São Paulo - Difícil resistir a um pedaço suculento de bife, não? Onipresente na dieta de muitos países, a carne vermelha tem um custo que passa despercebido na nota fiscal: o seu impacto no meio ambiente. Um novo estudo sugere que a mudança de hábitos alimentares pode ajudar a mitigar emissões de gases efeito estufa, vilões do aquecimento global.
Não se trata de renunciar à carne, mas de reduzir seu consumo, a começar em países conhecidos pelo apetite voraz. Nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 160 quilos de carne em um ano.
Isso dá quase meio quilo de carne por dia, sendo que, para suprir as necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos, recomenda-se entre 100 e 120 gramas.
É o excesso que pesa no orçamento planetário, pressionando os recursos naturais.
Segundo o estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, 60% das terras agrícolas do mundo são usadas para a produção de carne bovina e para o cultivo de grãos que servem de ração para os animais.
Estas práticas respondem por nada menos do que 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, além de demandarem grande quantidade de terra e serem fonte de poluição das águas por excesso de nutrientes (oriundos do esterco dos animais).
A pesquisa mostra uma nova escala dos danos. A carne vermelha exige 28 vezes mais terra do que para produzir a carne de porco ou frango, 11 vezes mais água e resulta em cinco vezes mais emissões responsáveis pelo aquecimento global.
Quando comparado com produtos como batata, trigo e arroz, o impacto da carne por caloria é ainda mais gritante — requer 160 vezes mais terra e produz 11 vezes mais gases de efeito estufa.
“A produção de alimentos à base de carne é uma forma importante e generalizada dos humanos impactarem o meio ambiente. Ajudar o consumidor a fazer escolhas que mitiguem alguns destes impactos deve ser uma prioridade socioambiental”, dizem os pesquisadores.
Berlinda climática
Em abril, uma outra pesquisa, feita pela Universidade de Tecnologia Chalmers, estimou que s emissões de gases de efeito de estufa provenientes da agropecuária podem ameaçar a meta climática da ONU de limitar o aquecimento global a 2ºC.
Segundo a pesquisa, o óxido nitroso e o gás metano, liberados pelas atividades no campo, podem dobrar até 2070, o que, por si só, já tornaria inviável cumprir a meta do clima.
A redução do consumo de carne vermelha, naturalmente, afetaria o número de ruminantes criados para alimentação no mundo, e vice-versa.
Em um estudo publicado em dezembro de 2013, na revista Nature Climate Change, cientistas sugeriram a redução da massa global de 3,6 bilhões de ruminantes, que hoje é 50 por cento maior do que aquela que percorria o planeta meio século atrás.
Segundo a pesquisa, o caminho para reduzir esse número seria através da implementação de algum tipo de sistema de impostos ou de comércio, como a redução dos subsídios governamentais para a produção de carne, o que alteraria os preços ao consumidor e afetaria os padrões de consumo.
Em entrevista ao britânico The Guardian, os autores afirmaram que "influenciar o comportamento humano é um dos aspectos mais desafiadores de qualquer política e é pouco provável que uma mudança na dieta em grande escala aconteça voluntariamente, sem incentivos".
Embora a redução das populações de animais se apresente como uma forma clara para mitigar as emissões do agronegócio global, os agricultores e proprietários de terras têm inúmeras outras oportunidades de mitigação, muitas das quais oferecem co-benefícios ambientais e até econômicos.
Relatório do Worldwatch Institute destaca o cultivo de árvores lenhosas e perenes em terra como forma de sequestrar carbono, ao mesmo tempo em que ajuda a restaurar os solos, reduzir a contaminação da água e fornecer benefícios para o habitat dos animais selvagens.
Algumas práticas podem até mesmo resultar em aumento de renda para os agricultores, através de programas "cap-and-trade", onde ao criar e conservar áreas plantadas, os agricultores poderiam comercializar licenças de emissões.
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1. Uma janela para o futuro
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1/9 (Getty Images)
São Paulo - É comum ouvir no debate sobre
mudanças climáticas que o pior ainda está por vir. Ao olhar para foto de uma mãe em prantos com uma criança no colo, na cidade de Tacloban, nas Filipinas, que foi detruída por um tufão no ano passado, não dá para ignorar o óbvio: nós já vivemos o pior que poderíamos em nossa geração. E nossos filhos e nossos netos enfrentarão - se nada for feito até lá - o que de pior poderão viver no seu tempo. É exatamente isso o que mostra a segunda parte do
IPCC, o painel de cientistas da
ONU, que faz um diagnóstico do clima e de seus efeitos para o
meio ambiente, as pessoas, as cidades, os governos, o mundo como o conhecemos hoje. O alerta vem na forma de previsões que consideram o aumento de 2 a 4 graus Celsius na temperatura do globo. Nos próximos slides, você vai conhecer os principais perigos que o futuro nos reserva em frente da atual falta de ação dos governos.
