Líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó: oposição está unido na necessidade de se livrar de Nicolás Maduro, disse em entrevista (Bloomberg/Bloomberg)
Gabriela Ruic
Publicado em 8 de junho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 8 de junho de 2019 às 08h00.
Na quinta-feira, Juan Guaidó levantou e jogou um balde de água sobre o corpo.
Foi seu banho. Como milhões de pessoas na Venezuela, o político que dezenas de países reconhecem como o líder legítimo de seu país arrasado não pode confiar nas torneiras.
"É uma das coisas que eu mais odeio", disse o parlamentar, de 35 anos, em entrevista. "É um símbolo da pobreza e, durante a maior parte da minha vida, tive que fazer isso."
E, no entanto, o político continuava demonstrando na maior parte do tempo esse otimismo característico, exibindo uma atitude "sim, podemos", que seus seguidores adoram e que seus detratores consideram ingênua.
Guaidó falou sobre como a Venezuela teria que tolerar muito mais sofrimento para conseguir derrubar o regime autocrático de Nicolás Maduro. Apesar disso, disse, os Estados Unidos não deveriam aliviar as sanções que agravam a crise econômica.
"As coisas vão piorar" antes de uma mudança, alertou.
No fim das contas, insistiu, o movimento da oposição, que ressurgiu depois que Guiadó se tornou líder da Assembleia Nacional em janeiro, vai triunfar. Guaidó acredita que o país terá novas eleições em seis ou nove meses, porque a pressão sobre os colaboradores mais próximos de Maduro vai continuar.
Diante do panorama atual, essas declarações soam excessivamente otimistas, mesmo para os padrões de Guaidó. Depois que uma revolta militar orquestrada por Guaidó foi reprimida no fim de abril, o impulso interno e no exterior parece ter sido perdido. Muitos dos aliados mais próximos de Guaidó estão presos, refugiados em embaixadas estrangeiras ou no exílio.
Até mesmo o próprio Guaidó, que os EUA têm se esforçado para proteger, está fugindo, mudando frequentemente para se adiantar às forças de segurança de Maduro.
Na quinta-feira, Guaidó concedeu a entrevista em um escritório vazio, com uma entrada escura, protegida por guarda-costas corpulentos em um prédio no leste de Caracas. Entre ligações e reuniões, Guaidó sentou-se e assistiu a um vídeo da filha de 2 anos.
Durante um almoço improvisado servido em contêineres de isopor, Guaidó defendeu a estratégia da oposição e minimizou as críticas de que a tentativa de derrubar Maduro está perdendo força ou mesmo estagnada.
"Temos que seguir em frente", disse Guaidó. "A perseguição não muda a forma de fazer política, mas a torna mais complexa e mais difícil de conseguir em termos de conseguir apoio nas ruas."
No início do ano, o “Efeito Guaidó” impulsionou os preços dos imóveis e o mercado acionário diante da expectativa de que Maduro deixaria o poder. Mas o otimismo não durou, e o índice de aprovação de Guaidó em pesquisas de opinião caiu cerca de 5 pontos percentuais desde fevereiro, para 56,5%. Embora seja um dado a ser acompanhado, Guaidó destaca que não fazia parte do cenário político há alguns meses e que a aprovação de Maduro está nos menores níveis já vistos.
Guaidó recebeu apoio sem precedentes da administração Trump, que impôs sanções contra indivíduos, contra o setor petrolífero, comércio de ouro e o banco central.
Entre as potências mundiais que não o apoiam estão China e Rússia, principais credores da Venezuela. Mas Guaidó disse que as recentes declarações de ambos os países mostraram uma suavização de postura e sinalizaram disposição para encontrar uma solução.
Guaidó não parece ter se incomodado com um relatório no qual o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, culpou as disputas internas da oposição pela demora em derrubar Maduro e previu que, caso deixe o poder, cerca de 40 pessoas vão disputar a presidência.
"Estamos unidos no desejo e na necessidade de nos livrarmos de Maduro", disse Guaidó. “Se 40 pessoas quiserem concorrer à presidência, são bem-vindas. Isso é democracia."