Itália: autoridades afirmam que 400 imigrantes foram recebidos no país nas últimas semanas (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 27 de junho de 2019 às 15h22.
O navio humanitário Sea-Watch, que quebrou a proibição de entrar em águas italianas nesta quarta-feira, permanecia bloqueado em frente à ilha siciliana de Lampedusa, com 42 imigrantes que se encontram a bordo há 15 dias.
"Vamos esperar mais uma noite. Não podemos esperar mais, não podemos brincar com o desespero das pessoas necessitadas", anunciou a ONG alemã Sea-Watch.
O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, reiterou na véspera sua firme oposição à autorização do desembarque de migrantes a menos que sejam imediatamente transferidos para a Holanda, a bandeira do país do barco, ou para a Alemanha, origem da ONG Sea-Watch.
Salvini ainda exige que a tripulação seja presa e o navio apreendido, como fez em outros casos de navios humanitários carregados de migrantes depois que ordenou o bloqueio de portos para impedir o fluxo de imigrantes ilegais para as costas da Itália.
"Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou arriscando, mas os 42 náufragos a bordo estão esgotados. Estou levando o grupo para um lugar seguro", declarou no Twitter a capitã alemã da embarcação, Carola Rackete, de 31 anos, em aberto desafio a Salvini.
O ministro do Interior, por sua vez, denunciou o "joguinho político desprezível" das ONGs, mas também a indiferença mostrada por Holanda e Alemanha.
"Os governos de Berlim e Haia responderão por isso", ameaçou Salvini.
Heroína para os migrantes, um "pé no saco" para Matteo Salvini, a capitã alemã de 31 anos, Carola Rackete, desafiou as duras regras contra a migração na Itália para desembarcar 42 migrantes esgotados.
Rackete enfrenta um processo por ajudar a imigração ilegal, bem como a apreensão do navio e uma multa de 50 mil euros, de acordo com um novo decreto de Salvini.
Segundo estatísticas do Ministério do Interior, mais de 400 migrantes desembarcaram na Itália nas últimas duas semanas. Entre eles, muitas chegaram em pequenos barcos a Lampedusa.
Dos 53 migrantes resgatados em 12 de junho pela Sea-Watch em águas líbias, a Itália já aceitou o desembarque de 11 pessoas vulneráveis, como crianças, mulheres e doentes.
Dezenas de cidades alemãs se disseram dispostas a receber migrantes, enquanto, na segunda-feira, o bispo de Turim (norte da Itália), Cesare Noviglia, anunciou que sua diocese poderia acolher o grupo.
Para Carola Rackete, é uma questão de princípio: "Não importa como você acabou numa situação de perigo. Os bombeiros não se importam com isso, os hospitais também não. Para a lei marítima isso também não importa. Se alguém precisa ser resgatado no mar, você tem o dever de resgatá-lo", explicou.
"A ajuda termina quando você deixa as pessoas em um lugar seguro", acrescentou.
Desde a chegada do governo populista ao poder na Itália em junho de 2018, as crises se sucederam em relação aos migrantes que permaneciam a bordo desses barcos de resgate. Um acordo de distribuição foi assinado entre vários países europeus, e os migrantes puderam desembarcar.
"Nós, europeus, permitimos que nossos governos construíssem um muro no mar. Existe uma sociedade civil que luta contra isso e eu faço parte dela", resumiu Rackete.
"Estou disposto a ir para a prisão e vou me defender no tribunal, se necessário, porque o que estamos fazendo está correto", acrescentou.