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2. 1 – Ameaças à mesa
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2/9 (Getty Images)
O relatório traz uma conta que, além de salgada, não fecha: a produtividade agrícola pode cair 2% por década até o final do século, ao passo que a demanda deverá aumentar 14% até 2050. É uma perda preocupante contra a qual será preciso lutar, sob a dura pena de mergulhar bilhões de pessoas na fome – um mal que atinge um em cada sete habitantes do planeta.
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3. 2 - Mais pobres e mais famintos
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3/9 (Christopher Furlong/Getty Images)
A escalada dos preços dos alimentos é uma questão de vida e morte para as populações que vivem em países em desenvolvimento e que gastam até 75% de sua renda para conseguir comer. Como se não bastasse, os mais pobres também são os mais afetados pelos extremos do clima, uma vez que seus países estão menos preparados para lidar com essas alterações.
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4. 3 – Imigrações em massa
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4/9 (Getty Images)
Segundo o documento, "centenas de milhões de pessoas" serão forçadas a migrar por causa de inundações costeiras e cheias fluviais e outras catástrofes que afetarão suas terras. São os chamados refugiados climáticos.
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5. 4 - Escassez de água
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5/9 (Nacho Doce/Reuters)
A água também se tornará mais escassa. Considerando um cenário com uma população mundial 7% maior do que a de hoje, para cada aumento de um grau na temperatura, haverá 20% menos disponibilidade de água.
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6. 6 – Riscos à saúde humana
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6/9 (Greenpeace/Divulgação)
As ameaças à saúde são um tema comumente negligenciado nas discussões sobre mudanças climáticas, que costumam focar no debate sobre o meio ambiente e efeitos econômicos. Mas o novo relatório do IPCC mostra que os riscos à saúde são reais e precisam ser encarados. Na lista, entram o aumento de doenças transmitidas por mosquitos ou típicas de zonas úmidas e incremento da mortalidade e de doenças provocadas pelo calor. Outro perigo vem da contaminação de alimentos e da água consumidos nas regiões mais vulneráveis do globo.
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7. 6 - Aumento de cheias
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7/9 (REUTERS/Supri)
Não são poucas as regiões no mudo vulneráveis à elevação do nível do mar e às cheias de rios, e a situação pode piorar. Segundo o novo relatório do IPCC, centenas de milhões de pessoas correm risco de ser afetadas por cheias no litoral, a maior parte na Ásia, até 2100. Até lá, o número de vulneráveis poderá triplicar considerando o pior cenário de aquecimento, de mais 4.8 graus Celsius, em comparação com o cenário mais brando, de até 1,7 graus.
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8. 8 - Oceanos pedem ajuda
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8/9 (Jenny W / SXC)
Como a água, que ajuda a regular a temperatura do corpo humano, os oceanos são os maiores aliados da Terra para manutenção do seu equilíbrio climático. Eles absorvem grande parte da radiação solar que atinge o Planeta e também funcionam como sumidouros de dióxido de carbono (CO2). Mas esses heróis do clima já se revelam vítimas do aquecimento global. Desde o início da era industrial, a acidez das águas do planeta aumentou 30% alcançando um nível sem igual nos últimos 55 milhões de anos. Várias formas de vida marinhas podem ser prejudicadas. O relatório destaca que a acidificação interfere principalmente no desenvolvimento das espécies com carapaça ou esqueleto de carbonato cálcico, como corais e moluscos. O estudo também alerta para uma grande redistribuição pelos oceanos em todo o mundo até 2060, diminuindo nas regiões tropicais e crescendo nas latitudes médias e altas, em decorrência das mudanças climáticas.
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9. 9 - Prejuízos econômicos
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9/9 (AFP)
O Painel da ONU não define com exatidão as possíveis perdas econômicas decorrentes das mudanças climáticas e catástrofes naturais. Mas faz uma estimativa conservadora, que dá uma ideia dos riscos ennolvidos: as perdas econômicas podem variar de 0,2% a 2% do PIB mundial. Considerando a pior hipótese, estamos falando de US$ 1,4 trilhão de dólares por ano.