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Ao lado de Netanyahu, Trump defende realocação permanente da população da Faixa de Gaza

Segundo o presidente americano, palestinos vivem 'como se estivessem no inferno' e que o enclave 'não é um lugar para as pessoas viverem'

Trump e Netanyahu: presidente dos EUA sugere reassentamento permanente de palestinos fora de Gaza (Olivier Douliery/Getty Images)

Trump e Netanyahu: presidente dos EUA sugere reassentamento permanente de palestinos fora de Gaza (Olivier Douliery/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 21h05.

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Na primeira visita de um líder estrangeiro à Casa Branca desde o início de seu segundo mandato, o presidente Donald Trump defendeu a ideia de realocar de forma permanente a população da Faixa de Gaza em outros países, avançando em uma proposta que vem ventilando nas últimas semanas. Ao lado de seu convidado, o premiê israelense Benjamin Netanyahu, afirmou que o enclave palestino "não é um lugar para as pessoas viverem" e que os moradores "não deveriam voltar para lá".

Pouco antes da reunião entre os dois líderes, Trump declarou que os palestinos de Gaza vivem "como se estivessem no inferno", mas que "adorariam sair" e ficariam "encantados" longe de seus lares. Ele citou nominalmente Jordânia e Egito como potenciais destinos para os palestinos, além de "outros países" da região.

"Não acho que as pessoas deveriam voltar para Gaza. Acho que Gaza tem sido um lugar de má sorte para elas. Gaza não é um lugar para as pessoas viverem", disse Trump, ao lado de Netanyahu. "Espero que possamos fazer algo para que eles não queiram voltar. Eles não experimentaram nada além de morte e destruição".

Trump sugere reassentamento e pressiona por trégua

Trump afirmou ainda que há interessados em participar da reconstrução de Gaza, sem citar nomes. O presidente americano disse imaginar uma "bela área para reassentar pessoas permanentemente", onde poderiam viver com segurança, sem medo de violência.

"Gaza é uma garantia de que eles vão acabar morrendo. A mesma coisa vai acontecer de novo, de novo e de novo", declarou.

A proposta, no entanto, enfrenta resistência. Até agora, governos locais rejeitam categoricamente a ideia, que recebeu apoio de integrantes mais radicais da coalizão de Netanyahu.

Antes de definir o futuro de Gaza, Trump quer pressionar Netanyahu a se comprometer com a trégua, a qual afirma ser resultado de seu governo. No entanto, grande parte das negociações ocorreu sob seu antecessor, Joe Biden. Questionado sobre qual presidente deveria receber o maior crédito pelo acordo, respondeu que era ele.

"Acho que o presidente Trump adicionou grande força e liderança poderosa a esse esforço", disse Netanyahu. "Eu aprecio isso".

Netanyahu resiste a compromissos e mira Irã

Netanyahu, segundo fontes de seu governo, evita se comprometer com a segunda etapa do plano, que prevê o retorno de todos os reféns – vivos ou mortos – e a retirada total das forças israelenses de Gaza. Analistas afirmam que, se aceitar esses termos, sua coalizão pode se desmantelar, tornando sua saída do cargo apenas uma questão de tempo.

Na véspera da reunião, as negociações sobre essa etapa avançaram com um encontro entre Netanyahu e Wtikoff em Washington. A mudança de última hora parece indicar que Trump quer ter o controle das conversas, reduzindo a margem de manobra do premiê israelense.

"Os riscos são realmente altos para o primeiro-ministro, para ser claro", afirmou Thomas Nides, ex-embaixador dos EUA em Israel, ao New York Times. "O presidente Trump está segurando todas as cartas e está realmente claro que quer ver todos os reféns voltando para casa".

Apesar das divergências sobre o desfecho da guerra, Trump busca reforçar sua imagem de "amigo de Israel". Para isso, trabalha junto a líderes do Congresso, dominado pelos republicanos, para liberar um pacote de US$ 1 bilhão em armas para Israel, segundo o Wall Street Journal. O pedido inclui 4,7 mil bombas e escavadeiras usadas na demolição de estruturas na Faixa de Gaza. Além disso, há outro pacote de US$ 8 bilhões pendente de análise no Congresso, contendo mísseis, artilharia e equipamentos pesados.

A normalização com a Arábia Saudita e a ameaça iraniana

Outro fator central no conflito é a tentativa de Israel de normalizar relações com a Arábia Saudita, um movimento visto como essencial para Netanyahu e uma vitória diplomática histórica para Trump. No primeiro mandato, o presidente supervisionou a normalização entre Israel e países como Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Sudão. Agora, busca repetir o feito com os sauditas.

No entanto, Riad condiciona a normalização ao estabelecimento de um Estado palestino, um tema ainda longe de consenso dentro de Israel. Ao ser questionado sobre o assunto, Trump desconversou, afirmando que "todo mundo busca a paz".

Netanyahu também levou a Trump aquela que considera a maior ameaça existencial de Israel: o Irã. O premiê alertou que o país persa esteve à beira de uma guerra total com Israel no último ano, envolvendo ataques aéreos, mísseis e assassinatos políticos.

Segundo o New York Times, a inteligência americana detectou esforços de cientistas iranianos para acelerar o desenvolvimento de uma bomba nuclear. Em resposta, Trump assinou uma ordem retomando a política de "pressão máxima" sobre Teerã, endurecendo sanções econômicas contra as exportações de petróleo iranianas.

"Veremos se podemos ou não trabalhar em um acordo com o Irã, e talvez isso seja possível e talvez não seja", disse Trump ao assinar as medidas. "Não estou feliz ao fazê-lo, mas realmente não tenho muita escolha, porque temos que ser fortes e firmes".

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