreia nos Estados Unidos no próximo dia 25 de dezembro (1º fevereiro no Brasil), começa a partir da história de Jean Valjean (Hugh Jackman), que sofre a implacável perseguição do inspetor da polícia Javert (Russell Crowe) após quebrar sua liberdade condicional, sendo que, anteriormente, o mesmo passou anos preso por ter roubado um pedaço de pão.
Valjean consegue refazer sua vida como prefeito e proprietário de uma fábrica, mas sua existência dá um giro inesperado quando uma de suas operárias, Fantine (Anne Hathaway), é despedida. Após ter vendido tudo, inclusive seu próprio corpo, a funcionária pede para o protagonista cuidar de sua filha.
Graças à pequena Cosette (Amanda Seyfried, de "Mamma Mia!"), Veljean "conhece pela primeira vez o que é querer", explicou o ator durante a apresentação do longa. Isso porque, quando ela se torna mais velha e passa a namorar um jovem revolucionário, Valjean decide ir até as barricadas para resgatar a jovem.
"É um dos grandes personagens literários e o vejo como um verdadeiro herói. Jean Valjean vem de um lugar repleto de dificuldades que eu nunca poderia imaginar e, mesmo assim, consegue se transformar. Neste caso, (Víctor) Hugo utiliza a palavra transfiguração, que é mais que uma transformação, é algo religioso e espiritual", afirmou o ator sobre seu personagem.
O australiano, que firmou sua carreira nos palcos da Broadway, celebrou que o diretor do filme decidisse gravar todas as canções do musical ao vivo e não fazer "playback", uma decisão que submeteu todo elenco a exaustivas audições, inclusive o próprio Jackman.
Apesar de Jackman, assim como o neozelandês Russell Crowe, contar com um longo histórico musical em suas costas, a adaptação cinematográfica da obra "Os Miseráveis" revela outras vozes menos conhecidas, como a de Anne Hathaway, que chega ao seu auge na dilaceradora "I Dreamed a Dream".
A atriz nova-iorquina, por sua vez, explicou que teve que praticar durante semanas para conseguir cantar e chorar ao mesmo tempo para interpretar essa balada, na qual Fantine narra o abandono de seu companheiro e o declínio de sua vida até chegar a prostituição.
Por não ter nenhuma forma de se relacionar com o contexto vivido por seu personagem, Anne decidiu "tentar entrar na realidade de sua história como se fosse em nossos dias", ou seja, lendo artigos e vendo documentários sobre escravidão sexual.
"Eu pensei em Fantine como uma mulher do passado, mas percebi que ele está vivendo em Nova York agora, provavelmente a menos de uma quadra daqui (...) vi que ele não era uma invenção e eu não estava agindo, mas honrando essa dor existe no nosso mundo", completou a atriz.
O filme, que conta com outras estrelas, como Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, é a adaptação de um musical que já foi visto por mais de 60 milhões de pessoas em 42 países de todo o mundo, o que supõe um grande desafio para Hooper, que ganhou fama há menos de dois anos com o premiado "O Discurso do Rei".
"Sou muito consciente de que milhões de pessoas levam este musical no coração e que, provavelmente, poderiam pensar que tínhamos estragado ou danificado seu espírito (...)", reconheceu o diretor, que ressaltou ter "protegido o DNA emocional da obra".