O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, concede entrevista coletiva em Genebra, na Suíça (Denis Balibouse/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2014 às 22h17.
Nações Unidas - Em um mundo cada vez mais conturbado pelos protestos democráticos ou a favor de democracias mais autênticas, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, recomendou aos líderes mundiais "escutar atentamente" as "queixas" de seus povos.
"Vimos muitas queixas e protestos de muitos povos que saíram às ruas para expressar suas frustrações e aspirações", declarou Ban em entrevista exclusiva à Agência Efe nesta terça-feira por ocasião da viagem que inicia amanhã ao Brasil, para a Copa do Mundo, e à Bolívia, para a cúpula do G-77.
O secretário-geral da ONU ressaltou que se trata de uma situação que acontece atualmente no Brasil, mas também na Europa e "no mundo todo". Por isso, insistiu que os governantes "escutem atenta e cuidadosamente" as preocupações de seus cidadãos.
Ban atribuiu o fenômeno ao fato que o mundo está vendo "transformações muito rápidas", especialmente nas comunicações e na tecnologia, que fazem com que as expectativas dos povos de ter "uma governança mais transparente tenham se tornado muito mais intensas".
O secretário-geral, que também falou do que significa o Mundial para o Brasil e da importância do G-77, falou ainda sobre a guerra civil na Síria, o conflito na Ucrânia e o recente anúncio de abdicação do rei da Espanha.
Ban viajará na noite de quarta-feira para o Brasil, aonde chegará na quinta-feira para assistir à cerimônia de abertura da Copa.
O secretário-geral das Nações Unidas destacou que é "consciente" dos pontos criticados pelo povo brasileiro sobre a organização do torneio, e disse que lhe asseguraram que isso não influenciará "nos projetos para mudanças econômicas e sociais".
"O esporte é um evento muito importante que pode unir o povo, pode exercer um papel muito importante na paz e no desenvolvimento", acrescentou.
No entanto, Ban se mostrou diplomaticamente cauteloso sobre quem é seu favorito para ganhar o Mundial, pois "como secretário-geral da ONU, deveria ser neutro e imparcial", apesar de não ter deixado de reconhecer que "o coração se acelerará quando a Coreia do Sul jogar".
Ban destacou que se reunirá durante sua viagem com a presidente Dilma Rousseff, e com a chefe de Estado do Chile, Michelle Bachelet, com quem trabalhou ativamente durante o período desta última como diretora-executiva da ONU Mulheres.
Depois do Brasil, Ban se deslocará a Santa Cruz, na Bolívia, para participar da cúpula do Grupo dos 77 e a China, que reúne muitos países em desenvolvimento e não-alinhados, e que lembra seu 50º aniversário.
O secretário-geral louvou a "liderança" do presidente boliviano, Evo Morales, na organização da reunião, e destacou a importância do G77, pois sem "a participação ativa e o compromisso" desse grupo "seria difícil encontrar consenso em importantes questões sobre o desenvolvimento", salientou.
"A Bolívia é um dos países importantes da América Latina, cuja liderança é agora muito importante para o G77", afirmou Ban Ki-moon, destacando que a reunião de Santa Cruz chega em um momento-chave para dar forma à agenda de desenvolvimento pós-2015 e adotar antes do final do próximo ano um acordo global sobre o clima.
Sobre a Síria, disse que na próxima semana discutirá em Genebra com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Araby, os novos passos diplomáticos no conflito sírio, especialmente a seleção de um novo enviado especial internacional.
Ban afirmou que não quer que haja "uma longa vacância" nesse posto após a renúncia do diplomata argelino Lakhdar Brahimi, que o deixou em maio perante a falta de progressos nas negociações para pôr fim à guerra civil na Síria.
Em relação à Ucrânia, o secretário-geral se mostrou "esperançoso" pelas palavras do novo presidente desse país, Roman Poroshenko, durante sua recente posse, assim como por sua reunião com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
"Isso é o que estive pedindo a Putin e aos líderes da Ucrânia, que se reúnam e tratem de reduzir a tensão no país e discutam todas as questões de forma pacífica", comentou.
Ban Ki-moon também contou à Agência Efe que ligou para o rei Juan Carlos da Espanha assim que soube na semana passada de sua abdicação, para expressar sua "mais profunda admiração e respeito" e agradecer seu apoio às Nações Unidas.