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Apesar de tensões, Rússia busca ajuda dos EUA para reconstruir Síria

Proposta ilustra como a Rússia está pressionando Washington para auxiliar na reconstrução de áreas sob controle de Assad, fortalecendo seu poder

Plano russo, que não foi relatado anteriormente, teve uma recepção apática em Washington (Ronen Zvulun/Reuters)

Plano russo, que não foi relatado anteriormente, teve uma recepção apática em Washington (Ronen Zvulun/Reuters)

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Reuters

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 21h48.

Washington - A Rússia usou um canal de comunicação rigorosamente protegido com o principal general dos Estados Unidos para propor que os dois ex-inimigos da Guerra Fria cooperem para reconstruir a Síria e repatriar refugiados do país devastado pela guerra, de acordo com um memorando do governo dos Estados Unidos.

A proposta foi enviada em carta de 19 de julho pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov, ao general dos Fuzileiros Navais Joseph Dunford, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, segundo memorando visto pela Reuters.

O plano russo, que não foi relatado anteriormente, teve uma recepção apática em Washington. O memorando dizia que a política dos EUA é de somente apoiar tais esforços se houver uma solução política para encerrar a guerra de sete anos na Síria, incluindo medidas como eleições supervisionadas pela Organização das Nações Unidas.

A proposta ilustra como a Rússia, tendo ajudado a virar o rumo da guerra a favor do presidente Bashar al-Assad, agora está pressionando Washington e outros para auxiliarem na reconstrução de áreas sob controle de Assad. Tal esforço provavelmente ajudaria a fortalecer ainda mais a posição de Assad no poder.

"A proposta argumenta que o regime sírio não possui equipamentos, combustível, outros materiais e financiamentos necessários para reconstruir o país para aceitar retornos de refugiados", de acordo com o memorando, que especificava que a proposta era relacionada às áreas do país controladas pelo governo sírio.

Os EUA adotaram em 2011 uma política de que Assad deve deixar o poder, mas depois observaram as forças do governo sírio, apoiadas pelo Irã e então a Rússia, reconquistarem territórios e assegurarem a posição de Assad.

Os EUA traçaram um limite sobre assistência em reconstrução, dizendo que isto estaria amarrado ao processo que inclui eleições supervisionadas pela ONU e uma transição política na Síria. Os EUA culpam Assad pela devastação da Síria.

O escritório de Dunford se negou a comentar sobre comunicação com Gerasimov.

"De acordo com prática passada, ambos generais concordaram em manter em particular os detalhes de suas conversas", disse a porta-voz capitã Paula Dunn.

O Kremlin e o Ministério da Defesa da Rússia não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

O conflito na Síria matou cerca de meio milhão de pessoas, fez com que 5,6 milhões fugissem do país e deslocou cerca de 6,6 milhões dentro dele.

A maior parte dos que fugiram do país é da maioria muçulmana sunita e é incerto se o governo de Assad, dominado por alauitas, irá permitir que todos retornem livremente. Sunitas representam grande parte da oposição armada contra Assad.

"Os Estados Unidos só irão apoiar retornos de refugiados quando forem seguros, voluntários e dignos", dizia o memorando, que é especificamente sobre o plano russo para a Síria.

A reconstrução da Síria será também um esforço maciço, custando ao menos 250 bilhões de dólares, de acordo com uma estimativa da ONU.

Algumas autoridades dos EUA acreditam que a dependência da Síria com a comunidade internacional por reconstrução, junto à presença dos EUA e de forças apoiadas pelos EUA em parte da Síria, dá poder a Washington conforme diplomatas pressionam por um fim negociado à guerra.

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